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Bárbara Passos

Eu estava numa ressaca fodida! Fechei
um camarote pra mim na noite passada,
paguei o combo das bebidas mais caras e
meti o pé na jaca. Não lembro de muita
coisa, só lembro de beber, dançar e beijar
muito na boca. Sei nem como eu cheguei
em casa, se não fosse a Tainá eu
poderia estar morta por ai uma hora
dessas.

Tenho essa mania de sempre descontar
na bebida ou no cigarro as minhas
frustrações e chateações. E querendo ou
não, isso é muito prejudicial à mim.

Me espreguicei e acabei batendo o braço
no rosto da Tainá que estava dormindo
feito pedra. De boca aberta, babando e
tudo mais. Mas eu achei estranho foi o
fato dela estar aqui, praticamente grudada
em mim, parecia que estava me
protegendo de alto. E me recordei de algo
que ela havia falado ontem; Não gosto de te ver assim, porque tenho medo de fazerem maldade contigo sem consciência novamente...

Entendi? Nāo! Até porque antes dessa
tormenta com o Weverton, eu nunca fui de
exagerar com o álcool, sempre fui muito
controlada. Então isso não faz sentido
nenhum.

Bárbara: Tainá, me solta. Tu tá me
deixando sem ar mulher. - Tentei tirar as
pernas dela de cima das minhas.

Ela abriu um olho só, me analisou bem e
depois me largou, virando pro outro lado
da cama. Suspirei aliviada, me levantei e
fui tomar um banho. Meu cabelo tava
fedendo a cigarro. Me olhei no espelho e
até levei um susto, meu pescoço estava
com uns roxos e minha bunda também.
Agora resta saber se foi da noitada, ou do
sexo violento..

***

Dei um gole longo no meu café forte e
totalmente sem açúcar. Nada melhor pra
curar a ressaca do que café, eu amo e
quanto mais forte, melhor!

- Oi, quem é você? - Uma menina passou
pela porta da cozinha. Ela tinha no
máximo uns dez anos e era uma gracinha,
linda demais.

Bárbara: Sou a Bárbara, mas pode me
chamar de Babi. E você, quem é? -
Caminhei até ela e à ajudei subir nas
cadeiras altas.

- Meu nome é Maria Luíza, mas prefiro que
me chamem de Malu. - Deu um sorriso e
mexeu nos seus cabelos cacheados. -
Babi, você viu meu papai?

Bárbara: Quem é seu pai? - Arqueei as
sobrancelhas, ela tinha mesmo a
semelhança com alguém, só não sei
quem.

Malu: O Victor, aquele cara alto e bem
bonito, ele sempre fala que a minha beleza
é dele.

Fiquei até sem reação. Nunca nem
imaginei que o Coringa fosse pai, pelo
pouco tempo que estou aqui, nunca nem vi ele com ela. Então isso quer dizer que
ele é casado? Puta que pariu!

Bárbara: Seu papai não tá aqui.. - Assoprei
meu café e tomei, desceu queimando
minha garganta - Quer comer alguma
coisa? - Não sabia como ser legal com
uma criança.

Malu: Não Babi, já tomei café. - Ficou se
girando na cadeira e eu faltei morrer de
medo dela acabar caindo e se machucar. -Voce é a namorada do meu papai? Até que
enfim, não aguento mais ver ele com
tantas mulheres por aí,
são todas interesseiras, você não é né?

Ela dizia tudo na maior inocência.

Interesseira, eu? Nunca fui, graças a Deus
eu tenho a capacidade de me bancar
sozinha e me dar tudo sem precisar de
macho nenhum pra jogar na minha
depois. Deus que me livre.

Bárbara: Sou namorada do seu pai não, ele
só está me fazendo um favor por um
tempo! - Ri e ele passou pela porta.

Sua expressão não era nada boa, parecia
estar com muita raiva de algo. Primeiro ele
olhou feio pra mim e depois olhou pra
Malu. Aparentemente ele não gostou nada
da menina estar aqui comigo.

Victor: Tá fazendo o que aqui pirralha?
Beijou a cabeça dela com carinho. Era até
estranho ver ele sendo humano com
alguém.

Malu: Ué papai, aqui é sua casa e eu tava
com saudades. - Abraçou ele.

Os dois começaram a conversar e fiquei
até admirada em como os dois se davam
bem. Era bem bonita a relação deles de
pai e filha. Mas o que me irritou, foi as
merdas que ele fica colocando na cabeça
dele, papo que pode deixar a menina
muito deslumbrada no futuro.

Bárbara: Porque eu tenho a sensação que
você vai morrer antes do trinta? - Falei pra
ele quando a Malu saiu correndo pra sala.

Victor: Porque é capaz disso acontecer
mermo, olha a vida que eu levo. - Deu um
risada sem ânimo e pegou minha xícara,
dando um gole no café. - Mas quero morrer novo não pô, tenho umas metas
ainda com a minha filha.

Bárbara: E você se orgulha disso? Tu
deveria incentivar ela a ter um futuro
digno, não nesse mundo do crime.

Victor: E quando eu morrer, meu império
vai ficar com quem Passos? Não vou
deixar nas mãos de qualquer um não, ela é
minha herdeira e tu já viu como ela é
ambiciosa? Porra, minha cria é foda!

Neguei com a cabeça, qualquer pai em sã
consciência ia incentivar os filhos a seremn
honestos e fugirem dessa vida. Porque
nós sabemos bem como funciona, e ele
mais do que ninguém, sabe como é esse
mundo no crime.

Victor: Tô encostando já.. - Falou no
radinho, aparentemente o BOPE estava
invadindo uma das favelas dele. - Cuida da
minha filha, Passos! É bagulho rápido.

Ele não me deu nem tempo de responder,
só saiu às pressas e ouvi ele se
despedindo da Malu. Suspirei e continuei
tomando café, pelo menos ela era uma
criança bem madura pra idade e não ficava perturbando igual outras.

Minutos depois, na verdade horas, meu
celular começou a tocar e pelo
identificador de chamadas, era número de
delegacia. Revirei os olhos e atendi sem
paciência nenhuma.. Só fiquei surpresa ao
ouvir a voz dele..

- Preciso da tua ajuda doutora.. Alguém
me denunciou nessa porra e eu fui pego!
Só tenho direito a uma ligação, tô te
esperando aqui. - Falou com raiva e eu
desliguei a ligação.

Não me faltava mais nada mesmo, mas
era trabalho e isso eu não vou recusar.
Mas porra...

***


Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora