...
☾
Eu explodi.
Explodi fodidamente.
E o clarão que tomou minha vista, era pura confusão.
Caminhei cegamente, com Yeonjun fiel aos meus passos, tão leal ao meu próprio caminho apressado que mal ouvi a dezena de vozes que me chamaram para entender quantos amigos eu tinha feito àquela altura. Talvez, no fundo, não tinha os ouvido porque não me importavam tanto quanto para os quais eu estava caminhando.
Há algum tempo, eu tinha aberto mão de minhas viseiras. Eu era grato por Young e Hongie terem a arrancado de meu rosto e atirado para as alturas. Mas naquele momento em específico eu apenas os amaldiçoei. Os amaldiçoei porque, se minha maldita viseira ainda estivesse firme em minha maldita cabeça, então eu saberia focar apenas em Wooyoung estirado no chão com a mochila entre as pernas e os olhos assustados apontados para um Hongjong tão confuso quanto eu.
Mesmo vendo, tentei me conter.
- O que aconteceu? - questionei baixinho e Young encontrou meus olhos com os seus.
Mesmo seus olhos tremiam. Os dedos se apressando em alcançar o canto direito dos lábios, de onde escorria um filete de sangue.
Hongie não faria isso.
- Quem fez isso, Young? - voltei a perguntar baixo, ainda parado na entrada da quadra onde todos pararam para assistir à cena.
Eu desejei que os olhares cessassem. Desejei que eles se virassem para qualquer canto que não fosse a de Young. Desejei que não esperassem por uma resposta também, porque isso significava que de fato o que aconteceu não fazia o mínimo sentindo para ninguém, e se não fazia sentido para nenhum deles a ponto de precisarem de uma confirmação... Eu desejei que não acontecesse, mas os olhos assustados de Young viajaram de forma hesitante, deixando os meus para apontar o lado para onde Soobin e Taehyun - dois de nossos colegas de classe - carregavam Hongjoong.
Eu desejei não entender. Desejei tanto poder fechar meus olhos e ser ignorante a ponto de fingir não entender o que aquilo queria dizer, porém não conseguia mais ignorar o que acontecia. No pouco tempo que estive na companhia de Young, e de Hongie, e de Changbin hyung, ou mesmo Minho e Jin, até Junkyu e Hyunsuk... Eu aprendi que me sentar e esperar as coisas passarem - apenas fingindo não enxergar nenhum detalhe ou mudança - era o mesmo que abrir mão de meus dias contados sem sequer aproveitá-los.
Me mover se tornou algo instintivo. Não me conformar, algo tão marcante em meu peito quanto as batidas frenéticas do meu coração naquele momento. Eu não sabia mais sentar, e abraçar meus joelhos, e assistir em silêncio. Me levantar era inevitável.
- O que você fez? - primeiro indaguei tão baixinho como fiz a Young. Mas meus olhos apontavam para o chão, e talvez tenha parecido uma pergunta retórica.
Eu peguei a mim mesmo me perguntando "O que você fez, Mingi?". Como se deixou levar pelo sorriso sem dentes e pelo medo de altura, pelas noites mal dormidas e pelo carisma, pelas palavras bonitas, as reflexões profundas na aula de literatura e a energia contagiante das corridas ao fim das aulas no caminho para casa? Como se deixou levar pelos gestos preocupados disfarçados de gentileza, ou pela falta de perguntas diretas que traziam os atos de carinho mais adoráveis do mundo? Como se deixou levar pela pele quente contra sua palma toda vez em que o tocava, ou pela mania ridícula de se permitir imaginar tocá-lo com mais frequência, de mais formas e em todos os momentos? Era tão fácil se deixar levar?
Então a culpa que me abandonara aos poucos desde que conheci Young em um de minhas primeiras tardes enquanto perdido em Mency, voltou como uma bigorna para se atirar sobre meus ombros. A culpa pela incapacidade de manter tudo aquilo de que eu fiz parte e ajudei a construir. Foi como assistir San ir embora outra vez e ter a certeza de que tudo aquilo nunca mais iria voltar a ser o que era.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Modo Índigo |• MinSeongJoong (Concluído)
FanficConcluído|•|MinSeongJoong|•|+18 Se existisse uma maneira de proteger todos os que ama, arrancar toda a dor que não merecem sentir, tomar para si cada gota de pensamento ruim e cada palmo de sentimento lacerante. Se pudesse poupá-los de toda a amargu...