13|Sally Rooney.

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"O reconhecimento também pareceu fazer parte da apresentação em si, a melhor parte, é a mais pura expressão do que eu estava tentando fazer, que era me transformar nesse tipo de pessoa: alguém digna de elogios, digna de amor

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"O reconhecimento também pareceu fazer parte da apresentação em si, a melhor parte, é a mais pura expressão do que eu estava tentando fazer, que era me transformar nesse tipo de pessoa: alguém digna de elogios, digna de amor."

Cécile estava sentada de maneira desajeitada dentro do carro, Charles tentava não se incomodar com o trânsito que fazia a viagem de cinquenta minutos acabar se tornando algo de duas horas. A escritora tentava formular alguma coisa para enviar ao seu editor do Times, não queria escrever algo que deixasse em tanta evidência o quão apaixonada ela estava.

Porém, desde o momento em que abriu seu iPad, apenas formulava textos melosos, falando sobre a mais pura forma de amor, gostava de deixar seus sentimentos fluírem, porém pela primeira vez na vida, estava com vergonha de viver algo cafona. Mesmo que gostasse do cafona, daqueles amores bregas, Cécile não queria que Charles percebesse isso e pela conversa que teve com ele na noite anterior, ele leria tudo e qualquer coisa que acabasse publicando.

— Suas costas não doem? — Charles indagou-a, olhando de relance para a loira.

— Aquele livro que você gosta foi feito desse jeito, sabia? Escrevia dentro do avião, no carro de alguém, fiz alguns capítulos dentro de um dos closets da Harriet, em carrinhos tuk tuk pela Índia, minha postura ruim é parte da criatividade — Cécile explicou, tinha um sorrisinho em seu rosto, o tipo que ela dava apenas para ele.

— Você escreveu 'O Ponto Fraco' pro Adam?

Ela pensou um pouco, desligou a tela do aparelho e guardou em sua bolsa, Charles fez uma curva sinuosa com perfeição, mas diferente de todas as outras, desta vez o moreno não virou o volante com a mão solta. Seus dedos pareciam meio brancos por apertarem o couro que revestia a direção, ele fez uma pergunta que não queria ouvir resposta.

A loirinha tinha uma resposta na ponta da língua, mas não queria dizer. Era estranho pisar em ovos com alguém, no início de seu relacionamento com o diretor, nunca teve que ser assim, ele não fazia perguntas e ela não entregava respostas, além disso, existia alguns assuntos que eles pareciam não querer abordar. Adam Spiegel e Brienne Leclerc.

— Bom, quando estava na China pensei um pouco sobre a ideia do livro, me abrir e falar sobre as minhas fraquezas nunca foi algo tão simples. Meus pais são incríveis, mas eles ainda são russos e nem sempre tive todos os meus sentimentos validados, quando cheguei em casa e ele não estava lá foi o pontapé que eu precisava para escrever. 

Cécile sempre achou que aquele era o seu melhor livro, mesmo que não se lembrasse de todas as coisas escritas ali, como explicou para Charles, aquilo era como um diário aberto. Escrevia sentada no chão dos aviões que pegava, algumas vezes no banheiro da balada, jogada na cama em dias que a depressão parecia consumir, nos lugares em que Harriet ficava para trabalhar e ela acabou indo junto.

Clássico| Charles Leclerc.Onde histórias criam vida. Descubra agora