Bárbara Passos
Paraisópolis, São Paulo.
Cheguei em casa, larguei minha bolsa e minha chave do carro na mesinha de centro e tirei meu salto alto, o deixando largado pela sala. O som alto do baile funk rolando lá fora era contagiante, mas ao mesmo tempo eu queria matar todo mundo por estar fazendo tanto barulho. Depois de uma audiência de quese sete horas, a única coisa que eu queria era um bom banho de banheira, a minha cama e muito silêncio. Tô morta!
Peguei meu salto do chão e subi para meu quarto devagar, meus pés estavam doloridos. Entrei no quarto e o Weverton estava se arrumando de frente pro espelho, todo trajado de Oakley e uma camiseta do Corinthians.
W7: Eai gatona, tudo bom? - Disse sem me encarar, só continuou ajeitando o cabelo.
Bárbara: Tudo ótimo, só estou cansada. Hoje foi uma audiência complicada, mas o juiz concedeu o alvará do meu cliente. - Sentei na cama e tirei a minha cinta liga.
W7: Tu é foda, depois deixa os papéis dos seus clientes nos meus bagulhos. Já é de uma cota que tô pra ver, posso ficar moscando não.
Revirei os olhos e só concordei. Ele sempre controlava tudo, eu só podia advogar para os clientes que ele permitia. Ou caso contrário...
Bárbara: Aonde você vai? - Me levantei e peguei a minha toalha no closet - Você disse que ia me levar naquele restaurante legal hoje. Faz tanto tempo que não saímos pra algum lugar. Sinto falta!
W7: Eu ia, mas tu chegou mó tarde. Os manos me chamaram pra encostar lá no baile, vou ir lá dar um giro e volto logo. - Colocou suas correntes - Amanhã se pá eu te levo em algum lugar, pode ser?
Bárbara: Promessas, já estou cansada disso. - Suspirei frustada - Segunda vez essa semana que você vai pro baile sozinho, queria ir contigo.
W7: Melhor não, fica em casa, tu trabalhou o dia inteiro moreninha, descansa ai. - Se aproximou de mim e beijou minha testa - Tô indo lá, pede alguma coisa pra tu comer.
Acenti sem ânimo e ele saiu na maior animação do mundo. Olhei para nossa cômoda e neguei com a cabeça ao ver a sua aliança ali jogada. Ele sempre fazia isso quando saia sozinho, lá fora ele se comporta como um homem solteiro.
E aí vocês se perguntam porque eu estou com esse cara ainda, bom vamos lá...
Deixa eu contar a história complicada da minha vida, nunca nada foi fácil para mim. Nasci e cresci em uma cidade bem pequena no interior do Pernambuco. Vim de uma família bem humilde de nove irmãos, onde sete são homens. Eu e a Tainá somos gêmeas bivitelinos e as caçulas. Minha mãe criou os nove filhos sozinhos e com muita luta, já que nosso pai era um cachaceiro fodido que à abandonou sozinha com sete filhos e outras duas na barriga.
Desde então nossa vida nunca foi fácil, nunca nada veio de graça pra nós. Já passamos fome, já dependemos de doações de moradores da nossa cidadezinha. A única coisa que tinhamos, era uma casa caindo aos pedaços para nos abrigar.
Sempre trabalhei muito para ajudar a minha mãe, assim como todos os meus irmãos. Era difícil, mas nós sempre estávamos na luta pra conseguir poucas migalhas. E com catorze anos decidi seguir a minha vida, meu sonho sempre foi ser advogada e como minha mãe não tinha condições de me pagar uma faculdade eu vim pra São Paulo junto com a Tainá para tentarmos uma vida melhor.
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Coração Bandido
FanfictionPlágio é Crime! Eu posso fazer tudo, ser melhor do que na última vez e fazer bem melhor do que seu ex um dia te fez... "Mente criminosa, coração bandido. Não posso fugir desse meu instinto".