"Ela queria poder viver um filme com ele, ser a garota que chega, consegue um espaço para ficar e acaba ali pra sempre, mas tinha plena noção de quem nem tudo era perfeito assim e que a vida dele era complicada demais. Exatamente como Bob e Charlott...
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"A vida é todo um processo de demolição. Existem golpes que vêm de dentro, que só se sentem quando é demasiado tarde para fazer seja o que for, e é quando nos apercebemos definitivamente de que em certa medida nunca mais seremos os mesmos."
A vida fica em silêncio às vezes.
Pessoas ansiosas têm cabeças barulhentas, pensamentos conturbados, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e a única coisa que você deseja é ter uma pausa. Charles tentou muita coisa durante os anos, brown noise, meditação, respiração guiada, terapia, músicas altas no fone de ouvido, mas nada nunca funcionou.
A terapia ajuda um pouco, lidar com o fardo de estar sempre atrelado a dois abismos é complicado, um dia você conquista uma corrida e se torna dono do mundo, no outro erra uma curva que pode te fazer não sair do carro.
Uma pressão pesada demais que sem auxílio não tem como lidar. Além de ter uma mente inquieta, o moreno não dormia tão bem durante as corridas, a quinta-feira era sempre meio ruim, parecia um prelúdio de tudo o que iria acontecer, os pensamentos acelerados fomentaram o pior dentro de Charles.
Tudo começava a vir, o medo de perder, do carro ter um apagão, seu parceiro bater num muro, ele próprio bater em algo, uma série de coisas que poderiam acontecer, mas nem sempre seriam realidade.
Enquanto se preparava para entrar no carro, Charles tinha lembranças da noite anterior surgindo em seus olhos. O piloto estava colocando a balaclava quando abriu um sorriso, Cécile havia dormido consigo, os dois dividiram a suíte dele no Bellagio e havia sido incrível.
Ele se lembrava bem do cabelo dela — que aumentou um pouco de tamanho desde que a conheceu —, jogado pelo travesseiro, sua camisa ficou linda no corpo dela e os olhos dela sempre eram mais bonitos a noite.
"Nós, seres humanos, somos viajantes no tempo, o problema é que como não acontece da maneira que desejamos, acabamos por não perceber. Estamos em uma viagem constante, todavia, é sempre para o futuro, dependendo da maneira que escolhe enxergá-lo, estamos indo para um lugar que já existe ou apenas seguimos um caminho que traçamos."
Foram boas horas ouvindo-a falar sobre todos os assuntos possíveis. Cécile era uma ótima companhia, talvez por ter a mente tão acelerada quanto a dele, mas com certeza por ser interessante, ficaram sentados na cama por bastante tempo. A loirinha tinha um texto para entregar ao Times e ele ficou assistindo-a escrever, era engraçado como seu processo criativo poderia ser uma verdadeira bagunça e no fim acabaria se tornando uma obra magnífica de arte.
Não era um editorial simples como costumam ser, ela estava pontuando um aprendizado para cada ano de vida e os relacionando com livros que a marcaram. Cece citou O Grande Gatsby, Noites Brancas, Moby Dick, Pachinko e outros que despertaram uma verdadeira curiosidade em Charles, que nunca esteve muito próximo da leitura, mas no momento, parecia estar entrando fundo naquele universo.
