"Não havia ponte entre os mundos que os separavam. Haviam viajado para longe demais um do outro e não havia retorno. Não havia agora, nunca haveria"
Matilda e Cécile estavam tentando fazer uma colcha de crochê. Seria infinitamente mais fácil se a escritora russa fosse boa com trabalhos manuais. Elas estavam empenhadas nisso a um tempo considerável, quando chegaram de Abu Dhabi, a governanta decidiu que ensinaria-a a crochetar, enquanto Charles estava tentando passar mais tempo com seus irmãos e sua mãe, ele ainda não havia contado sobre Florença.
A escritora conheceu sua sogra antes da viagem acontecer, Pascale era bem diferente das matriarcas que ela estava acostumada a conviver. Mesmo que sua mãe fosse um ponto fora da curva, ainda era russa, a sogra era carinhosa, prestativa e muito atenciosa, uma leoa tentando proteger seus filhos. Ela acolheu Cécile de imediato, principalmente por perceber o quanto a garota arrancava sorrisos de seu filho, é impossível não perceber quando as coisas estão dando certo.
Todavia, a russa se esforçou para ser querida com a mulher. Pessoas fazem as coisas necessárias para conseguir o que desejam, ela sabia disso e fez o que precisava, foi simpática, esbanjou sorrisos e contou suas melhores histórias. Matilda riu bastante da maneira com que a garota escondeu seus dotes culinários que quase não existiam, além de fingir ser uma adoradora da vida pacata.
— Sua mãe nunca te ensinou a bordar, cozinhar ou limpar, como você não conta uma coisa dessas para a sua sogra? — Matilda dizia aquilo com um sorriso divertido nos lábios, era uma brincadeira recorrente o fato da escritora não ser boa em qualquer coisa que fugisse do âmbito intelectual.
— Bom, eu sei pintar panos de prato, passar roupa sem queimar e comprar peixe fresco. São coisas que mulheres precisam aprender, minha antiga sogra não sabia nada disso — Cécile deu de ombros e continuou focada na colcha colorida.
— Pelo visto, aquela querida não sabia nada sobre nada. Gostou dela? Esqueci de perguntar — indagou a mais velha.
— Gostei, ela parece ser aquele tipo de mulher gentil. Disse que agora sou parte da família, me considerando uma filha, uma grande gentileza, não é? Acha que ela gosta mesmo de mim? Ou apenas aceitou que Charles me ama?
Matilda não respondeu. Ela adorava passar seu tempo acompanhada da escritora, Cécile tinha algo nostálgico, como se jamais fosse envelhecer de verdade. Mesmo vivendo muita coisa, diversos lugares, cercada por pessoas, ela nunca envelhecia, seria jovem para sempre, com maturidade e alegria, a maior virtude que uma pessoa pode guardar para si mesma.
Sabalenka tinha um medo grande de envelhecer, perder a liberdade e o talento, são coisas importantes para qualquer pessoa que vive da arte. Envelhecer é doloroso, não é algo que alguém deseja, mas também não tem como controlar, apenas aceitar e tentar não levar muitas ideias ruins adiante.
Escrevendo, desenhando, pintando, em algum momento, o artista se perde de seu eixo, sua arte começa a perder a qualidade, o valor, o impressionante é que isso parece acompanhar sua idade. Bette Davis, uma das maiores estrelas de cinema da história, teve que colocar um anúncio de jornal pedindo que a convidasse para filmes quando se tornou velha demais para Hollywood.
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Clássico| Charles Leclerc.
Fanfic"Ela queria poder viver um filme com ele, ser a garota que chega, consegue um espaço para ficar e acaba ali pra sempre, mas tinha plena noção de quem nem tudo era perfeito assim e que a vida dele era complicada demais. Exatamente como Bob e Charlott...