O primeiro e último encontro

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Heitor olhou fundo nos olhos de Bruna e deixou o desejo falar mais alto. Os dois se entregaram a um beijo longo e, para quem visse de fora, apaixonado. Após alguns segundos, ela disse:

– Vem comigo. Não vou te levar em nenhum lugar perigoso, a não ser que você queira. Tem um motel não muito longe daqui e a gente pode ir para lá, o que acha? Chamo um carro no aplicativo e em dez minutos a gente chega.

Heitor concordou com a cabeça, enquanto sorria e beijava Bruna, disse:

– Como você quiser.

Minutos depois, eles chegaram em um motel na Avenida Frei Caneca e, quando entraram no quarto, ela se jogou na cama e disse:

– Nas próximas horas, minha única preocupação é você.

Heitor tirou a roupa e os dois se entregaram à intensa vontade que sentiam naquele momento. Sentiu por Bruna um desejo semelhante ao que havia dedicado à Natalie no passado, com a diferença de que não sentia nenhuma atração emocional. Era apenas o desejo carnal falando mais alto. Após três horas bastante intensas de prazer, os dois se jogaram em cima da cama e ele disse, ofegante:

– Uma coisa é certa: você está no topo do ranking que a Talita inventou. Quatro a dois, para ser exato. Mas... – ele então ficou sério e sentou na cama – Bruna, não me leve a mal. Eu prefiro que você não conte nada para ela e também não sei se gostaria de repetir tudo isso. Você fica com o Caio e, assim... Eu sei que vocês estão livres para saírem com outras pessoas, mas não sei como eu lidaria com isso. – ele então se lembrou do segredo que tinha com Flávio e de como enganava Natalie e continuou – Não que eu seja careta e etc., não é isso. Eu tinha um relacionamento sem rótulos, mas com exclusividade, quando eu morava no Paraná. Mas quero aproveitar que cheguei em São Paulo para construir uma vida legal por aqui, fazer as coisas de outro jeito, 'virar adulto', como diz meu pai.

Ela o abraçou e disse:

– Está tudo bem. Não vou te levar a mal, não por causa disso, pelo menos. Comigo não tem problema, pois eu e Caio não temos 'exclusividade', como você disse. Aliás, já até fiquei com o Marcelo algumas vezes, o Caio sabe e está tudo certo, assim como ele já ficou com algumas amigas minhas.

– Eu sei. Mas, assim, acho melhor parar com tudo. – disse ele – Se a minha história com a Talita vazar, terei problemas suficientes para resolver e se alguém descobrir que nós dois ficamos, pode ser ainda pior pois, além de pegar a quase namorada do irmão do Caio, eu fiquei com você. A galera vai cair matando em cima de mim.

– Relaxa, Heitor! Esse foi nosso primeiro e último encontro nesse estilo. E fica tranquilo que não vou falar nada para ninguém.

Ele começou a se vestir e disse:

– Eu preciso ir embora. Fora que não consegui comprar a capinha da minha irmã nas galerias ali da Brigadeiro e nem sei se vou conseguir encontrar alguma coisa a essa hora, são quase nove da noite.

– Tem um lugar aqui perto que deve ter alguma coisa. Vamos lá e eu te ajudo a procurar.

Minutos depois, os dois estavam em um quiosque dentro do Shopping Frei Caneca e, assim que se aproximou, ele viu o modelo exato que a irmã tinha pedido, chamou a vendedora e disse:

– Quero aquela vermelha ali. Vou pagar no débito.

Depois, eles foram para a calçada e, enquanto aguardavam a chegada dos carros que cada um havia chamado por um aplicativo, ele disse:

– É isso. Obrigado por tudo, pelas dicas, pelo encontro, por me ajudar a procurar a capinha da minha irmã...

– Se cuida, Heitor! Segunda-feira está tudo normal entre a gente?

– Com certeza! – ele deu um abraço em Bruna e logo depois o carro dela chegou.

Heitor ficou observando o veículo se afastar e pensando em tudo que ouvira da colega de turma. Não seria fácil olhar para Caio na segunda-feira, mas teria que encontrar um jeito de levar a vida o mais normal possível. Pouco depois, o carro que havia chamado chegou e ele seguiu em silêncio, enquanto pensava em tudo o que estava passando.

– Vou deixar isso tudo de lado e me dedicar a algo que parece estar mexendo de verdade comigo. – sussurrou para si mesmo, esboçando um leve sorriso e lembrando do cara que havia visto no dia do trote, Vitor, mas que ainda não sabia o nome e nem qualquer outro detalhe. – Talvez seja uma furada, mas aqui as pessoas são mais livres e de repente pode dar certo, mesmo que seja uma amizade colorida.

No dia seguinte, acordou e encontrou a irmã mexendo no celular, já com a capinha nova, enquanto os pais terminavam de tomar o café da manhã na cozinha do apartamento.

– Filho, vem aqui antes que tudo esfrie. Assei pão de queijo no forno, pois sei que odeia quando faço na airfryer.

– Eu estou sem fome, mãe. Desculpe.

– Está tudo bem, maninho? – perguntou Marina vendo a cara do irmão.

– Mais ou menos. Vamos dar uma volta? A gente troca de roupa, desce e conversa. Pode ser?

Os dois foram para os respectivos quartos, trocaram de roupa e 20 minutos depois estavam abrindo a porta da sala. Ele trajava uma bermuda preta, chinelo azul, camiseta branca e óculos escuros. A irmã, por sua vez, colocou uma calça jeans, uma regata amarela e uma sandália.

– Mãe, vou dar uma volta com o Heitor. Até daqui a pouco. – disse Marina quando os dois saíram do apartamento.

Minutos depois, enquanto passavam pela portaria do prédio, ele disse:

– Eu estou com mais problemas do que imaginei. A Talita é uma louca, fica com vários caras e na faculdade se faz de santa, espalha para todo mundo que só tem um boy e usa o irmão do Caio como troféu para chamar a atenção, pois diversas meninas da minha sala querem ficar com ele.

– Maninho! Eu esperava o pior, mas isso é muito pior do que eu jamais imaginei.

– É sério, Marina! – ele disse tirando os óculos.

– E agora?

– Ainda piora. Eu não me controlei ontem e fiquei com a amiga da Talita, que é ficante eventual do Caio.

Marina, boquiaberta, só conseguiu dizer:

– Heitor, onde você estava com a cabeça? Daqui a pouco vai acontecer com você o mesmo que aconteceu com o Flávio e você sabe que papai não vai curtir a ideia de ser avô antes de, pelo menos, você terminar a faculdade.

– Eu não sei o que fazer. Já decidi que não vou mais ficar com nenhuma das duas, mas a Talita está insistindo, queria que eu fosse lá ontem, mas não fui.

– Também, deveria estar cansado do encontro com a Bruna. – disse Marina em tom irônico.

– Não tem graça.

Neste momento, o telefone de Heitor começou a tocar, ele olhou no visor e viu que o número era desconhecido. Com certo receio, atendeu e uma voz do outro lado disse:

– Bom dia, meu nome é Armando e sou o pai da Talita. Eu estou falando com o Heitor?

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