Capítulo 22

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Meu corpo foi tomado pelas águas límpidas da piscina até a cintura, professores usam roupas bem formais para dar aula, eu uso roupas de banho e meus dedos dos pés estão bem dormentes por tanto tempo debaixo d'água. Dessa vez a mesma está bem morna, o dia ensolarado e nenhum barulho a não ser o chiado das folhas das árvores do jardim. Nesses próximos dias tentarei não me limitar aos cômodos da casa, o terreno deste lugar é enorme, o jardim é magnífico e umas boas caminhadas me farão muito bem, sinto a definição do meu corpo atual se esvaindo pelos jantares dotados de massa.

São os últimos dias de castigo dos meninos, mal posso esperar para sair com eles e nos divertirmos. Passeios, lanches fora, viagens em família (se é que Rafaella deixará passar esse meu atrevimento dizendo ser minha família). Tenho me adaptado um pouco com a vida de adulto, tive um pingo de sorte, com a partida de José e sua equipe, não há muito o que fazer vindo da minha deusa. Está livre e destinada a desfrutar de cada segundo dos próximos dias até que a responsabilidade diga o contrário.

Loreto não é um vilão, falando abertamente (abrindo mão do meu orgulho) posso dizer que ele facilita minha integração. Suas origens portuguesas são dispensáveis culturalmente na residência, ele nem deve ter tentado. As crianças falam espanhol, seria errado dizer que são gênios da língua mas falam muito bem e só a utilizam na presença dos avós, não se nega o próprio sangue e as próprias origens.

Nem sei o que esperar quando os pais de Rafaella descobrirem algo. E está tudo indo mais devagar do que eu imaginava, ainda nenhuma palavra de amor e empatia, durante as idas à cama só ouço um "Gi" gemido. Desejo imensamente achar uma forma de lembrá-la que houve mais do que dias ruins, algo que lhe aqueça o coração.

- Desculpe a demora! - Gabriel veio andando esquisito até entrar na água. - O meu xixi estava demorando um pouco. - deu de ombros.

Dei dois tapinhas no seu ombro.

- Também odeio ereções! - falei óbvia.

O garoto arregalou os olhos e ficou todo vermelho, pela primeira vez se sentindo nu vestindo somente a sunga.

- Informação totalmente desnecessária... Mas você disse o que disse, então...Não que fosse o meu caso, mas... O que você disse foi... Uhm... Foi dito... Podemos voltar ao ponto? - tentou se reafirmar ainda muito sem graça.

Esforcei-me para não rir, comprimi os lábios muito sacana e os umedeci.

- Você que manda, filho.

- Muito obrigado! - pôs ênfase. - Onde estávamos?

Estendi os braços sobre a água com certa leveza.

- Você irá deitar de bruços sobre os meus braços e será como flutuar sobre a água, mas com proteção extra.

Concordou com a cabeça e o fez, deitou devagar ainda inseguro porém tentou manter a calma. Seu peito tocava parcialmente o azul debaixo, tremia um pouco, não pelo frio, certamente pelo pânico. Ele tinha a capacidade de nadar, pelas minhas contas já poderia estar nadando freneticamente por este espaço vasto e fluido. Entretanto, seu medo o impede de fazer dezenas de coisas que teoricamente ele pode fazer.

- Mova seus braços e pernas num ritmo só como eu te ensinei. - pedi.

Esticou o braço direito para frente e em seguida o contraiu de volta acumulando água em seus palmos em concha, como um nadador nato faria. Em seguida o braço esquerdo.

Direito.

Esquerdo.

Direito.

Esquerdo.

- Está sendo mais fácil do que eu imaginava. - disse quase sem fôlego.

- Sempre soube que seria, você leva jeito. - falei orgulhosa. - Na sua idade eu queria muito fazer natação, mas sabe... Eu sou intersexual, então roupa de banho num lugar público era impensável. - ri escassa.

De Repente Nós (Girafa/G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora