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Bárbara Passos

Era tanta dor, que já estava se espalhando pro meu corpo inteiro. Eu não conseguia fazer mais nada, meu corpo estava fraco, minha mão machucada estava dormente e eu estava ardendo em febre. E simplesmente não tinha ninguém aqui pra me ajudar, eu estava sozinha e provavelmente iria morrer com alguma inflamação.

Fiquei encolhida no sofá, só agonizando, sentindo minha mão latejar... Se eu demorasse mais um tempo à ir pro hospital, com certeza eles iriam que emputar a mão.

A porta foi aberta e eu não tive nem forças pra ver quem era, na verdade eu nem queria saber quem passou pela porta. Sabia bem quem poderia ser, e eu não queria ter que olhar pra cara dele nunca mais na minha vida... Homen nojento, estúpido!

E era ele mesmo que estava parado na minha frente, com a mesma cara amarrada de sempre e uma mochila nas mãos.

Bárbara: Sai daqui, por favor... - Pedi quase sem voz, a dor não me permitia ter reação nenhuma.

Ele não me respondeu, só agarrou meu braço com força e fez uma careta ao ver minha mão toda machucada. Tentei puxar o meu braço, mas ele continuou segurando com força.

Victor: Toma. - Estendeu um comprimido vermelho pra mim.

Bárbara: Não quero nada que venha de você, prefiro morrer de dor. - Esbarrei no braço dele, jogando o comprimido longe.

Ele deu risada, negando com a cabeça e pegou o comprimido do chão. Quando eu menos esperava ele segurou minha bochecha e praticamente me obrigou à abrir a boca. Não tive outra opção quando ele colocou o comprimido na minha boca e tapou ela com a palma da mão, me impossibilitando de cuspir na cara dele.

Victor: Engole, ou eu vou enfiar o dedo na tua garganta e te forçar a engolir. Mina teimosa do caralho, se foder! - Continuou com a mão na minha boca.

Encarei ele com todo o ódio possível e engoli esse comprimido enorme no seco. Até machucou um pouco da minha garganta, quase acabei regurgitando tudo na cara dele. É o que ele merecia!

Ele sorriu satisfeito e vitorioso, depois pegou um vidro de álcool antisséptico na mochila. Escondi a minha mão e virei a cara, esse cara não vai encostar a mão em mim, não quero ajuda pra depois ele jogar tudo na minha cara. Não quero nada dele, além de distância, muita distância.

Victor: Me dá a mão porra. - Tomei um susto quando ele gritou bem alto comigo. Continuei irredutível. - Depois não reclama doutora. - Puxei meu braço novamente e eu tentei puxa-lo outra vez.

Gritei de dor quando ele jogou o álcool todo na minha mão, tive que morder o meu próprio lábio pra conseguir conter a dor e ardência. Parecia que ele estava arrancando a minha alma.

Bárbara: Tu tá me torturando? Caralho, eu não quero a sua ajuda me deixa em paz! - Chorei, só que de dor e raiva.

Victor: Cala a boca caralho, sua voz tá me irritando! - Continuou gritando - Achei que tu fosse mais mulher, que fosse a braba. Agora aguenta calada, que eu tô te ajudando.

Juntei saliva na boca e por um instante eu pensei em cuspir tudo na cara dele. Mas me contive, era melhor ele cuidar da minha mão do jeito dele, do que ficar sofrendo com a dor e correndo o risco de ter que sofrer uma amputação.

Ele pegou uma espécie de pinça e ficou retirando algumas peles mortas do meu machucado, não falei nada, só gritava quando ele acabava me machucando, o que era inevitável.

Bárbara: Aonde você aprendeu isso? - Perguntei, ele tinha muita habilidade com isso.

Victor: Além de tudo, é burra. - Bufou - Eu vivo em confronto Passos, vivo tomando tiro por aí e tive que aprender na marra a me virar com esses bagulhos, ou eu morria sangrando com uma bala alojada no corpo.

Nem dei bola pra ele, não queria papo, só perguntei porque estava curiosa mesmo. Fiquei observando seus movimentos com a pinça na minha mão, até ela estar toda limpa, porém a dor ainda era enorme. O remédio não estava fazendo efeito nenhum.

Victor: Não tô fazendo isso porque quero te ajudar, não fica achando que as coisas mudaram. Daqui uns dias eu vou precisar de você pra uns bagulhos.

Bárbara: Você é ridículo, queria que nunca mais chegasse perto de mim. Tu não vai me controlar. - Olhei com desprezo pra ele.

Eu me arrependia tanto de ter transado com ele, não dá transa porque foi perfeita, mas mas sim de ter sido com esse homem. Me sentia até suja por ter deixado ele tocar em mim daquela forma. Um ser tão desprezível desses.

Victor: Eu já te controlo e tu nem sabe. Errada foi você de achar que seria diferente, você é advogada, sabe que bandidos não são bonzinhos. Sinto te avisar doutora, mas a vida não é colorida. - Enrolou uma gaze na minha mão.

Bárbara: Eu sei que vocês são capazes de fazer, mas o problema é que eu sempre espero o melhor das pessoas, por piores que elas sejam. - Dei um sorriso amargo, esse era meu pior defeito.

Victor: Esse é teu mal, mas tu vai aprender as coisas, boto fé. Não quero ter que te machucar de novo, porque amanhã se pá vai ter operação, e se tu tentar entrar em contato com teu amigo da PM, eu faço questão de botar teu irmão na barreira. Imagina ele sem experiência, batendo de frente com o blindado dos caras? Vai virar estatística.

Segurei minhas lágrimas e ele só deu risada, passando a faixa ao redor da minha mão. Não queria que meu irmão virasse apenas uma estatística para o estado e pra mídia. Ele iria morrer sem ter o direito a velório digno, ia morrer sendo odiado pela população de "bem".

"Bandido bom, é bandido morto." Eu tenho tanto nojo dessa frase, e saber que mais da metade da população concorda com essa merda, é o pior.

Cidadãos de bem né. Direitistas, os donos da moral e dos bons costumes. Uma piada né, das piores.

Victor: E ah, eu vou dar um jeito de tirar os detetives da tua cola. Tu não merece pagar só porque se defendeu de um estrupador de merda. - Guardou suas coisas, e saiu sem dizer mais nada.

Como ele descobriu isso? A Tainá eu tenho certeza que não falou e ela era a única que sabia, depois do Weverton é claro.

Depois de quase duas horas o meu celular tocou e era o presidente da OAB, me liberando aos meus serviços novamente. Segundo ele, não tinha nenhum ponto solto no caso do Luiz de Souza e provaram que eu não tinha envolvimento nenhum no assassinato dele.

***

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora