"Ela queria poder viver um filme com ele, ser a garota que chega, consegue um espaço para ficar e acaba ali pra sempre, mas tinha plena noção de quem nem tudo era perfeito assim e que a vida dele era complicada demais. Exatamente como Bob e Charlott...
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"Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre."
Algumas obras são marcadas por trechos importantes, tal como Mrs Dalloway saindo para comprar suas próprias flores, Elio lendo a carta escrita por Oliver, mas a passagem favorita de Cécile veio do livro O Grande Gatsby.
Daisy Buchanan, uma das personagens centrais, diz algo que ficou por muito tempo morando na cabeça da escritora. Ela nem se lembrava da ordem certa das palavras, lembra-se apenas da série de fatores que culminou para aquele momento, Daisy era uma mulher livre, vivia uma vida incrível e tinha um amor. Do dia pra noite, seu amor precisou ir para guerra e assim ela se casou com um verdadeiro idiota, além de engravidar dele.
Cécile levava a frase dita por ela como um mantra, 'espero que ela seja uma grande tonta: é o melhor que uma garota pode ser nesse mundo, uma belíssima tonta'. A família de Cécile vem de gerações soviéticas, de ambos os lados. Alguns foram pintores, escritores, atores, musicistas, mas todos tinham algo em comum, eles eram tontos, a vida se torna mais simples quando você tenta levá-la sem muitas preocupações, era assim que eles viviam.
Infelizmente, Cece não era uma dessas.
Rhea e ela foram convidadas para o casamento do piloto, seria em uma casa de campo aos arredores de Mônaco, mais ou menos vinte minutos de carro. Cécile não queria ir, principalmente depois de Charles ignorá-la todos os dias que se encontravam no corredor ou no elevador. Ela não desejava se intrometer na relação do casal, muito pelo contrário, desejava que tudo acabasse bem, torcia para que ele estivesse pronto para fazê-la feliz.
Mas ali estavam elas, Rhea e Cécile sentadas na última fileira de cadeiras do casamento. A loirinha estava com um vestido vermelho, seu cabelo recém cortado — ela ficou uma hora na frente do espelho tentando acertar o tamanho certo —, além de estar com seu brinco favorito na orelha.
— Esse casamento não vai durar um mês — Rhea sussurrou no ouvido da amiga, eles estavam declamando seus votos.
— Você deseja isso ou espera que aconteça? — Cécile retrucou.
— Nenhuma das suas opções, eu tenho certeza. Não tem amor no olhar deles, é frio, quando conhecemos amor de verdade, sabemos reconhecer quando ele não é. Você sabe, só não quer admitir. Tenho pena deles.
— Ninguém segura um fardo maior do que pode carregar. Eles sabem das decisões que tomaram, deve ser por isso que nunca casamos, eu iria odiar ter duas solteiras falando mal das minhas escolhas.
— Foi por isso que nunca levou o Adam ao altar? Pelo medo do que as pessoas iriam pensar?
— Que gostaria de se casar com um idiota? As pessoas sempre conseguem enxergar essas coisas antes de nós mesmos, vou escrever um livro sobre isso.
— Claro que você vai — riu a morena.
Diferente de Cécile, Rhea Roy escrevia ficção científica. Uma autora extremamente respeitada no gênero, como George R. R. Martin, era boa em escrever dragões, ninfas e princesas, todavia, não conseguia fazer um final feliz sequer, é bem conhecida por isso. A morena colocou sua cabeça no ombro da amiga, elas definitivamente queriam sair dali logo.
