Pareidolia

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Pareidolia (s.m.):
Fenômeno psicológico que explica um estímulo ou percepção diferente do que se é, como ver formas em nuvens.

Point Of View Engfa

Fiquei impressionada com a naturalidade que meu "namoro" com Charlotte foi aceito. Minha mãe desatou a fazer perguntas sobre tudo, como começou, de que jeito, onde, quando, porquê. Mil e uma perguntas e um olhar doce em minha direção que eu nunca tinha recebido desde que ela soube de minhas possíveis preferências. Era sempre assim, todos os sábados Dona Fa Ying aparecia lá em casa e levava um monte de comida, lavava a louça suja e tomava café da manhã comigo e com Plaifa... e com Lotte a maioria das vezes.

Antes era como se ela encarasse essa parte da minha vida como uma curiosidade passageira, lógico que após os anos ela se deu conta que era mais que isso, mas minhas idas e vindas entre mulheres e homens a confundiam, eu não a julgava, ela podia torcer pra que eu ficasse com um homem se isso a fazia sentir melhor, contanto claro que não fingisse que minhas próprias escolhas não existiam, esse era o meio caminho que encontramos pra tornar nossa convivência favorável, depois da grande confusão.

Minha mãe fingia que estava tudo bem meu namoro com alguém do mesmo sexo, eu fingia que ela aceitava de todo coração e assim vivíamos. Mas não dessa vez, a reação dela foi quase de euforia, como se ela tivesse feliz por mim, por nós até, porque não parava de abraçar Charlotte e rir com ela, claro que isso era normal, Lotte é família e sempre foi muito bem tratada. Nem parece a mesma mulher que enquanto eu crescia me advertia pra que não deixasse que as "pessoas da cidade" confundisse minha amizade com a filha da Joan, por motivos óbvios de que a sexualidade de Heidi sempre foi muito exposta a todos que quisessem ver.

Eu fiquei tão boba com sua reação e com a empolgação de Plaifa, que Charlotte teve que responder a maioria das perguntas e eu quase não consegui registrar as respostas. Meu Deus, ela podia não ser tão boa atriz! Até eu estava quase acreditando em nossa história. Charlotte era incapaz de contar uma mentira, mas adorava quando tinha que entrar em um personagem, porque pra ela isso era parte da atuação. Um outro sonho meu é que ela pudesse viver essa parte da sua vida, o teatro e a arte estão perdendo Charlotte Austin e não que eu tivesse dúvidas mas diante de sua mais nova interpretação, eu queria a indicar pro Oscar.

- Engfa, mamãe já vai viu? - A voz de minha mãe me tirou do devaneio. - Não vai abrir o pet shop hoje? - Perguntou.

- Não, hoje é sábado e só tem os clientes de sempre agendados, Sulax consegue cuidar de tudo.

- Ah sim, me acompanha até a porta? - Dona Ying indicou a direção com a cabeça, eu estranhei mas resolvi não contrariar pedido de mãe.

- Você está feliz? - Ela me perguntou afagando com carinho meu braço.

Fiz que sim com a cabeça sem saber aonde essa conversa chegaria.

- Eu demorei muito tempo pra entender filha, na verdade, até hoje não entendo, mas pela primeira vez eu sinto que isso é certo. - Minha mãe sorriu com carinho. - Você e Char se amam tanto que não tem como ser errado.

Pela primeira vez desde que aquela loucura tinha se iniciado eu me senti mal por mentir, enganar Plaifa é engraçado, zoar Nudee é corriqueiro, ter Heidi, Marima e Tina implicando é normal, mas ter o apoio e a aceitação integral de minha mãe é... talvez a melhor coisa que já me aconteceu. Não importa quantos anos você tenha, não importa quão bem realizada você possa ser, as opiniões de nossos pais sempre vão ter grande impacto em nossa vida. E também pela primeira vez desde que eu li aquele folheto, eu desejei que fosse real, não necessariamente meu relaciomento com Charlotte, mas com certeza a aceitação de minha família. Abracei minha mãe pra que ela não tentasse ler minha expressão.

Presente de GregoOnde histórias criam vida. Descubra agora