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Tainá Passos

Ia tentar uma única tentativa pra ajudar a minha irmã, não havia muito o que eu pudesse fazer. Mas nem que eu morra lutando, vou sempre procurar algum jeito de ajudá-la a sair dessa, queria retribuir metade do que ela já fez por mim. Nem que eu precise botar minha vida em jogo, é sempre uma pela outra.

Olhei pra tatuagem que havíamos feito juntas e sorri, ela era lindo e muito representativa.

Ia arriscar agora, já fazia um tempo que eu queria trocar um papo com o Coringa mas o Lucas Felipe nunca deixou, segundo ele, eu iria estar me arriscando atoa e não ia resolver nada.

Dei ouvidos? Não. E nesse momento eu estou descendo o morro pra poder ir conversar com o Coringa, com medo, mas tô indo. Revirei os olhos e respirei fundo ao ouvir as piadinhas de alguns machos, me senti até desconfortável por estar com uma roupa mostrando o corpo. Nojentos.

Parei na frente da tal boca de fumo e dois soldados pararam na minha frente, apertando seus fuzis e me encarando feio. Estufei o peito pra não parecer tão medrosa e encarei eles também.

Tainá: O chefe de vocês tá? - Perguntei e um deles concordou, sem muita graça. - Pede pra ele vim aqui fora, é coisa rápida.

O mais mal encarado bufou e pegou seu radinho de cintura, se afastando de nós. Ele ficou alguns minutos falando com alguém e voltou com a mesma cara amarrada de antes.

- Chefe tá esperando tu. - Abriu a porta e me deu passagem pra entrar. Acenei pra ele de uma forma educada e ele só me ignorou, voltando a fechar a porta.

O cheiro de droga era fortíssima nesse lugar e fiquei até enjoado. Não era um ambiente muito agradável, alguns moleques de no máximo cartoze anos passavam por mim, carregando mochilas e recebendo ordens pesadas. Eles tinham umas metas, vender tudo em um dia, ou não iam receber miséria nenhuma. Os meninos só obedeciam né, qual opção eles tem? Triste.

Continuei andando até chegar aonde o Coringa estava, contando várias notas de cem e anotando algo no caderno. Se aqui tem cem mil reais, ainda é pouco.

Victor: Qual foi? - Disse sem me encarar, só continuou contando seu dinheiro. - Fala rápido, não tô com paciência pra drama teu e da sua irmã.

Tainá: Eu vim aqui numa boa, sério, não quero arrumar confusão com ninguém. - Me aproximei em uma distância segura.

Ele me encarou com cara de poucos amigos e só acenou pra eu falar.

Tainá: Eu sei que você não me deve nada, e não é obrigado a fazer nada que eu peça, mas eu só queria pedir pra você pegar mais leve com a Bárbara. Poxa, a menina tá trancada naquela casa à dias com a mão toda estourada, sentindo dor e eu nem posso ajudar ela por conta do Pitbull.

Victor: Posso fazer nada, ela procurou e achou, teve sorte que não fiz pior. - Disse sem delongas.

Era horrível conversar com alguém que mal olha no teu olho, a frieza dele era horrível. Não tinha como manter um diálogo normal, porém, eu ia tentar ao máximo.

Tainá: Cara, tu tem uma filha. - Falei e ele já mudou a expressão - Pensa nela agora, sofrendo as mesmas coisas que você está fazendo com a Bárbara. Você ia curtir?

Victor: Tainá, deixa eu falar um bagulho. - Se levantou e andou com raiva até mim, porém não me encostou um dedo. - Entenda que tu e sua irmã não estão em uma colônia de férias, erradas foram vocês que acharam que eu seria o príncipe encantado que foi salvar as princesinhas. Pô, eu sou bandido e essa é a minha vida, eu não posso ficar vacilando. Não sou assim só com ela, sou assim com todos que fazem alguma merda! Se fizer as coisas certas, eu não faço nada, simples.

Suspirei pesadamente, não faço ideia de como fazer isso funcionar. A Bárbara não vai abaixar a cabeça pra ele, e sei que ela não deve abaixar. Mas as vezes eu queria que abaixasse, se isso fosse manter ela em segurança.

Victor: Aqui é outro mundo parceira, o crime é isso e eu preciso ser assim. - Deu meio sorriso. - Posso te dar um conselho? Sei que tu é uma mina gente boa, meu parceiro não escolheria atoa... - Só assenti pra ele falar. - Se afasta disso aê, porque uma hora ou outra, essa marra da sua irmã, pode acabar fudendo contigo.

Tainá: Eu nunca deixaria ela! - Enfatizei com toda certeza do mundo. - Posso pelo menos ver ela e ajudá-la com a mão? Por favor, eu consigo sentir a dor que ela está sentindo... - Uma lágrima saiu do meu olho.

Nós viemos juntas ao mundo e se for necessário, vamos embora dele juntas também!

Victor: Vou ver o que posso fazer. - Virou as costas e voltou a contar seu dinheiro. - Pode vazar!

Sai dali frustada, não havia conseguido nada que ajudasse a Bárbara. A única coisa que poderia ajudar ela nesse momento, são as fotos que o W7 tem, se ele não se comover com aquilo, significa realmente que ele não tem compaixão alguma para o próximo. E no fundo, eu sinto que ele não é tudo isso que transparece ser... Deve ter um coração ali, não é possível...

***

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora