Capítulo 11 - "O enterro de Hongie hyung"

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Era o mesmo.

Tudo parecia o mesmo. 

Congelado no tempo como se me esperasse voltar. 

Mas eu nunca pertenci a Mency, e Mency nunca me pertenceu. Mesmo assim parece surpreendente aos jovens na rua que os ponteiros velhos do relógio da matriz se movam para bater, tardiamente, meia noite — ele parece não badalar há anos. Doze badaladas — que talvez devessem pertencer a um meio dia — ressoam pelas ruas pouco movimentadas, tomada pela escuridão e quase quietude costumeira da cidade do interior. Os pares de olhos curiosos e atordoados — jovens e desconhecidos — nos acompanhando conforme passamos pelas ruas. 

Eu julguei o motivo como sendo o carro. Não era todos os dias em que, na minha época naquele fim de mundo, eu via um carro como o que me pertence hoje. Mas isso apenas até Kai se mover um tanto desconfortável no banco de trás. Hwa, como eu, corre os olhos até o espelho entre nós para encontrar os olhos tensos de nosso amigo. 

— Estão tão surpresos... — ele comenta. — Nos culpam. 

— Pelo quê? — Hwa parece confusa. 

Tudo o que faço é me virar para as ruas outra vez, seguro firme o volante entre meus dedos a ponto de sentir as pontinhas dormentes. 

— O sino é nossa culpa. Eu acho que Mency sentiu nossa falta, querida. 

Posso senti-la se arrepiar ao meu lado. É como se estivéssemos ligados outra vez, como não estamos em sincronia há tempo demais.  

Mesmo o ar que preenche meus pulmões é familiar, como se carregasse de uma vez lembranças demais para que eu realmente consiga suportar. Mas mantenho minhas mãos tão firmes quanto possível enquanto sigo o caminho que, diferente do que pensei, não esqueci durante os últimos anos longe de casa. Mesmo que meu caminho seja urgente, e meu destino seja certo, é impossível resistir à vontade de correr pela avenida principal apenas para me certificar de que a cafeteria continua aqui — talvez esteja mais iluminada agora, e o estacionamento parece ter dobrado de tamanho, tirando o segundo andar que se ergue acima de onde era apena o telhado colonial —, as memórias me bombardeando no ritmo da música e na intensidade do aperto de Hwa em uma de minhas pernas. 

As risadas dele ainda parecem correr pelas esquinas, se perdendo na densidade fresca das ruas para se esconder além das construções que, agora, estão ainda mais robustas — tampando boa parte do horizonte. Seria errado dizer que eu preferia antes? Quando, mesmo sem nos esforçar tanto para olhar para cima, ainda éramos capazes de ver a lua, tudo parecia mais leve e mais fácil do que agora. 

Oh, não. Não há nada de leve, fácil ou aceitável no momento. Os pneus, por si mesmos, parecem pesados demais para rodar sem perturbar nossa postura. Kai, em determinado momento, precisa se segurar no suporte sobre a porta para se manter no lugar — agora existem lombadas em uma das ruas que levam ao bairro baixo, porque há mais um colégio para o fundamental do lado esquerdo da avenida. 

Passar por minha antiga rua, também é inevitável. A casa que pertencia a Jaelin é exatamente a mesma, nada mudou além da cor das paredes — que agora são de um tom azul clarinho quase enjoativo, porque há muito o azul já não é tão chamativo quanto costumava ser aos meus olhos. Há uma macieira pequena, ainda trabalhando em sua altura para se arriscar a produzir os primeiros frutos, logo abaixo da janela que antes pertencia a mamãe, e isso me causa arrepios nauseantes demais para assistir por mais tempo. 

A casa ao lado é, sem dúvida, tão diferente de minhas lembranças quanto a cafeteria se mostrou há pouco. Tem mais dois andares além dos que já existiam há anos atrás, o jardim é mais verde e mais denso, e a cerca parece ter sido completamente renovada. Os novos proprietários devem ter bastante dinheiro. 

Modo Índigo |• MinSeongJoong (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora