Nem sempre dá para resistir

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Flávio olhou para Heitor e disse:

– Tá, eu exagerei. É que... Eu não quero essa rotina para mim. Eu fui idiota e acabei ferrando a minha vida.

– E a da Suellen também. Você já pensou nisso?

– Por isso que ela tirar essa criança seria a melhor solução.

– Flávio, eu, honestamente, não vou te ajudar nisso. Se isso acontecer, é por uma decisão de vocês. Eu estou fora.

Ele olhou para o amigo, o abraçou e disse:

– Desculpa. É que... Eu estou desesperado! É muita coisa para mim e agora um pouco mais sozinho, pois você vai embora.

– Toma um banho, deita e aproveita para descansar. Quando seu pai chegar, a coisa vai ser ainda pior. – disse Heitor.

– Toma banho comigo? Só mais uma vez, pois a partir de segunda vai ser o início do resto da minha vida. – implorou.

– Não, cara. Acho melhor a gente...

Flávio deu um beijo em Heitor e disse:

– Sabe que tudo fica ainda mais excitante quando você diz que não quer?

Ele deu um sorriso e o outro por fim cedeu, mesmo com algo dentro dele recusando toda e qualquer proposta. Durante o banho, trocaram muitos beijos e carícias e decidiram terminar o clima de forte tensão sexual na cama dos pais de Flávio. Quando terminaram, o então dono da casa deitou ao lado de seu amante eventual e disse olhando para o teto:

– Você não me resiste. A Natalie não tem o que você gosta de verdade e você não vai sentir nenhuma falta dela. – em um movimento súbito, ele subiu em cima de Heitor e continuou – Você pode até arrumar uma namorada ou namorado em São Paulo, mas eu tenho certeza que o meu mel é bom demais e você é uma abelhona safada que sempre vai voltar.

Os dois começaram a se beijar e, após se entregarem novamente a mais uma sessão de forte tensão sexual, tomaram um banho juntos e logo depois, na sala, enquanto terminava de se secar e vestir a roupa, Heitor disse que precisava ir embora.

– Dorme aqui, cara. Prometo que não vou te acordar de madrugada só para você provar mais uma vez da parte do meu corpo que você mais gosta, mas, se quiser eu acordo. – disse o anfitrião em tom sensual.

– Eu preciso voltar, devolver o carro do meu pai, pensar nessa situação toda da mudança...

Flávio abaixou a cabeça e depois disse:

– Eu vou sentir a sua falta. O lance entre a gente sempre foi apenas sexo, mas é gostoso demais viver isso.

Heitor pegou a chave do carro, abriu a porta e Flávio foi atrás dele. Ficou observando ele chamar o elevador e então os dois se despediram. No carro, Heitor olhou para si mesmo no retrovisor e disse:

– Chega, Heitor! Foi a última vez que você fez isso!

Depois, deu partida no carro e foi para casa.

Os dias seguintes foram de preparativos, solicitação de documentos, pesquisa de novas faculdades e, pouco antes do Natal, quase tudo estava pronto.

– Vamos para São Paulo na segunda semana de janeiro. Ficaremos em um hotel na região da Paulista e, enquanto eu e sua mãe vamos ver alguns apartamentos, vocês vão procurar uma faculdade. De preferência a mesma e no mesmo horário, pois fica mais fácil de ir buscar vocês.

– Pai, tem metrô, ônibus... A gente se vira! – argumentou Marina.

– Mesmo assim. Pelo menos vocês voltam juntos e um protege o outro.

E assim foi feito: na semana combinada, Heitor e família viajaram para São Paulo e os dois irmãos decidiram primeiro visitar uma faculdade próxima a um apartamento que os pais tinham gostado bastante no primeiro contato feito pela internet com a imobiliária, na região de Perdizes. Quando os dois irmãos chegaram na instituição de ensino escolhida, encontraram um jovem aguardando impacientemente na recepção da secretaria, no único guichê disponível naquele momento.

