Capítulo 34

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Então fui direto ao ponto. Li. Assim seco e sem mais demoras.

"Com base nos exames realizados em Hariany Almeida Bicalho consta-se que o resultado é..."

Minhas pernas fraquejaram, olhos se arregalaram, quase desmaiei e cambaleei para trás, caindo sentada no vaso sanitário.

— Baby, está tudo bem?

Não pude responder, naturalmente não estava bem, se ao menos soubesse como me sentir.

"Reagente/Positivo."

Como diria aquilo à ela?  

Eu preciso contar à ela. 


Estamos juntas e mais fortes do que nunca, se há um momento pra que eu seja sincera é este em que me encontro. Vou esperar até o jantar, fazê-la relaxar antes me parecem ótimas maneiras de acalmar os nervos, porém ela merece a verdade seca e dolorosa. A criança não tem culpa, é somente um ser inocente que mesmo mudando a realidade está aqui por acaso da escolha do universo, uma alma branda que infelizmente me arrisca.

Espero que a Rafa compreenda. Massageei minhas têmporas e respirei fundo; permaneci sentada no vaso, de costas curvadas até que forçaram a porta mais uma vez. 

— Gi, estou preocupada... Diga algo. — forçou novamente. — Gi! — bateu na porta.

Minha percepção de tempo estava falha, o intervalo de tempo que levei para me acalmar deve ter sido bem mais extenso do que imaginei ao sentar ali, levantei com cautela de expressão mórbida e suando frio, o papel preso entre meus dedos por pouco, pois eu não depositei forças propositais de segurá-lo. Destranquei a porta lentamente, a maçaneta girou pelo lado de fora. Eis que surgiu a minha mulher.

— Rafa... — nada mais que um quase sussurro. — Não me deixe.

Preocupou-se. Era visível em sua expressão de moça perdida, sentiu medo. Pelas poucas palavras que disse junto com minha linguagem corporal, era óbvio a gravidade. Analisou o meu rosto enquanto fiquei parada a encará-la, tocou meu antebraço e o apertou.

— Meu Deus, Gi, está suando frio!

Tocou com mais rapidez e brusquidão meu pescoço, meu outro braço e minha testa.

— O que aconteceu? Está se sentindo mal? — checou-me como um médico.

Teria de ser agora, sem falta. Me recompus tentando compactar as emoções num espaço minúsculo e deixei a razão se expandir, como um adulto faria, como a adulta que sou e devo ser. Ela esperou minha resposta, viu minha mudança de postura. Sua preocupação deixou de ser afetuosa, deu o lugar àquela mais desconfiada. Faltava somente que chegássemos ao ponto, deixei meu olhar cair até minha mão que segurava o resultado, o dela o acompanhou.

— Rafaella, nós precisamos conversar. — passei por ela segurando sua mão e a trazendo comigo até a cama.

A fiz sentar de frente pra mim. Minhas mãos inquietas acentuavam cada vez mais o documento nelas.

— Está me assustando, Gizelly... — falou angustiada.

A pior parte de qualquer coisa significativa é o começo, quando não se sabe qual é o passo correto a se tomar, qual direção seguir, contudo precisa ser feito. Medi as palavras procurando começar de forma razoável, a cada segundo que perdia em silêncio era justamente o que alimentava o medo e ansiedade que tanto abomino.

De Repente Nós (Girafa/G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora