Um segredo para se guardar

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Heitor sentiu a barriga gelar e respondeu:

"Como assim?"

Bruna devolveu de imediato:

"Se você puder, vou estar naquele shopping perto da Estação Trianon-Masp hoje à tarde por volta de 16h e a gente pode conversar".

"Combinado. Te encontro lá". – escreveu ele sem pensar.

Ele jogou o celular em cima da cama e começou a pensar nas palavras de Bruna. Ficou claro que ele não tinha sido o primeiro a ser levado por Talita para a sauna do condomínio, mas como ela sabia do encontro se ninguém tinha visto os dois saindo juntos da faculdade? Heitor ficou apreensivo e foi para a sala. Se jogou no sofá e logo depois Marina apareceu, ficou em pé perto dele e perguntou docemente:

– Está tudo bem?

– Só um pouco pensativo e preocupado. Nada demais. – disse ele em tom reflexivo.

– Aconteceu alguma coisa na faculdade daqui ou com alguém do Paraná?

– Se eu te contar, você promete que não conta nem para o papai e nem para a mamãe?

– Aí depende, Heitor. Se for algo grave, eu não vou garantir guardar segredo. Mas, se for apenas alguma coisa relacionada àquela menina que você estava ontem, pode ser que eu fique na minha.

– A Bruna, amiga da Talita, a menina que estava comigo ontem, disse que quer conversar sobre a amiga dela. A única coisa que eu sei é que o amigo do Caio, um cara da minha sala, meio que namora ou está junto da Talita. – segredou Heitor.

– E você ficou com a namorada do irmão do cara da sua sala? – disse Marina bastante surpresa.

– Mas, ela disse que eles estão dando um tempo. O problema é que o cara acabou de perder a avó.

Marina sentou no sofá e disse:

– Heitor! Maninho, dessa vez você se superou. E a tal amiga quer conversar o que?

– Eu não sei. Ela mandou mensagem dizendo que às quatro horas da tarde vai estar em um shopping perto da estação Trianon-Masp e vou para lá conversar com ela.

– Maninho, seja lá o que for, sai fora dessa história com a Talita. Você nem conhece ela, a garota já tem um boy e você é novo na faculdade. Não preciso nem dizer quem vai se dar mal nessa história, né? Não tenho nada contra a menina sair pegando geral, o problema é que isso não foi combinado entre ela e o cara com quem ela fica, mesmo que tenham dado um tempo. – disse Marina.

– Eu sei, eu sei. Vou ouvir o que a Bruna tem a dizer e na segunda eu falo com a Talita e digo que prefiro me afastar. Vou sugerir que podemos ser amigos e nada mais além disso.

– Acho que é a coisa mais sensata a se fazer. Você conheceu ela quando? No dia do trote?

– Sim! As duas queriam ficar comigo, Talita me deu um beijo primeiro, a Bruna não gostou, as duas brigaram e depois a Bruna me beijou na frente de todo mundo antes de ir embora, quando estava quase entrando no carro do pai dela.

– Meu maninho tá disputado, hein? Se fosse no Paraná, você e o Flávio iriam estar competindo para ver quem pegava mais meninas.

Heitor sentiu a barriga gelar novamente quando a irmã falou de seu antigo amigo e ficante.

– Ah, nem fala nesse cara. – disse ele fingindo irritação.

– Ué, mas ele não é seu amigo?

– É sim, mas eu não quero pensar nisso agora. Não consigo deixar de pensar nessa fria que me meti. Eu nem conheço o cara, o tal Vitor, mas ele é amigo do cara que está ajudando a me inserir na turma. Se essa história vazar, eu estou lascado.

– É... Você está bem lascado se essa história vazar. Mas, você não sabia que a menina era quase namorada do irmão do seu quase amigo quando rolou o beijo?

– Eu sabia, mas quem disse que me controlei após estar com algumas cervejas na cabeça?

– Maninho, se essa história rodar na sua turma, pede desculpa para o cara e fim de papo. Se ele aceitar, ok. Se ele não aceitar, ok também. Você errou, está arrependido, eu espero, e voltou atrás.

– Só não conta nada para o papai e para a mamãe e nem espalha na sua turma. Vou me resolver com todos os envolvidos e deixar para lá.

– Vai dar tudo certo, eu espero. Só me promete uma coisa, de coração: se afasta dessa menina de uma vez por todas.

– Eu vou me afastar. Segunda eu vou conversar com ela, dizer que o aconteceu entre a gente é coisa do passado e não tem nada a ver continuar alimentando qualquer coisa.

– Muito bem! Agora, vou pedir mais uma coisa para você. – disse a irmã olhando fixamente para o irmão – Traz uma capinha nova para o meu celular? Mas, você paga com o seu dinheiro. É o mínimo que você pode fazer para eu guardar segredo.

– Você é uma mercenária, Marina!

– Não, é sério agora. Traz uma capinha para a sua irmãzinha mais nova, e única, e depois eu te dou o dinheiro. Por favor! Vou ver umas bacanas na internet e te mando as fotos. – implorou a irmã.

– Está bem. Manda as fotos aí. – disse Heitor, cedendo aos encantos dela.

Horas depois, por volta de três da tarde, Heitor saiu de casa usando calça jeans azul, tênis preto e camiseta vermelha. Chamou um carro pelo aplicativo e chegou ao shopping cerca de trinta minutos depois. Começou a andar pelas lojas e viu um quiosque vendendo capinhas e foi procurar os modelos que a irmã sugeriu, mas sem sucesso.

Depois, entrou em mais algumas lojas de telefonia e por fim uma vendedora disse:

– Talvez você encontre na galeria ali perto da Avenida Brigadeiro. Sabe onde é?

– Sei sim. Obrigado! – mentiu.

Ele saiu da loja e começou a andar a esmo pelo shopping até que foi surpreendido por uma voz conhecida atrás dele.

– Oi, Heitor!

– Oi, Bruna!

– Você é um gato de vermelho. – ela elogiou.

Bruna trajava um vestido florido e uma sandália branca e ele prontamente destacou:

– Esse vestido fica bem em você também.

– Vamos para a praça de alimentação. Você já veio aqui?

– Não. É a primeira vez que venho nesse shopping.

– Então, me segue. A área de alimentação é no último andar.

No caminho, os dois conversaram sobre a nova vida de Heitor em São Paulo e sobre como era viver no Paraná.

– Eu gostaria muito de mudar de país, ir para Inglaterra. Adoro aquele país! – disse ela.

– Ah, eu ainda não sei. Talvez Estados Unidos ou Espanha, mas eu gosto bastante do Brasil, apesar de tudo.

– Bem, vamos sentar ali no canto, tudo bem? – disse ela apontando uma mesa em um local um pouco mais afastado.

– Por mim pode ser. Eu vou lá guardar o lugar se você não se incomodar. – disse ele.

– Quer comer o quê? Eu pago e depois você faz um Pix para mim.

– Pega o mesmo que você pegar. Para beber eu quero um refrigerante de laranja.

Alguns minutos depois, Bruna sentou na mesa de frente para Heitor e disse:

– Vou direto ao assunto: se afasta da Talita. Não falo isso porque te beijei no dia do trote, estou tentando te avisar. Aquilo ali é um problema maior do que você imagina.

– É, eu sei... Ela meio que namora o Vitor, irmão do Caio e...

– Tem muito mais coisa, Heitor. Aliás, se tudo se resumisse ao relacionamento dela com o Vitor, a situação seria tranquila. É muito pior e vai bem além do que você sabe e do que eu escrevi na mensagem. – interrompeu Bruna.

– E, como você sabe que eu e ela... Bem, que eu e ela nos encontramos depois da aula de sexta-feira?

– Eu vi você dois no estacionamento. Mas, não é só por isso.

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