Capítulo 20

59 3 0
                                    

Ao horizonte, um pequeno navio, parado, esperando e procurando por almas vivas, que apesar de estarem desaparecidas naquele momento, apareciam de uma a uma, onde por meio de um punhado, podia se encontrar outras, que se aproximavam vagamente pelas ondas do oceano. Os 700 sobreviventes nos botes, tiveram que esperar calmamente o dia começar a clarear, onde logo uma aquarela na linha do horizonte se forma, trazendo a esperança e a alegria aos sobreviventes, que se encontravam molhados, aflitos e cansados. Muitos já haviam perdido a batalha para a morte, que na calada da escuridão, buscou aqueles que se encontravam na água e alguns ocupantes do bote A, onde dos 30 a bordo, apenas 12 sobreviveram a bordo, pois muitos haviam morrido dentro do bote e outros, caiam de volta para o mar. Às 04h05, no outro lado de um vasto campo de gelo, a tripulação do Californian vê um vapor na região em que, no começo da noite, observou o navio iluminado. O navio Carpathia também já é visto pelos náufragos, inclusive os do bote desmontável B, a grande distância. Um oficial do Carpathia, na proa, percebe no mar uma luz verde. São os foguetes do quarto oficial Boxhall no bote 2. O bote se aproxima vagarosamente. Começa a clarear o dia. Para facilitar o resgate, o Carpathia começa a se mover, mas Boxhall grita para o capitão Rostron, no navio, de que não sabiam manobrar o bote o suficiente e que eles não tinham um marinheiro experiente. Rostron assente e ordena que os motores sejam parados. Assim se fez.

Às 04h12, o navio manobra para facilitar e o bote 2 encosta abaixo da porta de embarque de estibordo. Traz várias crianças. São arriadas escadas e trabalho de resgate é lento, laborioso, dificultado pelos náufragos: alguns em pranto convulso, outros em estado de choque ou de histeria, além daqueles que se movem com estranhas pausas, calados, sombrios. O bote vazio é pendurado no costado. Em seguida virão os outros, que se distribuem numa área de aproximadamente 8km². 04h18min, do La Provence para o Celtic: "Há mais de duas horas ninguém ouve o Titanic". 04h30min, o Mount Temple tenta avançar e se imobiliza diante do mesmo campo de gelo que bloqueou o Californian. 10 minutos depois, um segundo bote, o bote 1, é recolhido pelo Carpathia, seguido pelo bote 5 e, em seguida, o 13, que chegam às 04h45, com intervalos variáveis e em horários imprecisos, vão chegando os demais. 04h50min, o Mount Temple continua parado no meio do gelo. O Birma e Frankfurt trocam mensagens. 05h00, o mar começa a ficar agitado, dificultando os ocupantes no desmontável B, que vez ou outra, são atormentados pela saída do ar no bote que balançava sob as ondas. 

Às 05h10min, o Californian liga seus motores para deixar o campo de gelo. O lugar está cercado de grandes icebergs, esplendoroso panorama a contrastar com a magnitude da tragédia, dependendo da direção em que lhes bate o sol nascente, suas cores mudam, são brancos, azuis e em tons que oscilam entre violeta e cinza-escuro. Move-se também o Mount Temple. Recolhido o bote 7. 05h14min, o Birma avisa que se encontra a pouco mais de 50km do Titanic. Poucos minutos depois, o RMS Celtic tenta enviar mensagem ao Titanic através do Caronia, que responde: "não há contato". Às 5h30min, no Californian, o chefe dos oficiais Stewart desperta o telegrafista Evans e, comentando que um navio lançou foguetes durante a noite, aconselha-o a ligar o aparelho. Ele o faz com uma chamada geral, que de imediato é respondida pelo Frankfurt, que reporta que o Titanic naufragou. Evans, nervoso, pede a posição do Titanic. No desmontável B, Lightoller sopra seu apito e chama a atenção dos botes amarrados, o desmontável D - rebocado pelo 14 de Lowe, pois está fazendo água - e os botes 4, 10 e 12, a 800m de distância. Lowe ordena que o 04 e o 12 voltem e recolham os sobreviventes. Antes do amanhecer, o 12 estará sobrecarregado com 70 pessoas transferidas de outros botes. No bote A, sem as bordas e com o fundo sob a superfície, os náufragos, eretos - entre eles uma mulher, têm o mar nos joelhos. O bote vai afundar a qualquer momento e Lowe parte em seu socorro e, antes da abordagem, dispara quatro tiros de alerta: ninguém deve se precipitar sobre o 14, sob pena de emborcá-lo. Alguns passageiros observam três corpos a bordo e um dos tripulantes aproxima-se do oficial Lowe, na popa do bote 14, onde este os observam.

O Desastre do TitanicOnde histórias criam vida. Descubra agora