Capítulo 33

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O dia amanheceu sem muita tardia. Afinal, tudo o que é meramente passageiro em nosso saber interno, mesmo que sempre nos abrace o peito ao projetar da lembrança, faz parecer um sonho quando olhamos para trás, de tão repentino que é. Madrugada passada foi tenso, eu ainda estava anestesiada, porém muito feliz. Tomei banho bem cedo, aproveitando para fazer minha higiene matinal. E não demorei para descer pro café, visto que ainda havia algumas coisas a serem resolvidas.

Assim, sentados à mesa da cozinha, confusos, ansiosos e até mesmo receosos, era hora de tratarmos com maturidade e paciência os assuntos da noite passada.

— Pois aqui estamos... — Gabriel murmurou.

Ficou até bem interessado. Quem não estaria? Na cadeira ao lado oposto ele ficou sentado de boa postura, usando roupas de baixo, cabelos úmidos do banho, tinha olhos inquietos, desarmados e frágeis que buscavam as imagens dos adultos presentes, apressando em gestos o debater. Pensei que ficaria enraivecido, que se fecharia e temeria ao extremo as palavras que aqui devem ser ditas, contudo me admiro em vê-lo assim disposto e de guarda baixa. Sua irmã também estava diferente, para começar havia postura... Começou catastrófico! Acostumei-me a ver Sofia sentada à mesa como uma criança inquieta, agora a mocinha demonstra-se juíza, promotora, advogada e suprema tudo na mesma pessoa. Como de praxe, ao lado do irmão.

Naturalmente, Rafaella sentava-se ao meu lado demonstrando-se preocupada. Eu não a culpo, há muito o que se preocupar, é difícil aceitar a verdade quando se descobre que a mesma é mentira! E assim ela temia pelos nossos filhos (os três, e digo com orgulho) pela maneira que eles podem acabar não aceitando o proposto, o mais propenso e salvação absoluta discutida entre esses mais velhos pecadores.

— Sua xícara de chá, como prometido, Bicalho!

Loreto, de muito bom grado, me entregou o chá e sentou-se ao lado esquerdo de Rafaella, enquanto eu estava ao lado direito dela e forçada a fugir dos direitos de criar os antigos mal-dizeres quanto a esse homem. O chamei de desatento, impotente e desprovido de companheirismo, mas vejo que na verdade ele privou-se de noites de desejo para fingir que as tinha com a mulher que dizia que era dele. Na verdade, o que ele fez pela sua simples colega de teatro, é no mínimo admirável.

— Muito obrigada, José. — sorri, soprei o esfumaçar saindo da xícara e provei o conteúdo. — Está muito bom! Quer provar, Theo?

O pequeno também estava presente, claro, era mais que justo. Obviamente ele não entenderia a situação ou dois terços das palavras que disséssemos, mas ele vale à pena estar por perto nos relembrando que devemos manter a calma e o real motivo da reunião em si, uma vida realmente feliz àqueles que não a tiveram e aqueles que não perceberam que seja mudada a rotina sem causar traumas. O mesmo pequeno andava desequilibrado, ainda estava pegando o jeito, vagando pela extensão da cozinha sem fugir do nosso olhar.

— Mama tigue... — murmurou desconfiado olhando o líquido que lhe oferecia.

— É chá, meu amor, como você gosta.

Seus olhos brilharam encostando a boca na borda da xícara e catando com a ponta da língua o máximo que pode, gargalhou no final e bateu palmas saboreando o dulçor que lhe ficara na língua.

— Rafa, ele é tão perfeito! — me contorci de compaixão olhando minha mulher.

A mesma nem se atreveria a negar, encheu-se de orgulho e sorriu com a língua entre os dentes (algo que ela havia deixado de fazer há tempos), fluidos de nostalgia moveram-me e pressionaram nossos lábios carinhosamente. Ela aceitou quase com tanta iniciativa quanto a minha de fazê-lo, eu particularmente o fiz por ser incapaz de expressar em palavras a satisfação de somente poder agradecê-la em me dar três presentes lindos. Desde o mais branquelo, lindo e rabugento; a mais ingênua, engraçada e espontânea até o menorzinho, agitado, babão e adorável.

De Repente Nós (Girafa/G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora