Harpócrates (s.):
Na mitologia grega, o deus do silêncio. É a representação do sol nascente, o deus egípcio Heros quando criança.Point Of View Engfa
Silêncio. A maioria das pessoas não sabem valorizar essa palavra. Silêncio na minha opinião sempre foi algo maravilhoso, pessoas falam demais, alto demais e nem ao menos se permitem pensar, se permitem silenciar. Ninguém nunca entendeu muito bem o porquê eu gosto tanto do silêncio mas eu sinceramente acho que é porque elas não conseguem enxergar a beleza no ato de se ouvir primeiro.
Em um encontro, por exemplo, uma das partes está sempre muito focado em não deixar o assunto acabar, como se a entrada do silêncio significasse o fim do flerte. Em uma entrevista de emprego, aquele que quer o emprego não consegue controlar a ansiedade em falar, falar e falar, utilizar das palavras pra conseguir convencer que é apto para o cargo, em contra partida aquele que contrata adora usar o silêncio como arma, a fim de desestruturar quem está na sua frente. Pensando bem, talvez seja por isso que o silêncio seja tão atacado, normalmente o utilizam na intenção de ferir o outro. Se silenciam pra ignorar, param de falar pra machucar o outro, deixa que a boca pare mas não consegue desligar a mente que continua a gritar.
No silêncio é que a alma fala, que a batida do coração conta os segredos e que o amor habita. Dois apaixonados que cruzam os olhares e não precisam verbalizar pra saber que ali está o amor. Mãe que não precisa gritar pra repreender o erro de seu filho. Filho que é capaz de pedir desculpas muito mais sinceras silenciosamente do que só o ato de dizer me desculpa. As pessoas acham que relacionamentos acabam quando o verbo morre, eu sempre achei que relacionamentos acabam por não ter respeito ao silêncio.
Ao refletir sobre o silêncio preciso retificar a sentença: Ninguém nunca entendeu muito bem o porquê eu gosto tanto do silêncio, menos Charlotte. Ela sempre adorou ficar do meu lado sem falar nada, ela quando me vê triste demais e sem condições humanas de proferir uma palavra coerente apenas assente, senta do meu lado e vive o meu silêncio, nosso silêncio. Ficar calada perto de Charlotte não é incômodo, é dádiva. Não tenho como contar a quantidade de vezes que jantamos em silêncio, nos consolamos em silêncio, nos amamos em silêncio. E em todos esses anos, eu nunca me senti incomodada ou desesperada pra encontrar uma palavra que pudesse ser dita, uma piada que pudesse quebrar o gelo ou qualquer coisa que tirasse de dentro de mim, o nó que se formou em minhas entranhas.
Nunca... até hoje.
No caminho até o navio, fui tomada pelo desespero de não saber como seria o amanhã, por mais que minha vida fosse sempre um recheio de incertezas, uma única verdade era absoluta: Charlotte Austin é a minha pessoa. Em frente ao desconhecido eu nunca sei agir, é sempre ela quem toma as rédeas e me convence de que vai ficar tudo bem, mas de repente é o seu olhar que precisa ser clareado, ela desviava o olhar do meu, se sentou a uma distância segura pra ela e parecia envergonhada, não parava de morder os lábios ao me encarar quando pensava que eu não estava olhando, me deixando em dúvida sobre a pureza de seus pensamentos.
Eu me calei. Não consegui pensar em nada que explicasse tudo aquilo que eu estava sentindo e não podia meter os pés pelas mãos com Charlotte, eu nem ao menos deixei que minha mente reproduzisse nosso beijo, seus lábios, seu gosto, suas mãos firmes em minha cintura... Droga, não. Hora de silenciar a mente também. Nesse momento estamos as duas no quarto do navio que exemplifica nosso sonho, vivendo o sonho e pela primeira vez na vida, nosso silêncio incomodava.
Charlotte com muito custo e ajuda minha, trocou de roupa, ou no caso, tirou as roupas pra dormir, apenas de calcinha, e esse mínimo e corriqueiro gesto fez com que eu precisasse fechar meus olhos. Droga de álcool. Precisei ir ao banheiro lavar o rosto e acabei optando por um banho gelado, o barulho da água em contraste com minha pele me fazia querer gritar, acho que agora eu entendo porque as pessoas não gostam de ficar em silêncio, qualquer coisa seria útil pra me dispersar dos caminhos que minha mente queria me levar. Aquela pessoa na cama é sua melhor amiga. Repeti pela milésima vez na noite. Não dava pra ficar a noite toda trancada no banheiro, até porque independentemente do quão bêbada Charlotte pareça estar, logo menos ela me arrastaria pra fora daquele lugar. Coloco meu pijama e saio, respirando fundo e indo direto pro celular colocar qualquer música que preenchesse esse silêncio maldito.
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Presente de Grego
FanfictionEngfa e Charlotte são melhores amigas a vida toda e ambas têm o sonho de viajar para Grécia. A oportunidade de realizar esse sonho está em um concurso para o dia dos namorados que oferece com tudo pago a viajem ao casal que provar ter a melhor histó...