Coisas da Vida

Encerrando ciclos

Heitor respirou fundo e então lembrou que ainda precisaria terminar o relacionamento com a jovem por causa da mudança para São Paulo.

"Isso vai ser mais difícil do que imaginei". – pensou.

– Olha, Flávio! Eu vou resolver aqui com a Natalie e depois eu vou para a sua casa.

Heitor desligou o telefone, entrou no carro e disse:

– Vou te levar em casa e depois eu vejo o que faço.

Os dois ficaram em silêncio durante o caminho e, quando ele estacionou, ela saiu do veículo e disse antes de fechar a porta:

– Entra comigo. Meu pai e minha mãe foram ao teatro e estou sozinha até umas dez horas.

– Natalie, eu... Eu preciso ir falar com o Flávio e...

– Puta que o pariu, Heitor! Vá para o inferno você e ele!

Ele saiu do carro e ficou na frente de Natalie.

– Sai da minha frente.

– Natalie, ele está mal, preciso ir lá e...

– Deixa eu ver se entendi... O cara engravida uma menina e precisa de colinho do melhor amigo só porque foi irresponsável e não se preveniu? Ele que aprenda a deixar o pinto dele dentro da cueca ou pelo menos encapar antes de usar, já que não consegue dar descanso para o coitado.

– Natalie, não sei porque você tem tanto ciúme dele. Não faz sentido, sabe... A gente está junto e... Tudo bem que a gente não namora oficialmente, mas eu não fico com outras meninas e nem faço nada do tipo quando saio com ele. O cara ficou sabendo do nada que vai ser pai, é uma barra e...

– Ah, Heitor! Seu amigo sabe como se proteger e você não é pai dele para ficar consolando marmanjo que não prestou atenção no que estava fazendo.

Heitor respirou fundo e disse:

– Olha, Natalie... Vamos fazer assim... É... Eu não posso entrar com você pois eu quero terminar o nosso relacionamento.

– Ah, sabia! Vai terminar comigo para ficar perto do amigo.

– Não é isso. Meu pai vai trabalhar em São Paulo e minha família toda vai para lá.

– Some! Vai embora daqui e nunca mais fale comigo! Não sei onde eu estava com a cabeça quando decidi me aproximar de você. Aliás, aquele cara vai estar na sua malinha para São Paulo? Porque se ele estiver, precisa de um espaço maior para colocar a noiva e a criança. Primeiro você diz que não vai poder ir ao motel comigo por causa de um jantar em família. Aí, sai para levar o Flávio em casa pois, até onde sei, ele passou mal, não volta, peço para você me trazer em casa, te convido para entrar, você recusa e vai para onde? Para a casa do amiguinho! Você acha que eu sou besta?

Natalie abriu o portão, entrou e deixou Heitor sozinho. O telefone dele tocou novamente e na tela estava um nome muito comentado até então:

– Oi, Flávio! Eu estou indo para aí. Acabei de terminar com a Natalie. – disse ele com voz triste e desligando o telefone logo depois.

Ele ligou novamente na sequência, mas Heitor não atendeu pois estava dirigindo. Ele acelerou o carro até o prédio onde o amigo morava e, quando chegou no apartamento, encontrou o amigo na sala sem camisa e com olhar perdido, mas já com a aliança de noivado no dedo.

– Pelo visto você já foi na casa do seu novo sogro e... – disse ele enquanto o amigo fechava a porta.

– Eu não quero casar com essa garota, cara! Eu nem sinto tesão por ela. A gente fica bem de vez em quando, você sabe, e em uma delas transamos sem camisinha, pois eu estava meio bêbado e não me preocupei, só quis curtir. – disse Flávio, indo direto ao assunto.

– Mas, e o pai dela?

– O seu Adamastor foi bem direto e falou que "ainda bem que eu optei por casar com a filha dele". Mas, não é isso o que eu quero. Como eu vou fazer, cara? Eu não gosto dessa menina para casar, foi um deslize idiota...

– Cara, agora é tarde. O filho é seu e você precisa assumir isso!

– Mas... E como vai ser a minha vida? E a faculdade? Tenho certeza que meu pai vai cortar a grana e vou me ferrar! E quando essa criança nascer e começar a chorar de noite? Heitor, e a gente? – disse Flávio em tom de desespero.

– Você vai ser catapultado para a vida de adulto, vai virar pai de família, e não tem muito o que fazer...

– O pai da Suellen quer que a gente se case até o meio do ano que vem. Segunda, as nossas famílias vão começar a traçar os detalhes de tudo.

Flávio se jogou no sofá e ficou olhando para o teto. Heitor sentou ao lado dele e, olhando na mesma direção, começou a se preparar para dar a notícia da mudança.

– Flávio, eu preciso te falar outra coisa. Meu pai informou hoje que vamos nos mudar para São Paulo, pois em fevereiro ele vai começar a trabalhar lá. Vou ter que correr com transferência da faculdade, pedir demissão do estágio... Fui falar com a Natalie, ela duvidou e terminamos pouco antes de você ligar na última vez que atendi.

– E como eu vou fazer, cara? Mais essa agora... Além de casar com uma garota que não gosto, ter que cuidar de um filho que eu não quero, eu ainda vou ficar longe de você.

– Mas, de qualquer forma, acho que.. Acho que a gente não iria mais se ver tanto assim por causa da criança. Eu sei que, tipo... A gente sente uma coisa diferente entre a gente, uma vontade louca... Mas, não daria para você estar casado, com um bebê em casa e a gente continuar curtindo o nosso lance.

Flávio ficou pensativo e disse:

– Mesmo que a gente fique longe agora que você vai para São Paulo, me ajuda numa última coisa. Se a gente conseguir, eu prometo que vou direto para São Paulo ou até me mudo para lá também até o meio do ano, você me leva para conhecer a cidade e a gente continua se curtindo.

– Como assim, cara? Conseguir o quê?

– Me ajuda a convencer a Suellen a desistir dessa história e... Você sabe...

Heitor olhou assustado para o amigo e disse:

– Você quer que a Suellen aborte, Flávio?