– E aí, cara! Beleza? Eu e minha irmã viemos conhecer a faculdade. Sabe se é aqui que a gente espera?

– Acho que é aqui sim. – respondeu.

Logo depois, uma atendente apareceu e disse:

– Caio, seu documento não estava pronto, mas eu consegui agilizar e peguei a assinatura da secretária geral pois o coordenador do seu curso está de férias. É só levar na empresa e está tudo certo. Se eles reclamarem, você volta aqui e a gente providencia um documento com a assinatura da Coordenação assim que possível.

O jovem foi embora visivelmente incomodado e a atendente se dirigiu a Heitor e Marina:

– E vocês? O que precisam?

– Nós viemos conhecer a universidade. Meu nome é Heitor e essa aqui é minha irmã, Marina.

– Ah, sim! Vou chamar a secretária da Coordenadora Pedagógica, pois ela vai levar vocês para fazer um tour pelo prédio.

Após uma hora conhecendo todos os espaços, Heitor e Marina voltaram para o hotel e encontraram os pais no quarto que tinham alugado. Todos estavam bem empolgados com as visitas realizadas até então e decidiram conhecer a cidade no resto do dia. No fim da semana, voltaram para o interior do Paraná com tudo decidido e assinado. Agora, só faltava fazer as malas e levar a mudança. Os pais, logo de cara, optaram por um apartamento grande, semi mobiliado e com três quartos no bairro Bela Vista, descartando qualquer outra opção. Os filhos escolheram estudar na primeira faculdade que tinham visto, na região de Perdizes.

A derradeira viagem seria realizada no último dia de janeiro e no dia anterior, enquanto arrumava as últimas peças de roupa em uma mala que seria colocada em um caminhão que levaria a mudança da família, Heitor ouviu o celular tocando, pediu para a irmã ou a mãe atenderem, mas percebeu que estava sozinho pois elas saíram para comprar algumas caixas e o pai tinha ido trabalhar. Ele correu para a sala, pegou o telefone e atendeu. Era Flávio.

– Oi! Estou aqui embaixo e, como sei que você vai embora amanhã, queria falar com você pela última vez. Posso subir? Não vou atrapalhar?

Minutos depois, ele tocava a campainha e Heitor disse fechando a porta enquanto o outro entrava:

– Qual o motivo de tanto protocolo para subir? Você tem passagem pela portaria...

– Só não quis atrapalhar na mudança. Está sozinho?

– Estou sim. Vamos lá no quarto pois estou arrumando minhas coisas na mala. – disse Heitor fechando a porta.

Os dois entraram no cômodo e Flávio disse:

– A verdade é que eu vim te ver pela última vez. Daqui 20 dias eu estarei oficialmente casado, com um emprego em uma das empresas do meu pai.

– E você já em qual delas você vai trabalhar?

– Ele ainda não falou, mas certamente vou fazer alguma coisa na administração geral, cuidar de fornecedores ou algo assim. O difícil vai ser conseguir focar, meu pai tem duas lojas de roupas, duas lojas de utilidades domésticas, uma padaria e aquele hotel que fica aqui perto. Imagina como vai ser difícil lidar com fornecedor para tudo isso sendo que cada empresa faz uma coisa completamente diferente da outra?

– E você vai continuar morando com o seu pai por muito tempo?

– Não. Daqui uns 10 dias eu já estarei morando em um apartamento com a minha linda esposinha Suellen e daqui uns sete meses mais ou menos serei papai. – disse em tom de deboche e depois, em tom normal, emendou – Mas, antes eu queria provar você mais uma vez. A última vez.

– Você é louco! Minha mãe e minha irmã podem chegar a qualquer momento.

– Foda-se! Eu não estou nem aí... – disse Flávio se aproximando de Heitor e surpreendendo-o com um beijo.

Enquanto isso, do lado de fora do apartamento, Marina e Rosana saíram do elevador e colocaram a chave na porta da sala.

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