22.

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Encarei a tigela a minha frente, observando enquanto nossos sangues se misturavam. John fez uma careta, a sensação era de formigamento mas não tenho certeza se ele estava acostumado a juntar feridas.

Meu sangue estava caindo em excesso, e eu sabia o que isso significava. Meus remédios reservas são fracos demais, e talvez eu tenha apenas o suficiente para sobreviver a duas semanas nessa cidade.

A viagem era uma peça fundamental, e talvez John fosse minha pouca esperança para fazer seu irmão notar a idiotice em que está se metendo.

Eu não me importo com a moral dele, me importo de estar prestes a morrer por que Miranda abriu a boca para alguém que não deveria. Não matei as pessoas próximas de Campbell por nada, mesmo que, minimamente, pudesse o fazer sem motivo nenhum.

Saber demais é sempre uma passagem para o sucesso ou para morte, tudo depende de para quem você vai contar.

Assim que John soltou minha mão, notei que a dele já havia cessado o sangramento. Minha mão, por outro lado, estava curiosamente sangrando excessivamente, com se estivesse sendo cortada inúmeras vezes.

Minha mente se bagunçou o suficiente, e quando notei estava na sala ao lado do grande salão. Harry estava ao meu lado, segurando meu pulso abaixo da água corrente.

—Poderia ter dito..– ele reclamou novamente.

—Isso não ajuda em nada!– ouvi quando Caesar se opôs.

Meus irmãos tem o péssimo hábito de discutirem sem razão. Um hábito que porventura tenha sido tirado de mim.

—Parem de brigar por um segundo!– reclamei, soltando o contato de Harry e indo até o outro canto da sala.

Todos notaram quando minhas pernas cambaleando me levaram ao pequeno degrau.

—Lotte..– a voz de Emma tomou os meus tímpanos, e a sensação de fraqueza voltou ao meu corpo.

Era torturante, agonizante, quase como um suicídio silencioso. Não deveria me importar, mas me importo. Eles eram frágeis, eram dependentes, e talvez a fraqueza que eu tanto apontei ao meu pai tenha se tornado minha.

Charlotte— anos atrás:

—Isso realmente importa?– olhei para Richard, agressivamente– sua esposa está te roubando, você sabe que precisamos guardar dinheiro.

—Você não tem que me explicar o básico..– ele responde no mesmo nível de autoridade.

—Não é o que parece, pai– dessa vez tentei entender o porque de todo esse fingimento– estão te sugando, e você fica quieto como um covarde!

—O que quer dizer, Charlotte?!– ele perguntou em tom de voz mais alto dessa vez– você não tem que se meter nas coisas dessa forma.

—Porra..– bufei, olhando para a janela por um momento– você quer mesmo conversar sobre o que eu tenho direito de fazer, Richard?!

—Não me chame assim..– a voz dele ficou mansa por um momento, mostrando que não estava gostando do rumo dessa conversa.

Me virei para o mais velho novamente, com uma raiva instalada em meus olhos. Richard sabia que aquilo não era bom, sabia que eu tinha descoberto muitas coisas, coisas que talvez não afetassem ele como uma traição. 

Para mim era totalmente diferente, roubar da família era como roubar da igreja, é um pecado sem perdão. Tampouco para coisas tão inúteis como: sapatos e bolsas de grife.

Boss lady [Peaky Blinders]Onde histórias criam vida. Descubra agora