06: Almas Para Jantar

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Noite após noite, exaustos, lado a lado,
digerindo o dia, além das palavras
e aquém do sono, nos simplificamos

Acalanto, de Paulo Henriques Britto

Jeon Jungkook

29 de março de 2020, domingo

Juro que achei que fosse conseguir respirar debaixo d'água assim que entrasse no lago, mas eu só me afoguei. Depois vomitei o café da manhã perto de um tronco caído enquanto todos os alunos observavam.

– Como está aí, Jeon? – Sennia me olhou preocupada, Yoongi estava ao lado olhando para qualquer lugar que não fosse para o meu vômito nem os alunos rindo igual gazelas. – Precisa ir até a enfermaria?

Neguei várias vezes, tentando ignorar os risos dos alunos ao redor, mas era um pouco difícil.

– Yoongi, vocês não vão participar desta aula. – Sennia avisou, arrumou as suas mechas azuis jogando-as para trás. – E vocês, pamonhas, parem de rir ou eu faço todos se afogarem.

O coro de alunos ficou silencioso em questão de segundos, embora no fundo ainda desse para ouvir alguns risos. Yoongi parecia envergonhado enquanto esperava eu me recompor.

– Já acabou? – Yoongi quis saber, cruzou os braços e me encarou.

– Acho que sim. – Dei de ombros, senti o gosto azedo de vômito na minha boca. Parecia que eu havia acabado de beber pela primeira vez na vida e botei tudo para fora.

Yoongi olhou no relógio de pulso e disse: – Temos meia hora livre. Vou para a biblioteca.

– Eu vou com você. – fiquei de pé, tentando transparecer segurança, embora ainda estava fedendo a vômito porque um pouco dele caiu na minha camisa.

– Acho melhor você escovar os dentes. – tampou o nariz e fez uma cara de nojo, mas estava segurando o riso.

Revirei os olhos e mostrei minha língua para ele. Quando olhei para um dos alunos que ainda ria, um garoto baixo narigudo com fios negros, fiz o pior olhar que alguém poderia querer. Tipo um cachorro com raiva prestes a atacar. Ele parou, e outros alunos que riam também.

Quando se tem muitas tatuagens e aparece algumas vezes com um cigarro na mão, você fica conhecido como o pior inimigo que alguém poderia desejar. E esse cara sou eu, querido.

– Vamos passar no seu quarto. – Yoongi parou de rir e caminhou em direção à saída.

Olhei uma última vez para trás e vi o Seokjin ajudando sua dupla a fazer um exercício de respiração. Então segui o Yoongi, um pouco desconfiado porque senti a estranha sensação de estar sendo observado.

Passamos por alguns alunos no corredor, então percebi uma coisa esquisita; Não tem meninas naquele internato. Decidi perguntar depois para o Hoseok, ele sempre explica como se eu fosse uma criança de sete anos.

Quando chegamos na frente da porta do meu quarto, procurei a chave no meu bolso, mas Yoongi foi mais rápido e abriu com uma chave que eu não sabia de onde havia surgido.

– Como você tem a chave? – Quis saber, cruzei os braços enquanto ele entrava como se fosse o quarto dele.

Ele deu de ombros e disse: – O Hoseok me deu uma cópia. Caso aconteça alguma coisa, uma emergência, sei lá.

Me perguntei que tipo de emergência teria dentro do meu quarto que Yoongi precisasse estar alerta para ajudar.

Enquanto Yoongi roubava as roupas do Hoseok, eu tomei um banho e escovei os dentes. Senti um alívio por não sentir mais o gosto de vômito na minha boca, uma sensação libertadora devo dizer.

Bad Bruxo | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora