Mili-helena

2.1K 261 38
                                    

Mili-helena (s. f.):
Unidade de medida da beleza feminina. Os gregos acreditavam que era a quantidade de beleza necessária para lançar uma única nau ao mar.

Point Of View Charlotte

Caminhar pelas ruelas de Chania era o mesmo que se sentir ser arremessado pra dentro das páginas dos livros de história que estudávamos no colégio. A cidade era diferente de tudo aquilo que já havíamos visto na Grécia até o momento. Nada de casinhas brancas brilhando ao sol do mediterrâneo, em Chania tudo era rocha, solidez e cores quentes de cidade italiana medieval. Até um forte com muralhas existia na cidade. Andei por Chania maravilhada com tudo o que meus olhos podiam capturar, mas a melhor das maravilhas da cidade era sem dúvida a sensação dos dedos da Engfa entrelaçados aos meus.

Desde Balos, algo entre nós havia mudado. Nenhuma palavra a mais sobre o assunto que pairava entre nós foi dita. Nenhum gesto fora do comum aconteceu. As únicas diferenças eram o brilho nos olhos dela e o calor de sua mão envolvendo a minha. Seu polegar desenhando pequenos círculos na minha pele enquanto eu a arrastava pelas ruas pedregosas. Engfa era apaixonada pela cultura italiana, então achei que Chania seria um prato cheio pra ela devido aos anos de dominação veneziana na região, além de ser a cidade mais próxima do porto de Souda, aonde estava atracado nosso navio. Tínhamos poucas horas para explorar a cidade, por isso fiz um roteiro de turismo limitado pra nós duas, mas que envolvia lugares que eu sabia que deixariam Engfa feliz de ter conhecido a cidade.

Nossa primeira parada foi na Ágora de Chania, uma espécie de mercado Municipal local, funcionando em uma construção antiga em forma de cruz aonde poderíamos comer comidas tradicionais enquanto observávamos os demais turistas. E eu devo admitir que estava faminta depois de nossas horas de praia naquela manhã, só não imaginava que fosse ter dificuldades para encontrar algo pra comer que não tivesse carne de cordeiro ou frutos do mar, mas P'fa tomou como missão encontrar alguma opção vegetariana pra mim, então deixei que ela finalmente soltasse minha mão e disparasse na frente em busca do almoço, enquanto eu apenas passeava pelo mercado observando as lojinhas de artesanato.

A mais velha voltou cerca de 15 minutos depois com duas sacolas de comida, anunciando feliz que havia encontrado almoço e sobremesa para nós. Decidimos então sair do mercado e nos sentar no jardim público na rua ao lado para almoçar. Encontramos um banco e ela se sentou de frente pra mim, abrindo as sacolas entre nós e me entregando o que parecia ser um pedaço de torta estranha.

- Spanakopita. É uma espécie de torta recheada com espinafre, queijo feta e azeite. - Ela explicou ao ver minha cara desconfiada. - Ou pelo menos foi o que eu entendi do que o cara da barraquinha explicou. - Deu de ombros me fazendo rir.

Assim que terminamos as spanakopitas, Engfa abriu a segunda sacola, revelando uma caixa cheia de bolinhos fritos cobertos com mel e pedacinhos de nozes. Ela pegou um dos bolinhos e trouxe em direção à minha boca, me oferecendo o doce.

- Loukoumades. A versão grega do bolinho de chuva, que eu sei que você ama. Só que com mel e nozes. Prova.

Mordi o bolinho devagar, sem desviar o olhar do dela, sentindo o mel sujar meus lábios e o sabor doce invadir minha boca. Engfa me observava atenta, prestando atenção a todas as minhas reações. Ser observada assim fez meu coração se acelerar de ansiedade e vontade de fazer minha melhor amiga provar a sobremesa através do gosto dos meus lábios. Mas apesar de achar que agora estávamos na mesma página, eu ainda tinha um pouco de receio da reação que ela poderia ter, de sentir minha bolha de alegria se estourar e ser lançada novamente á realidade aonde éramos apenas melhores amigas. Por isso deixei que ela me desse a outra metade do doce enquanto seus olhos pareciam me despir a alma a sua frente.

Presente de GregoOnde histórias criam vida. Descubra agora