Capítulo 23

1.1K 101 27
                                    


Enquanto Rafaella tomava banho, esperei sentada na ponta da cama como fiz antes. Com a mesma expressão de quem precisa dizer algo importante, com um discurso de sentimentos em mãos. Não estava vestindo roupas formais, longe disso, somente meu traje de dormir feito por duas peças de roupa, aproveitar que as crianças estão dormindo, assim como tantas outras vezes que dependemos da distração alheia para uma estar com a outra. Aproveitar uma soneca, um cômodo escuro, a escola deles.

Não aproveitar ao pé da letra, pois tem causado mais ataques de saudades e ansiedade do que sorrisos de felicidade, momentos com ela são perfeitos, mas quem dera não sofrer tanto quando estou sem eles. Precisamos de apenas um lugar que seja seguro pra nós. Onde poderemos respirar aliviadas ao toque uma da outra.

— Gizelly, nem tente. — exalou o ar pelo nariz deixando claro seu cansaço acabando de sair do banheiro.

Vestida num roupão, assim como quando nosso caso começou, desta vez mais desgastada e chateada do que anteriormente. Não havia raiva, havia dor, confusão, cansaço. Fui a última pessoa que ela quis ver depois do susto de quase termos sido descobertas, e pode até ser que fomos, dependendo de Mari e seu faro para malandragem (o que quase nunca falha).

— Não vim aqui para tentar te levar pra cama, muito menos tentar lhe forçar a fazer algo que não queira. Tudo o que eu quero é dizer que eu sinto saudades. As crianças foram dormir, essa é nossa hora dourada e o tempo que ficamos na cama é ótimo. — comecei a lacrimejar — Mas se eu pudesse aproveitar com você o tempo fora dela seria a melhor coisa do mundo. — Rafaella descruzou os braços se tornando mais frágil. — Pra você, essa loucura começou dessa mesma forma que estamos nesse minuto, com você não querendo me ver e eu com muito a dizer sobre o que sinto, exatamente nas mesmas posições de agora. Para mim, essa loucura começou quando eu acordei um dia numa vida que não me pertencia e ao lado de uma mulher que não é você. — olhei para cima evitando deixar as lágrimas escorrerem.

A morena sentou ao meu lado encarando o chão com as mãos juntas sobre o colo.

— Minha vida estava uma merda, Rafa. Estava uma merda até você aparecer com nossos filhos. Quando você sorri toda a beleza do mundo faz sentido e todas as cores se tornam vívidas, sua presença faz com que qualquer situação tenha uma saída. A Gizelly que te fez mal e a Gizelly que está aqui com você, jamais será a mesma pessoa. Lembre-se de como era ótimo podermos nos amar sem ser escondido como duas bandidas, como eu poderia segurar sua mão em qualquer lugar, passar os braços pelos seus ombros sem que tudo pudesse acabar em um escândalo, por favor, faça um mínimo de esforço para se lembrar.

Abri as mãos expondo o colar, o colar do Sol e da Lua que com tanto amor e carinho eu lhe dei. Seus olhos arrastaram-se pairando sobre o mesmo, fitou os meus próprios olhos indagando sem palavras "É ele?", pelas minhas lágrimas inevitáveis ficou claro que era o mesmo, um pouco mais frouxo, um pouco arranhado e empoeirado. O danado seria perceptível mesmo pelos próximos cinquenta anos se o visse. O pingente do eclipse eternamente simbolizava o nosso romance proibido e o fazia antes mesmo dele passar por isso, o destino nos pegou de jeito.

— De maneira nenhuma imploraria pelo seu divórcio agora, nem eu posso fazê-lo com as circunstâncias que nos envolvem. Nem implorar pra que esqueça de tudo o que passou pelos últimos anos, muito menos suplicar pelo seu amor de volta. — funguei com o queixo trêmulo do pranto. — Mas quando eu vi que esse meu presente ainda estava guardado, tive um mínimo de esperança de você poder me amar como antes. Pode ser ridículo, eu sei. Mas, felizmente Gabriel encontrou isso nas caixas velhas. — ri sem humor. — E estar ao seu lado, faz com que eu me sinta em casa, me traz conforto, mesmo nos piores dias. Então eu imploro, me beije como se me amasse, pode fingir se quiser, nem precisa dizer que me ama se o fizer, mas por favor... — dei ênfase. — Me proteja desse meu medo de te perder de novo. — não suportei a angústia e chorei sem estribeiras, me perdendo novamente.

De Repente Nós (Girafa/G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora