Capítulo 04

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O homem tentou interferir, mas ainda com a criança nos braços, Rafaella cortou sua ação deixando claro seu controle máximo.

- Zé, eu cuido disso.  — disse firme e em seguida deu um passo para trás - Gizelly, você acha que sou idiota?

- Não! Eu juro que não lembro de nada, eu juro. — implorei sua compreensão de joelhos, agarrando suas pernas e depositando a lateral da minha cabeça em seu ventre - Seja lá o que eu fiz, por favor, me perdoe! Eu estou perdida, Rafa.

Eu chorava feito uma criança, havia desabado completamente, minha vida não era mais minha, estava pagando por erros que tecnicamente não havia cometido, nem ao menos sabia quantos ou quais erros eram. Seus braços me renegaram, nenhum afago me foi dado, ambos estavam suspensos no ar, talvez por surpresa. Recusando a todo custo tocar-me.

Olhei para cima captando sua expressão que estava confusa assim como eu nessa manhã, então ela e o rapaz se olhavam sem saber o que dizer. Fui puxada pela blusa, fazendo-me ficar de pé e afastada da mulher, quando analisei as feições do rapaz que me puxava percebi que seu rosto me era familiar.

- Eu me lembro de você... — forcei mais a memória e uma lembrança vívida me veio -  Você era aquele pirralho que fazia aula de teatro e canto com a Rafaella. Eu lembro de você!

Ele era um tal de Loreto que sempre estava nos projetos de artes na nossa escola. De vez em quando me dava um "olá" perdido ou o via nos corredores com um violão. Jamais poderia imaginar que ele cresceria para acabar estando junto com minha namorada. 

- É claro que me conhece. — me atingiu com seu encarar ambíguo, uma mistura de indagações intraduzíveis.

- Você é casado com a Kalimann? — perguntei.

Ambos se olharam surpresos novamente, talvez acreditando na vericidade do que eu havia dito anteriormente. Rafaella tocou seu braço e disse.

- A Gizelly que conhecemos jamais imploraria nada a ninguém. — clarificou e ele aliviou a força em que segurava minha gola - Qual a última coisa que se lembra? 

- Da nossa briga, Rafa...daquela noite. — minha voz fraquejou e meus olhos voltaram a se encher de lágrimas.

Rafaella começou a ter devaneios, suas órbitas se mexiam freneticamente parecendo analisar o chão mas na verdade estavam analisando sua própria mente, sentou no sofá de imediato no decifrar das consequências do que estava acontecendo, estava em choque, o clima estava tão pesado que até mesmo a criança começou a chorar.

Os sons chamaram atenção dos gêmeos que vieram pelas portas dos fundos até onde nos encontrávamos. Gabriel quando me viu imaginava que a causa do transtorno seria justamente eu, pegou o bebê que chorava em seus próprios braços afagando-o na tentativa de cessar seu choro. Ouvi um esboço de "Tirem-na daqui!"

- Estou farto dos teus problemas, Bicalho! — Loreto falou firme me arrastando para fora da casa. 

- Rafa! Rafaella, por favor acredite em mim! Me desculpa — atravessamos o jardim, eu a implorava ajuda e ainda estava em suas mãos feito um animal indesejado.

Num só empurrão me jogou na calçada e fechou com força o portão.

- Da próxima vez chamamos a polícia! — exclamou irritado apontando severamente o dedo para mim.

Quando ele se virou para retornar a casa, Sofia veio correndo até mim, segurou nas grades e eu toquei seu rosto de leve, me doeu ver dor em seu rosto, parece tanto com a mãe. Mesmo com os meus olhos, sua imagem era inteiramente de Rafaella, os cabelos, o nariz, o sorriso e infelizmente sua expressão de tristeza também.

De Repente Nós (Girafa/G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora