09: Guerras Póstumas

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Ninguém sabe de que forma desta vez a necessidade
se manifestará:
se como
um furacão ou um maremoto
se descerá dos morros ou subirá dos vales
se manará dos subúrbios com a fúria dos rios poluídos

A espera, Ferreira Gullar

Jeon Jungkook

03 de abril de 2020, sexta-feira

Estava no quarto, aproveitei que Hoseok não estava para fumar um pouco. A nuvem preta de fumaça circulava pela minha cabeça enquanto tentava organizar meus pensamentos.

Hoseok e Yoongi apareceram alguns minutos depois no refeitório. Os lábios de ambos estavam inchados, então com certeza eles estavam se pegando. Namjoon é um dedo duro do caralho, foi só o casal chegar que ele foi abrindo a boca grande e dizer que eu estava conversando com Seokjin.

Não prestei muita atenção nas conversas deles. Minha mente ficava indo na direção da mesa que Seokjin e Jimin estavam.

Traguei o cigarro mais uma vez. Meu corpo estava começando a se acostumar com os cigarros, não ficava mais zonzo. Em breve eles não fariam mais nenhum efeito. Significava que eu teria que ter alguma coisa mais forte para ficar no lugar.

- De novo? - Quando Hoseok fica bravo, sempre fala na língua dele, mas consigo entender. Ele tirou o cigarro das minhas mãos sem que tivesse tempo de racionar e jogou pela janela que ele mesmo abriu. - Por que continua usando isso?!

- Tem grama onde você jogou. - Avisei. - Pode pegar fogo.

Ele revirou os olhos, mas percebi um certo desespero por achar que realmente pegaria fogo o colégio.

Meu corpo relaxou na cama porque eu estava cansado, não apenas pelo cigarro. Seokjin avisou que o sono seria algo presente quando o efeito da poção passasse, irreversível. Era como se estivesse chapado, a sensação era a mesma.

- Quero seus cigarros. - Hoseok mandou, ele me lembrou o meu pai. Não era lembranças boas, acho que nunca tive boas lembranças dele para falar a verdade. Nenhuma que encobre as más. - Todos eles, Jungkook.

- Não. - Se ele fosse meu pai, teria apenas entregado como havia mandado. Mas não era o caso. - São meus, eu comprei.

- Eu compro eles de você. - Ele cruzou os braços na minha frente, tenho certeza que meus olhos deviam estar se fechando porque a minha visão estava ficando mais curta. - Me diga quanto você pagou por eles.

Fiz um gesto com a mão, pedindo para que ele parasse.

- Não quero a porra do seu dinheiro, Hoseok.

O rosto dele começou a ficar vermelho de raiva. Podia jurar que vi fumaça saindo de seu nariz como um touro bravo.

- Onde estão seus cigarros, Jungkook? - Voltou a repetir.

- Não sei. - Por algum motivo, eu comecei a rir e não queria parar. Meu corpo não me obedecia.

Hoseok começou a ficar preocupado, dava para ver através dos olhos dele quando se aproximou de mim. Ele me segurou pelos ombros, tentando me fazer sentar.

- O que você tem, Jungkook? - Hoseok conseguiu me fazer ficar sentado, mas meu corpo havia voltado anos atrás. Quando ainda era apenas uma criança fazendo birra, fazendo o contrário do que me pediam.

- Você não 'tá me chamando de Jungkookie. - Para o aumento da minha vergonha, eu quase comecei a chorar.

Confusão de sentimentos era outro sintoma dos efeitos finais da poção. Sabia que iriam acontecer, mas esperava que estivesse sozinho. Todos os que poderiam entrar o meu quarto estariam em suas rotinas de trabalho ou estudo, não sabia que Hoseok iria matar aula também.

Bad Bruxo | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora