Capítulo 13

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Faltava pouco para as 22 h da noite do dia 14 de abril. A temperatura já se encontrava muito abaixo de 0,8 °C, enquanto o Titanic cruzava majestosamente o oceano sob a companhia de placas de gelo e alguns icebergs que flutuavam ao longe. Às 22h00min, as luzes na terceira classe estão sendo apagadas e a festa que ocorria está encerrando-se. Enquanto isso, a alguns metros à frente da popa, no comando da ponte de comando, o oficial Lightoller é substituído por Murdoch e lhe transmite o curso e a velocidade. Conversam sobre a possibilidade de encontrar gelo e concluem que talvez isso aconteça dentro de mais ou menos uma hora. Boxhall diz a Moody que tome seu lugar na sala de navegação. Antes de se recolher, inspeciona alguns conveses. No timão, Oliver é substituído por Robert Hichens. No cesto da gávea, Frederick Fleet e Reginald Lee são avisados da provável ocorrência de gelo. Eles não dispõem de nenhuma proteção para o rosto e continuam sem binóculo. Há outros três a bordo, dois para os oficiais na sala de navegação e um terceiro para os práticos dos portos, todos esses trancados e ninguém cogita de tentar abrir o cofre e ceder um dos binóculos aos vigias. Enquanto isso corre, ocorre um estranho silêncio na ponte de comando, enquanto eles observam as estrelas nitidamente no horizonte.

— O navio está andando muito bem! — Comentou Murdoch, tentando fazer a sua visão se acostumar com a escuridão da ponte. — Creio que Ismay já está imaginando as manchetes no dia seguinte sobre a chegada!

Lightoller sorriu.

— Ismay é antiquado!

Murdoch sorriu. Até que passos foram ouvidos. O segundo oficial assustou-se com os passos e quando olhou para trás, avistou o sexto oficial Moody.

— Tome cuidado com o que diz, Sr. Lightoller! — Moody brincou, aproximando-se dele. — Ou, se não, estará no olho da rua em Nova Iorque!

Lightoller sorriu.

— Eu vou me retirar... — Avisou o segundo oficial, andando em direção à saída da ponte. — Boa noite a todos!

— Boa noite!

Após o oficial sair dali, houve outro silêncio, até que o quarto oficial Boxhall adentrou no local.

— Os vigias solicitaram os binóculos... — disse o quarto oficial, chamando a atenção dos dois oficiais. — Por acaso, os senhores sabem onde eles estão?

— Infelizmente, estão trancados na sala de mapas, a chave ficou em Southampton com Blair e ele esqueceu de nos entregar! — Respondeu o primeiro oficial, andando calmamente para o lado estibordo do navio e não tirando os olhos da proa. — Mas, assim que chegarmos a Nova Iorque, compraremos seis pares!

— Certo! — Respondeu o quarto oficial. — Eu vou fazer a minha ronda, com licença!

— Boa noite!

O quarto oficial deixou a ponte e rumou em direção ao convés dos botes no lado estibordo, deixando os dois oficiais sozinhos na ponte.

⊱✠⊰

Alguns conveses abaixo da ponte, exatamente no convés C da primeira classe, uma triste moça caminha calmamente pelos corredores desertos. Cabisbaixa e com o semblante de desânimo, ela está totalmente arrependida do que fez, pois estava tentando viver a vida que os outros lhe deram para interpretá-la. Ela queria que tudo aquilo acabasse logo e que a mesma pudesse viver em paz, mas o navio ainda estava no meio do Atlântico e ainda na metade do caminho, e faltava um pouco mais para chegar a Nova Iorque. Então, ela teria que carregar aquela culpa imensa nas suas costas durante toda a viagem e teria que se casar forçadamente com um homem que não conhecia direito e nem o amava. Ela sentia-se uma fracassada, uma idiota por fazer tudo aquilo mais cedo. Tanto que tentou reverter tudo, mas não conseguiu. Logo, os olhos dela começaram a chorar e tanto, que quando ela estava aos prantos, não percebeu que já estava na porta de sua cabine. Com a visão um pouco obstruída pelas lágrimas que insistiam em cair, ela pegou a chave da porta e tentou abri-la, até que conseguiu. Quando a sua mão girou a maçaneta e abriu a porta, uma mão magra e masculina a fez fechar a porta. Dorothy, assustada, olhou para a pessoa ao seu lado e ficou surpresa.

O Desastre do TitanicOnde histórias criam vida. Descubra agora