14: "Amigos" Entre Aspas

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Por estes mortos, nossos mortos,
peço castigo.
Para os que salipicaram a pátria de sangue,
peço castigo.

Os inimigos, Pablo Neruda

Jeon Jungkook

05 de maio de 2020, terça-feira

Me senti sendo arremessado da cama como se uma força maior tivesse me jogado para outro lugar além do meu quarto. Eu estava voando no espaço, o escuro era intenso e dava para ver os pequenos pontos de luz, talvez fosse estrelas.

— Olá? — Gritei, mas tudo que escutei foi um eco da minha própria fala.

Então a gravidade finalmente havia dado as caras, então comecei a cair. Parei antes de chegar ao chão, fiquei a pouco mais que uma palma e cai de novo.

Minha respiração estava forte e meu coração acelerado, achei que estava prestes morrer.

Me levantei do chão de pedra e olhei em volta, percebi um pequeno arranhado no meu braço. Não havia nada que eu pudesse identificar sendo da minha época como carros ou até mesmo uma lâmpada, mas sim várias casas feitas de pedras e um poço no centro da vila.

Comecei a ouvir uma música não muito longe. Ela dizia: “Pelas graças do senhor, queime, queime e queime! Enfeite o inferno com suas cinzas e suas peles mortas”

O relinchar de cavalos me fizeram pular de susto, então corri para me esconder atrás de uma enorme viga de madeira, agachado. Olhei para os meus pés, os sapatos pareciam ser da era vitoriana e femininos. Pareciam de mulher.

Uma festa acontecia um pouco mais afastada dali, tinha uma fogueira enorme no meio de várias pessoas dançantes. Elas rodopiavam e cantavam como se não houvesse o dia de amanhã.

O que queimava não parecia ser madeira ou folhas. Ninguém parecia ligar para mim, então caminhei para perto da fogueira com cautela. Os sapatos que eu usava faziam um barulho quando eu pisava no chão e o cheiro da fumaça era de carne queimada.

— Não se aproxime da bruxa! — Um homem com roupa de padre e um bigode engraçado se aproximou de mim e me puxou pelo ombro. — Sabe como é perigoso chegar perto dessas coisas, Anna.

Meu coração acelerou de novo quando eu vi uma mão saindo da fogueira, o padre a jogou de volta para as chamas com o pé.

— Desculpa. — Eu não quis pedir desculpas, mas era como se não conseguisse controlar meu próprio corpo nem minhas palavras. — E-eu preciso ir.

Comecei a correr na direção oposta da fogueira. O cheiro da carne humana ainda estava me perseguindo e impregnando nas minhas narinas. Meu peito subia e descia rápido e meus pulmões pareciam não querer funcionar.

Talvez eu tivesse asma e não soubesse.

Eu voltei para o ponto de partida. Observando mais atentamente desta vez, percebi que havia um enorme sino no alto de uma igreja.

— O que está fazendo fora de seu quarto? — Meu corpo deu um pulo pelo susto e quando me virei estava uma freira. Eu me lembrava dela, a mesma do sonho ou pesadelo, não sei definir qual era.

— Estava voltando para lá. — Menti sentindo meu coração bombear mais sangue para o corpo em uma falha tentativa de me ajudar.

Ela desconfiou, então agarrou meu pulso e começou a me puxar para dentro da igreja. A porta fez um barulho de rangido, entramos em uma das portas perto do altar dedicado a santos, tinham várias escadas e todas eram circulares e havia tantos degraus que não conseguia nem mesmo chutar um número.

Bad Bruxo | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora