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Bárbara Passos

A última coisa que eu queria nesse momento era ficar presa em uma boca de fumo com quinze homens ao meu redor e todos com o dobro do meu tamanho e o dobro da minha força. A única coisa que eu queria, era me trancar no meu quarto e ficar longe de tudo e todos.

O Coringa estava gritando com todos os homens presentes na sala, ele era extremamente arrogante e autoritário. Quando alguém tentava falar pra expor outra opinão, ele cortava e mandava calar a boca como se fosse um deus, e todos se calavam e abaixavam a cabeça pra ele. Que patético.

Nunca me prestaria a esse papel. Acho que por esse motivo ele me odeia tanto e eu tô cagando e andando pra isso.

Eu nem conseguia prestar à atenção em nada que eles discutiam, eu estava com medo. Tive que controlar minha respiração pra não acabar surtando e consequentemente acabar desencadeando uma crise de ansiedade.

Fiquei só observando tudo ao meu redor. Essa boca de fumo era diferente da outra que eu havia ido outra vez. Não tinha nenhuma criança carregando droga pra todo canto e nem armas lasgadas em todo lugar possível.

Victor: Que estresse da porra. - Disse com o tom alto e eu despertei do meu transe. Olhei ao redor e todos já haviam ido embora - E ainda tem o bagulho da minha cria pra resolver, puta que pariu. - Passou a mão no rosto, sem paciência.

Bárbara: Eu já disse que resolvo isso, mas tu é teimoso e prefere fazer merda.

Victor: Doutora, fica na tua. - Me encarou sério e eu revirei os olhos. - Com racista não tem conversa não, a conversa é com a ponta do meu fuzil.

Não vou mais interferir em porra nenhuma, a filha é dele e ele sabe o que faz. Porém não vou deixar ele ferrar com a vida dela.

Bárbara: Foi o Weverton? - Perguntei um pouco receosa. E se tiver sido ele? Quero nem pensar no que isso pode resultar...

Victor: Teu ex marido? - Deu risada e uma leve ênfase no "ex". - Não, aquele ali não tem peito e nem perna pra isso. E ele é fraco pô, só consegue peitar se for atrás de uma facção. Arruma nada!

Bárbara: E então? - Arqueei as sobranselhas, à espera de uma resposta. Afinal naquele corpo esquartejado estava o meu nome escrito no braço decepado do homem.

Victor: Não foi ninguém de fora doutora, é quase impossível alemão invadir aqui fácil assim. Essa parada foi de gente daqui! - Bufou. - Algum arrombado deve tá ajudando eles a mandar recado.

Bárbara: Meu Deus... - Botei a mão no peito. - E o que você vai fazer? - Encarei ele.

Victor: Não queira saber. - Disse e eu continuei encarando ele, queria saber. - Vou cobrar os manos que fica na segurança, se ninguém abrir a boca pra nada, é só um de calibre doze na cara.

Bárbara: Como assim? E se eles realmente não souberem? Tu não pode sair matando as pessoas assim Coringa. É injusto demais. - Eu estava indignada com a frieza dele.

Victor: Você gosta de se meter em bagulho que não te interessa né? Eu posso matar sim, e vou! - Ele estava falando sério mesmo e se aproximou de mim.

Bárbara: Fica aí... - Estendi a mão pra mantê-lo afastado de mim. - Por favor cara, não chega perto só isso que eu te peço. - Respirei fundo.

Victor: Qual foi maluca? - Franziu a testa - Alguém da minha favela fez alguma coisa contigo? Tu sabe que pode falar pô. Infelizmente eu dei minha palavra de homem que ia protejer você e tua irmã. - Fez careta.

Bárbara: Ninguém me fez nada, só não chega perto e nem encosta em mim. - Não havia percebido, mas eu estava quase chorando e minha respiração tava muito acelerada.

Victor: Relaxa caralho, não vou encostar em tu não. - Colocou os dois braços pra trás. - Agora me conta o que rolou contigo, isso não é normal não. E eu fiquei sabendo que tu surtou com os vapor lá.

Bárbara: Se eu te falar, tu vai querer usar isso contra mim também. - Olhei pro chão, assustada.

Eu estava decidida a não contar nada do que aconteceu comigo pra ele. Porque eu sabia que não podia confiar nele, qualquer coisinha mínima que ele souber, vai querer usar contra a minha pessoa igual com o caso do Luiz de Souza.

Mas também me lembrei das suas palavras para mim à um tempo atrás; E ah, eu vou dar um jeito de tirar os detetives da tua cola. Tu não merece pagar só porque se defendeu de um estrupador de merda.

Será que ele ia ser capaz de usar um caso tão sério como esses pra foder comigo futuramente? Sinceramente, eu não sei. Mas depois de pensar muito, eu decidi contar. É aquilo, pior que está não pode ficar... Eu acho né.

Bárbara: Então... - Comecei a falar, mas parei quando o vidro que havia ali perto de nós foi todo estilhaçado.

Logo após o vidro se quebra inteiro, um som altíssimo de tiro foi disparado. A bala atravessou o ombro do Coringa e passou de raspão no meu braço, o suficiente pra me machucar...

***

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora