Difícil esquecer

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Era muito difícil para Heitor não resistir às investidas de Flávio e, mesmo correndo o risco de ser flagrado, ele cedeu ao beijo e o abraçou. Os dois só pararam quando ouviram o barulho da porta da sala se abrindo e a voz de Marina invadiu o apartamento:

– Heitor? Você está vivo? Estou ligando no seu celular e você não atende!

Os dois, no quarto, pararam com o beijo e o irmão de Marina saiu do quarto fingindo naturalidade:

– Oi, eu... eu estava no quarto conversando com o Flávio e terminando de arrumar as minhas coisas e nem ouvi tocar.

– O Flávio está aí? – disse Rosana ao fundo.

– Estou sim, Dona Rosana.

– Tudo bem? E como está o noivado? O Heitor me falou que você vai ser pai e eu espero que a criança venha com muita saúde.

– Obrigado, Dona Rosana!

– Aí, vamos aproveitar que vocês dois estão aqui e vamos lá no carro pegar as caixas que eu e minha mãe trouxemos? – disse Marina – A senhora fica aqui enquanto eu desço com eles.

Horas mais tarde, quando tudo estava praticamente pronto para a mudança, Flávio foi embora e Heitor o acompanhou até o carro.

– Acho que essa é a última vez que a gente vai se ver antes da minha vida mudar radicalmente. – disse Flávio – Quer dar uma volta comigo, a gente encontra um lugar e se despede melhor?

– Flávio, eu adoraria. Mas, acho melhor a gente parar por aqui. Sua vida já é outra, você tem responsabilidades maiores agora, alguém pode ver a gente e... Você sabe como essa cidade é fofoqueira...

Sem gostar da recusa, o autor do convite pensou por alguns segundos e conseguiu dizer:

– Mas, eu sei que você vai voltar. E não importa como a minha vida vai estar: eu vou querer reviver isso que a gente sente um pelo outro. – Flávio abraçou Heitor e continuou – Boa sorte na sua nova vida!

Depois, ele entrou no carro e deu partida no veículo. Heitor ficou observando ele se afastar e pensando novamente no dia em que eles se beijaram pela primeira vez. Para ele, naquele momento, a sensação de estar com Flávio certamente seria uma das coisas mais difíceis de esquecer. Era muito diferente de estar com Natalie ou outras garotas. E difícil de resistir. Quando ele se virou para entrar no prédio novamente, encontrou Natalie se aproximando:

– Oi, Heitor! Espero que ainda dê tempo de te dar um abraço e pedir desculpas pelo que fiz na última vez que a gente se encontrou.

– Está tudo bem, Natalie! Você tinha todo o motivo de estar nervosa.

– Você viaja quando? – perguntou a jovem.

– Amanhã a gente vai para a capital e pegamos um avião até São Paulo. A mudança vai por terra e chega um ou dois dias depois. Mas, vamos levar na bagagem de mão algumas roupas e itens pessoais para passarmos os primeiros dias. – respondeu Heitor.

– Eu juro que pensei que você estava mentindo para poder sair com o Flávio para alguma festinha tipo "despedida de solteiro" ou algo assim. Aquele ali é fogo, você sabe! Mas, depois, me falaram que você tinha pedido transferência, sua irmã fez uma festinha de despedida com a turma dela... Eu espero que dê tudo certo em São Paulo. Você foi um quase namorado maravilhoso e peço desculpas se alguma vez eu passei do ponto.

– Você é um pouco geniosa, mas tem um bom coração, Natalie. Juro que nunca vou esquecer do que vivi com você e desejo as melhores coisas para a sua vida.

Os dois se abraçaram e trocaram um longo beijo. Natalie então o soltou e disse:

– Não sei se você tem tempo, mas aqui perto tem um hotelzinho bem legal. Topa ir lá para a gente se despedir?

Ao ouvir o convite de Natalie, Heitor lembrou da proposta de Flávio, feita minutos antes. Entretanto, dessa vez seria mais fácil aceitar, pois, para ele, entrar com uma mulher em um hotel soava menos estranho. Após pensar por alguns instantes, ele disse:

– Vamos! Eu só preciso avisar minha mãe que vou dar uma volta com você.

Heitor foi até a portaria do prédio e interfonou para o apartamento de sua família, pois deixara o celular quando desceu para acompanhar Flávio. Depois, entrou no carro e Natalie dirigiu até o local que ela havia sugerido.

– Você paga e eu transfiro o dinheiro para você depois? Pode ser?

– Essa é por minha conta. Sou uma mulher moderna e nem sempre o homem precisa pagar tudo.

– Meio a meio, então. Não acho justo a gente se divertir e eu não ajudar a pagar.

– Depois a gente vê isso!

Natalie parou em frente ao hotel, os dois entraram, escolheram uma suíte e subiram até o andar indicado pela recepcionista. Enquanto isso, do lado de fora e do outro lado de uma famosa avenida local com um frondoso canteiro central, Flávio estava em um barzinho tomando cerveja quando viu os dois entrando no hotel. Então, caminhou até o prédio, chegou na recepção e disse:

– Oi, eu sou o Flávio e meu pai é dono desse hotel. Você sabe, né?

– Boa tarde, senhor Flávio. Eu sei sim! – disse a recepcionista.

– Muito bem. Acabou de entrar um casal de amigos e eu preciso muito falar com os dois, principalmente com ele. Coisa nossa, um problema urgente. Preciso que você diga em qual quarto eles estão. Os nomes são Heitor e Natalie.

– Hum... É o casal que acabou de chegar... Eles estão na suíte 35.

– Obrigado! Não vou esquecer de você quando for conversar com meu pai sobre o hotel. Pode confiar! – disse Flávio enquanto caminhava em direção ao elevador.

No quarto 35, Heitor, já sem camisa, beijava Natalie ardentemente quando os dois ouviram alguém batendo na porta de forma insistente. Irritado, Heitor abriu a porta e deu de cara com Flávio, que, antes de incomodar os dois amantes, tirou a roupa e ficou apenas de cueca:

– Hum... Então quer dizer que vai ter festinha e ninguém me convidou?

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