Páthos

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Páthos (adj.):
Termo grego que pode designar uma paixão reprimida, vivida em sofrimento passivo.

Point Of View Charlotte

Poucas coisas na vida me deixavam nervosa. Aquela situação talvez ocupasse o primeiro lugar na lista dessas coisas. Eu estava prestes a vomitar meu coração inteirinho. Me senti anestesiada, com o rosto queimando, como se eu fosse quebrar com um mínimo movimento. Aquela frase injetou todo nervosismo do universo pra dentro do meu corpo

Queria que fosse possível calcular quantos pensamentos passam pela mente de alguém quando é acionado o modo "a gente precisa conversar". Essa frase e suas variações, como por exemplo, "posso te perguntar uma coisa?" trazia consigo mais significados do que a língua inglesa seria capaz de expressar e a matemática seria capaz de contar. Daquela vez em específico, eu sabia muito bem a pauta da conversa.

Eu sempre tive muito claro na cabeça a ideia de que uma amizade pode facilmente ser desenvolvida ou até mesmo confundida com algo a mais. Geralmente costumam fugir disso como o diabo foge da cruz, as pessoas da minha idade costumam chamar de "friendzone", mas eu nem acho que isso exista.

É completamente compreensível que duas pessoas que se amam passem a nutrir outros sentimentos uma pela outra. Tem amizades tão fortes que a outra pessoa conhece seus defeitos, suas manias, sua história, seus vícios bobos, seus segredos, sua família, e mesmo assim, te ama. Como Engfa comigo, e vice-versa.

- O que está acontecendo? - Ela foi a primeira a quebrar o silêncio, se sentindo tão desconfortável quanto eu.

- Eu não sei. - Não adiantava mentir pra pessoa que mais me conhece no mundo. - No que você está pensando?

Engfa me direcionou um olhar assustado, suspirando pesadamente. Comprimi os lábios e a abracei por ser a única coisa que eu poderia fazer, mas ciente de que talvez eu representasse tudo que a amedronta no momento.

- É que com você não é só uns beijos, Lotte. - Engfa suspirou, desviando o olhar como se evitasse me encarar. - Eu não posso arriscar te perder.

- Você não vai me perder, pequena. - Garanti com o máximo de certeza que eu pude.

- Você não sabe disso. - Ela rebateu.

- Nem você, ué. - Afastei uma mecha de cabelo do seu rosto com carinho. - Do que é que você tem medo?

- Você sabe como eu sou, Lotte. - Engfa falava com a voz embargada. - Eu não vou conseguir lidar se eu te magoar.

- Eu sei e eu te amo. - Sussurrei com um meio sorriso.

Eu sabia dos riscos. Sabia de todos os poréns e que não eram poucos. Não era só o que a gente sentia, eram anos de amizade, envolvia a minha família e a dela, não tinha como ignorar nada disso. Por mais que o sentimento fosse novo pra nós duas, eu sabia muito bem onde estava me metendo.

Poxa, era Engfa, afinal de contas. A mesma mulher que eu já amava, que me conhecia do avesso, e que agora estava me deixando louca de vontade de beijá-la, de conhecê-la, descobrí-la e vivê-la de tantas outras formas que eu ainda não fazia ideia. Pela primeira vez na minha vida, Engfa estava sendo a única protagonista do meu interesse por um só alguém.

- Você... Gosta de mim? - Os olhos de um ursinho de pelúcia pareciam pertencer a ela agora.

- Você. - Devolvi a pergunta apontando pra ela. - Gosta de mim?

- Defina gostar.

- Sério, Engfa? - Dei uma risada fraca e segurei seu rosto, encorajando-a a falar olhando pra mim.

Presente de GregoOnde histórias criam vida. Descubra agora