Heitor e Talita ficaram sem saber o que falar e Caio continuou:
– Não que eu tenha alguma coisa a ver com a troca de mensagens de vocês, mas tipo... A Talita deve imaginar sobre o que estou falando. Mas, fiquem à vontade pois só vim pegar a minha carteira e vou comer alguma coisa na cantina.
Os dois seguiram em silêncio e, quando o irmão de Vitor saiu da sala, Talita foi atrás dele, o alcançou no corredor e os dois começaram a discutir:
– Caio, não é nada disso. Eu mandei mensagem para falar do trabalho que ele está fazendo com você e...
– Eu sempre desconfiei de você, já me falaram várias coisas e acho que a minha intuição está certa. Minha avó morreu, você não mandou nenhuma mensagem para o meu irmão e agora fica dando em cima do Heitor. Eu só espero que você não faça o Vitor sofrer, Talita.
– Caio, não tem nada a ver. Eu gosto do seu irmão, mas a gente brigou e eu não quis me aproximar dele por causa da morte da avó de vocês.
– Então me explica porque você ficou tão incomodada com o fato do Heitor não te responder? Porque você voltou para a sala quando ele estava sozinho? Talita, faça o que você achar melhor, só não machuca o Vitor. Beleza? Isso não vai ser legal no momento em que a gente está.
Caio se afastou e ela voltou para a sala. Heitor, que estava com a cabeça em cima da carteira, ao ouvir a colega entrando, olhou e disse:
– Talita, foi só aquilo e acabou. Não é certo tudo isso e não quero confusão para mim.
Ele então saiu e a deixou sozinha. Talita ficou irritada ao vê-lo se afastar, guardou suas coisas em uma bolsa, pegou o caderno e foi embora para um bar perto da faculdade pouco frequentado pelos alunos. Naquele momento, ela só queria beber uma boa dose de alguma bebida forte e não pensar em nada.
Ele, por sua vez, foi em direção à cantina e encontrou o colega pagando o pedido.
– Caio, podemos falar?
– Heitor, eu vou ser direto com você: não vou falar nada para o meu irmão mas, pelo menos nesse momento, se afasta dessa menina. Meu irmão está sofrendo muito com o silêncio dela e...
– Ela comentou comigo que os dois brigaram e... – interrompeu Heitor.
– Não é só isso. Ela não mandou nenhuma mensagem para ele por causa da morte da minha avó, cara. – interrompeu, novamente, Caio – Ela disse que estava falando com você sobre o trabalho da faculdade, mas eu não acredito. Eu acho você um cara legal, gente boa, me ajudou muito com o trabalho, está me ajudando com as matérias e não quero e nem vou ficar bravo com você. Seja lá o que for que a Talita mandou nas mensagens, o fato de você ter ignorado me faz pensar que você não é um traíra. Fora que você chegou agora na turma e não sabe como as coisas funcionam ainda. Mas, só posso te dizer uma coisa: esquece essa garota pelo menos por enquanto, até ela e meu irmão decidirem como vão seguir. Depois você pode fazer o que quiser. É foda, cara, eles não namoram oficialmente, mas meu irmão gosta muito dela, mais do que deveria, até. Só que ela ficou muito distante quando ele precisava e até você, que me conheceu outro dia, foi mais atencioso comigo do que ela é com ele.
Heitor passou a mão no cabelo e disse:
– Cara, eu honestamente não sei o que te dizer. Só queria, sei lá, te pedir desculpa por essa situação toda e...
– Eu confio mais em você do que na Talita, cara. Eu acho que ela se faz de boa moça, que está feliz do lado do Vitor, mas... Sabe quando alguma coisa vive dizendo que tem algo errado? Só que eu não vou me intrometer pois é a vida do meu irmão e ele tem que decidir o que fazer. E isso só ele pode fazer.
Caio pegou o salgado e o refrigerante que havia comprado e convidou o colega para o acompanhar até uma das mesas. Ao sentarem, Heitor disse:
– Eu estou muito envergonhado com tudo isso.
– Na boa? Não precisa sentir vergonha de nada.
– Não é isso, cara é que... – por um segundo, Heitor lembrou de tudo o que passara com Talita e Bruna nos últimos dias, respirou fundo e continuou – É que é muito foda tudo isso. Você está sendo o cara que está ajudando a me socializar e aí do nada esse climão...
