Capítulo 2.2 - "...Amém!"

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Da primeira vez em que o vi, foi na praça do bairro baixo onde ficava a casa que passamos a compartilhar com a vovó.

A casa em si não era pequena, mas era impossível não me sentir sufocado. Mesmo que fosse mamãe quem mais sofria com a separação, os olhares de pena eram sempre para mim e estavam me cansando. Me perguntava o porquê de todos parecerem sempre tão preocupados com a forma como eu estava lidando com a ausência de meu pai, uma vez que ele sempre foi ausente de qualquer forma.

Ele não era um homem ruim, mas também não era bom. Simplesmente não havia nenhuma marca dele em minha memória, a não ser os nossos domingos pela manhã voltando da missa. Mesmo na igreja, era mais interessante ouvir os sermões do padre do que olhar para o rosto que tanto lembrava o meu, e eu odiava sermões.

Era uma manhã de Domingo, e não tinha ninguém para me carregar para a igreja na cidade nova. Mesmo assim, por costume e para fugir do lugar abafado, eu saí sozinho.

Ele estava escorado em um tronco de um ipê roxo, flores despencando e caindo no chão em volta dos seus pés juntinhos. O corpo estava inclinado para trás, apoiando as costas contra a árvore, embrulhado em um casaco azul índigo de camurça surrado e manchado que não parecia suficiente para barrar o frio cortante da manhã — por mais ensolarado que estivesse. O jeans azul também estava furado, desbotado e era pelo menos um número maior que seu tamanho, tinha as barras dobradas umas três vezes para mostrar o cano do tênis vermelho sujo; a camisa preta subindo e descendo lentamente conforme tragava o que tinha entre os dedos profundamente antes de expirar a fumaça branca para os galhos retorcidos. Sua cabeça tombou para trás, os olhos se fecharam e os lábios se estenderam em um sorriso sem dentes que me fez tropeçar nos meus próprios pés — porque o maldito sorriso brilhava, mesmo que não houvesse nada para refletir.

Talvez, se fosse mais atento, entenderia que Hongjoong nunca teve nada para refletir. Oh, não. Ele não precisava irradiar nada externo para que fosse visto. Ele brilhava sozinho.

Os olhos relaxados só voltaram a se abrir com a aproximação de mais alguém. Um corpo mais alto e mais esguio, que não parecia se incomodar com o frio ao estendê-lo uma casquinha de sorvete.

— Você me amaldiçoou desde o dia em que me desafiou a provar o gosto desses dois juntos — o menino mais alto comentou, se escorando ao seu lado.

— Eu não amaldiçoo ninguém. — Sua voz... Como sinto falta de sua voz... Ainda posso me lembrar exatamente de como costumava ser, ou minha memória me engana com mais frequência do que posso imaginar. — Só te apresentei mais cinco centímetros do lado bom da vida.

— Está bem, está bem. — O outro negou com um gesto, mas estava sorrindo grandiosamente quando pediu a brasa do cigarro já aceso para que pudesse tragar o seu. — Tem razão, hyung. Não vou discutir com você para perder outra vez.

Ninguém nunca vencia uma discussão com Hongjoong. Simplesmente porque no meio de suas palavras, um sorriso enorme sempre surgia, e era impossível não tropeçar nas palavras em frente a tamanha perfeição.

Da primeira vez que eu vi Hongjoong, naquela manhã, naquela praça, ele era quem ele era. Mas no mesmo dia, no mesmo momento, quando ele me viu pela primeira vez, eu não era ninguém. Eu estava quebrado, me sentia mais sozinho e sufocado do que nunca, era difícil olhar nos olhos de alguém sem esperar o mínimo de gentileza possível, porque parecia necessidade procurar por um pouco de carinho. Eu nunca pedi tanto por um abraço.

Quando ele olhou em minha direção, desviei o olhar para continuar meu caminho. Porém não antes que pudesse vê-lo acenar animado em minha direção como fosse um conhecido, o sorriso grande em seu rosto enquanto gritava o:

Modo Índigo |• MinSeongJoong (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora