12.

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Bota da paz.

O barulho daqueles saltos, se alongando junto com a forma de andar. Os olhos verdes atentos, observando cada passo de cada pessoa, sempre destinada a saída do lugar. As palavras curtas e sem interação, mantendo seus pensamentos aguçados enquanto o restante das companhias se comunicavam com ela- quase todas as vezes sem resposta, apenas um meio sorriso bastava.

Eu poderia ficar maluco, poderia estar maluco nesse exato momento. Aquele, simples e tão calmo rosto, não era capaz de fazer mal a qualquer pessoa sem sentir remorso. Definitivamente Charlotte Boss não era o tipo de mulher que matava, era tudo que ela definitivamente é, mas uma assassina, maligna.. não.

Em alguma coisas combinamos afinal, é melhor observar do que participar da conversa sem fundamento ou importância.

-É interessante como as coisas mudam..- uma das companhias de Harry disse, por algum motivo encarando Charlotte.

Era um homem da minha idade, alto e moreno. Usava um chapéu simples, ele porventura não era nada singelo. Qualquer um podia ver os seus olhares sobre Boss, os comentários sugestivos e até sua direção corporal. A mulher mal deu atenção para ele, mas algo em sua próxima frase me dizia que estava pronto para ouvir uma resposta rude.

-A última vez que nós vimos a senhora era muito mais nova..- ele sorriu de canto, parecia encantador.

-Minha irmã tem a incrível capacidade de nunca envelhecer..-Caesar sorriu presunçoso, entendendo assim como todos sobre as intenções do rapaz.

-Todos nós ganhamos alguma idade e experiência, você também, se é o que quer ouvir..-Charlotte soltou a fumaça do seu terceiro cigarro, encarando os olhos com pudor e seriedade.

-Eu gosto de pensar que tive boas motivações para conseguir alguma experiência- ele sobressaiu a mulher, dando uma resposta fraca demais para o tipo de provocação que os olhos dela definiram.

-Eu tive tanta experiência que acabei me tornando pai, busque o mesmo caminho..-Harry tentou cortar sua companhia, percebendo quando os olhos de sua irmã nem ao menos piscaram. Charlotte fez isso dezenas de vezes, encarando-os fixamente nos olhos.

Essa era a personalidade gritante dentre aquele pequeno instante em que fiquei preso a presença deles. Uma mulher orgulhosa, orgulhosa de certo modo de que se empinava para ser superior a todos. Eu tenho dúvidas se de fato não é. Entretanto, a coisas em seus modos de andar, falar, respirar e até mesmo fumar. Ela mostrou ser extremamente o que parecia, rica e esnobe.

O questionamento é se eu posso aguentar isso por uma simples amizade, quantos conflitos nossas diferenças de classe, poder e até mesmo personalidade podem causar para esse batizado. Porventura isso não ocorra, ela não me olha, não fala comigo e nem se dá ao trabalho de se lembrar da minha presença. Porventura permaneça onde está, e simplesmente esqueça da minha existência.

Mas eu, eu não posso. Charlotte tirou uma possibilidade de mim, e por mais doloroso que tivesse sido esse ponto final ainda tinha alguma esperança no coração. Eu posso me beneficiar com isso, e meu único objetivo é ser rápido o suficiente para tornar isso menos doloroso.

Não importa o que ela seja, não importa o que já fez, vai passar cada gota do ódio que me fez sentir.

Não demorou muito para Harry dar um jeito de tirar o rapaz anterior de perto da irmã, ele deu uma desculpa e se livrou das companhias que não fossem das duas famílias. Notei que algumas pessoas dentro do salão observavam e comentavam sobre as nossas famílias estarem juntas, mas também ouvi quando Harry disse a John que sua irmã não se importava.

E então estávamos Arthur e eu ao lado de John, enquanto Charlotte tomava o acento do sofá reservado apenas para nós, afastado do salão mas bem posicionado para a chegada de garçons. Seu animal te seguia constantemente, e se sentou ao seu lado, ereto e atento.

Boss lady [Peaky Blinders]Onde histórias criam vida. Descubra agora