05| Dolly Alderton.

760 76 37
                                    

"Escolher amar é correr riscos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Escolher amar é correr riscos."

"Amores efêmeros", por Cécile Raud.
The New York Times, Revista de domingo.

O que é o amor?

Lembro de algumas aulas de Filosofia em que meu professor fazia essa pergunta. Era engraçado porque nessa época nós nos mudamos para Florença, na Itália, minha mãe foi antes de nós, era uma oportunidade de trabalho, cuidar de uma galeria. Não sabia falar italiano, mas adorava as aulas de filosofia, no fim nunca consegui responder com certeza absoluta, acredito não ser a melhor abordagem para adentrar no ensino filosófico.

Bom, mas quem sou eu para afirmar algo, no fim, sou apenas uma escritora que trancou a Universidade de Cinema. Pelo menos na época lembro de ver meus colegas empolgados e pensando muito no que responder para o professor que era muito bonito, além de extremamente gentil.

A primeira vez que fui apta para o amor, aconteceu no meu aniversário de oito anos; era uma garota extremamente fofa e alegre, um pouco mais velha, cantava bossa nova, nem parecia uma criança. Sabia todas as letras do alfabeto russo e usava-o muito bem, afinal, cantava todas as palavras do Prince como se tivesse a idade dele. Uma pequena Ella Fitzgerald, a voz também era encantadora. Seu nome era Megan, lembro-me bem. Estávamos passando uma temporada em Viena, meu pai apresentava uma sinfonia no teatro principal.

Fiquei fascinada, queria ser sua amiga apenas para poder estar perto dela quando bem entendesse. Eu só tinha oito anos e já sabia o que amar poderia ser. Tenho uma leve inclinação à me apaixonar por pessoas impossíveis, meu professor de filosofia foi um desses, depois o garoto que eu sempre via brincando na Sunset Boulevard, quando moramos em Los Angeles, minha melhor amiga do sexto ano, a garota ruiva que eu sempre via no clube mas namorava um jogador de tênis.

Apenas pessoas que com certeza não poderiam ser minhas. Em algum momento isso começou a mudar dentro de mim. Quando percebi, estava distribuindo amor por todo o mundo, fazendo amigos e romances por diversos lugares, obviamente indo embora sem dizer o motivo — quiçá tinha um —, deixando corações partidos e egos feridos. Sempre fez parte de mim esse medo abrupto de me apaixonar.

Eu deveria ter um fetiche por fugir de relacionamentos, quase uma fobia disfarçada de afeição. Estranho, todavia, verdadeiro. É estranho receber quando adulta aquilo que não se teve quando criança. Diversos tipos de amor existem, sinto que consigo amar minhas amigas, meus pais, meu trabalho, só que ao mesmo tempo, sinto que meu coração está preso e fadado a nunca receber um relacionamento sério.

Por mais que eu tente oferecer ele para alguém, acredito que a pessoa não é digna de amor, até mesmo eu mesma. Mesmo que eu rode o planeta atrás da parte que falta dentro de mim, sinto que tudo vai dar errado, pode acabar não sendo eterno, mas é parte de tudo o que tenho vivido.

Clássico| Charles Leclerc.Onde histórias criam vida. Descubra agora