– Esquece isso. Por mim essa história morre aqui e não vou nem comentar nada com o meu irmão, mesmo que ele e a Talita venham a terminar. Está tudo certo entre a gente, fica tranquilo. Mesmo a Bruna tendo roubado um beijo seu na frente de todo mundo no dia do trote.
– Como você sabe?
– As notícias correm, meu caro. Mas, como disse, fica tranquilo que está tudo certo. Eu e Bruna não temos nada e somos livres. Até com o Marcelo ela já ficou... – ele disse piscando um dos olhos e dando uma mordida no salgado.
Neste momento, Marcelo se aproximou da mesa dos dois e disse:
– Opa, eu ouvi meu nome por aqui? Se liga, galera! A Talita me mandou uma mensagem durante a aula informando o valor da grana que a gente tem e acho que dá para comprar bastante bebida para a nossa festa. Vamos precisar complementar pois temos que alugar um ou dois ônibus para levar todo mundo.
– Acho melhor pegar um busão grande e tentar lotar. Depois, se mais gente quiser, a gente vê o que faz. –, sugeriu Heitor.
– Da nossa turma, vai todo mundo com certeza. São 30 pessoas, menos três que vão no meu carro e tem mais algumas pessoas que talvez vão de carro também. Chuto que, pelo menos, umas 20 pessoas vão precisar de ônibus. Aí as outras vagas ficam para namorados, namoradas, pessoas de outra sala... Só temos que cobrar um valor para pagar o ônibus sem comprometer o que a gente arrecadou. – disse Marcelo.
– Vamos conversar com a sala e decidir antes de fazermos as contas. – disse Heitor.
Não muito longe dali, Talita estava quase chegando no bar quando o telefone tocou e ela atendeu:
– Oi, pai!
– Talita, venha para casa agora.
Ela não queria ir para casa. Respirou fundo e tentou encontrar uma justificativa, mas só conseguiu dizer:
– Pai, o professor da próxima aula vai explicar um negócio sobre um seminário e eu preciso ficar.
– Talita, não tem mais e nem menos. Você vem para casa agora e depois, se precisar, eu converso até com o reitor da sua universidade para você ter todas as informações que precisa para fazer esse tal seminário.
Irritada, ela foi para o estacionamento, pegou o carro e, no caminho, ligou para um amigo:
– Oi, Thomas! Vou precisar falar com você amanhã. Lembra daquela sua sugestão? Pois eu vou topar e queria que você me explicasse direito a sua ideia.
– Só vem, Talita! Vou estar o dia todo em casa e te explico tudo rapidinho.
– Fechou. Eu te aviso antes de ir. Até amanhã.
Ela desligou o telefone e ligou o som do carro em uma música alegre. Enquanto dirigia, cantava o refrão animadamente. Queria esquecer tudo aquilo enquanto pudesse, não queria ouvir a bronca dos pais, mas teria que passar por isso mesmo contra a vontade. Então, pensou, faria como sempre fez: deixar a bronca entrar por um ouvido e sair pelo outro.
Quando chegou em casa, encontrou o pai e a mãe na sala. Fátima era mulher morena bem clara, bastante jovial, adorava se cuidar e estava sempre maquiada e com discretas joias. Gostava de dizer que preferia expor a sua beleza natural para que as joias apenas fizessem a finalização do visual. Sua estatura mediana, sempre com vestidos claros ou brancos com algumas discretas estampas coloridas, marcava presença por onde quer que passasse e sua cabeça ornamentava uma vasta cabeleira encaracolada de cor castanho claro assim como seus olhos.
Após abrir a porta, Talita colocou a bolsa e o caderno em cima do sofá e disse:
– Pronto. Cheguei.
– Sente-se, pois nossa conversa será longa. – disse o pai assim que ela voltou e fechou a porta.
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Coisas da Vida
RomantizmHeitor é um jovem universitário com uma vida aparentemente perfeita, mas seu coração guarda um amor improvável. De repente, o pai anuncia que a família está de mudança para São Paulo e ele vê sua vida mudar radicalmente. Na nova cidade, ele precisa...