23.

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Me contive como pude, me reprimi como nunca. As certezas que tanto afirmei na realidade não eram nada, e as que tenho agora são vazias. Infundado, foi como pela terceira vez encarei os olhos verdes.

Hábito esse que, para a ruína da minha alma, não poderia ser pior. Olha-la tão disposta, significativamente liberta. Me pergunto onde tanta liberdade foi estar por todo esse período de tempo. Porventura fosse uma ilusão da minha cabeça, mas a forma como ela se moveu me deu liberdades.

Liberdades essa que, aparentemente, estou prestes a tomar. Caminhei até a mulher no balcão, enquanto insignificantemente ela virava o seu copo de whisky. Quando Charlotte se virou para frente, prestes a voltar para o seu pedestal, já estava a sua frente.

Parado como o nada que eu era, diante dela. Estava na hora de simplesmente aceitar, de analizar o quanto mentir é um erro nessa questão.

-Posso te ajudar?- ela encostou os braços no balcão, tentando manter uma distância entre nos dois.

Não disse uma palavra, parecia inútil. Ajudar é mais do que ela pode, mas parece ser a única migalha que quer me proporcionar. Eu poderia ficar com raiva, com raiva de todas as coisas relacionadas a ela, mas ao invés disso estou agindo como um adolescente.

Quem me proibiu de ser irracional apenas uma vez?

Meu pulso estava acelerado quando eu a puxei para fora do salão, para longe da vista de qualquer outra pessoa. Não soube exatamente o que ela poderia fazer para me impedir, não tinha medo disso.

-Shelby?- Charlotte me chamou.

Andei até o que poderia ser um sala vazia, passando por pessoas que mal sabia o nome. A mulher comigo agarrou o meu pulso, segurando firme o suficiente para chamar minha atenção.

-Thomas?- ela chamou novamente, dessa vez um pouco mais irritada.

Passamos pela porta, e minha mente finalmente pode ter raciocínio lógico. Eu estava enlouquecendo, tinha perdido totalmente o pouco juízo que me faltava.

-Me diga o que diabos você está fazendo!- a mulher continuou segurando meu pulso, enquanto empurrava a porta.

Empurrei o corpo de Charlotte contra a porta fechada, silenciando o começo de um diálogo. Se ela falasse, quase que imediatamente, teríamos que discutir sobre algumas coisa. Teria que sentir coisa, lembrar de coisas e ser o mais calculista que poderia.

Eu não queria pensar, não queria ter que estudar uma situação. Ela já me deixava maluco o suficiente, suas situações já me deixavam insano o suficiente.

-O que diabos eu estou fazendo?- perguntei grosseiramente- Me diga o que diabos você fez!

-Thomas..- a mulher arfou, movendo a cabeça para o lado oposto.

Seus saltos bateram no chão de madeira, enquanto o seu cheiro inundava meu ofato. Estávamos próximos o suficiente, meu corpo impedindo o dela de se mover.

-Não sei sobre o que está falando..- ela voltou depois de uma longa pausa.

P.O.V Charlotte:

-Você sabe..- Shelby retrucou como um animal, inalando todo o odor que saía dos meus poros.

Quando ele me puxou, esperava que assim como eu estivesse prestes a quebrar a fina linha que nos sustentou nessa história. A dança foi tão normal como deveria ser, mas sair de lá e assitir seus olhos atentos foi a minha punição.

Thomas tinha muito poder dentro de si, não sei exatamente se sabe sobre isso. Todas as vezes que ele me olha sinto que há algo prestes a se dissolver dentro de mim, algo que nunca poderá voltar.

Boss lady [Peaky Blinders]Onde histórias criam vida. Descubra agora