Empatia

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Paola Kendrick
Hotel Hichello | Caracas, Venezuela
19 de novembro de 1993, 23:53

 Eu me sinto completamente desorientada e nauseada no momento. Minha cabeça está latejando e meu estômago parece que está sendo torcido em nós. Eu tento me levantar, mas minhas pernas tremem e cedem sob o peso do meu corpo. Eu caio no chão frio do banheiro, minha testa suando e meu coração acelerado.

20 de novembro de 1993, 00:23

 Estou sentada no chão do banheiro, com as costas apoiadas na parede, tentando respirar fundo e controlar as ondas de náusea que continuam a me atingir. Eu não consigo ver nada no escuro, exceto pela luz fraca que vem do quarto. A luz do abajur parece brilhar no fundo do meu crânio, tornando minha dor de cabeça ainda mais intensa.

 Michael ainda está fora, ele saiu a tarde e sem dúvida só vai voltar umas 4 da madrugada. O show já deve ter terminado, mas, o trânsito e a dificuldade para sair do local com tanta gente ao redor é muito grande.

 Tenho que tentar me recompor antes de ele chegar, mas, como vou fazer isso? Nem consigo ficar de pé. De repente, sinto um solavanco no meu estômago, e antes que eu possa reagir, o ácido amargo sobe pela minha garganta e eu começo a vomitar. Sinto o gosto ácido e amargo na minha boca enquanto meu estômago se esvazia violentamente.

 Eu continuo a vomitar até que não haja mais nada em meu estômago. Sinto meu corpo todo tremer, meus músculos doerem e minhas mãos estarem trêmulas. Eu não entendo o que está acontecendo comigo, nunca me senti assim antes. Será que é um vírus? Uma intoxicação alimentar?

 Eu me sinto completamente impotente e vulnerável no chão do banheiro escuro, enquanto meu corpo continua a se contorcer em náuseas. Eu mal consigo me levantar, então engatinho e me arrasto para o quarto, lutando contra a dor e a tontura. Preciso saber o que está acontecendo comigo. Como médica, deveria saber o que fazer, mas agora eu estou completamente perdida.

06:59

 Ao despertar, sou imediatamente surpreendida pelo barulho ensurdecedor que vem de fora do quarto de hotel. Uma multidão de fãs está lá fora, gritando o nome do meu marido e cantando suas músicas com paixão. Me viro na cama e vejo Michael deitado ao meu lado, ainda vestindo a mesma roupa que usou em seu show na noite anterior. Ele está deitado de bruços, com a cabeça virada em minha direção, dormindo profundamente.

 A camisa branca que ele está usando está amassada, e a calça preta ajustada em seu corpo revela a exaustão de sua performance no palco. Seu cabelo está solto em cachinhos espalhados pelo travesseiro, e sua boca está entreaberta enquanto respira em sono tranquilo.

 Cuidadosamente, me levanto da cama para não acordá-lo. Com meu pijama azul-marinho de seda, caminho até a porta. Devagar abro e saio. Vou até o quarto da frente para pedir serviço de quarto. Preciso comer algo e não poderia pedir em nosso quarto, ele precisa dormir coitadinho e eu preciso me alimentar.

Caracas, 11:52

 O carro para em frente ao orfanato, e Michael e eu saímos juntos, de mãos dadas. Ele está vestindo uma camisa vermelha, com a barra para dentro das calças pretas. Seu cabelo está amarrado rente à nuca com alguns cachinhos caindo em frente ao rosto. Michael ainda está usando seu icônico chapéu fedora, que adiciona um toque de elegância ao seu visual. Seus óculos escuros protegem seus olhos do sol e, mesmo assim, ele parece muito feliz e animado para visitar o orfanato.

 Eu estou usando um vestido azul que vai até acima do joelho e meus cabelos castanhos estão soltos, caindo em cascata pelas costas. Minha maquiagem é leve, apenas realçando meus traços naturais. Ao meu lado, Michael caminha orgulhosamente, sorrindo para todos que se aproximam para cumprimentá-lo assim que passamos pela multidão graças aos seguranças.

 Assim que chegamos ao orfanato, somos recebidos por um grupo de crianças alegres e animadas. Michael se aproxima delas com um sorriso gentil no rosto e começa a falar com elas. Ele está tão à vontade com as crianças que parece um deles, fazendo-os rir e se divertir enquanto ouvem suas histórias.

 Eu também me aproximo das crianças e começo a conversar com elas. Algumas são tímidas, outras mais extrovertidas, mas todas parecem felizes em nos ver. É um momento mágico, cheio de amor e alegria.

 Depois de algum tempo brincando com as crianças, Michael e eu anunciamos a doação milionária que faremos para o orfanato. As expressões de gratidão e admiração dos funcionários e das crianças nos enchem de alegria e satisfação. Sabemos que essa doação fará uma grande diferença na vida dessas crianças e nos sentimos felizes em poder ajudar.

 Ao sairmos do orfanato, Michael e eu caminhamos de volta ao carro, de mãos dadas. Estamos felizes e realizados por termos tido a oportunidade de fazer a diferença na vida dessas crianças. Estamos gratos por ter a oportunidade de ajudar e fazer a nossa parte para tornar o mundo um lugar melhor.

 Quando entramos no carro, eu sinto um aperto no peito e uma tristeza profunda toma conta de mim. Michael percebe imediatamente minha aflição. Não importa o que eu faça, ele sempre consegue notar quando estou bem ou não.

 — O que houve, meu amor? — ele pergunta muito preocupado como sempre. Traz sua mão até a minha e leva até sua boca, dá um beijinho enquanto ainda me encara. Com a outra mão ele tira seus óculos para me encarar olho no olho.

 — Sinto uma enorme frustração com a situação das mães que abandonam seus filhos. As que não tem informações e não tem condições eu entendo. O que não entendo é as que tem informações e uma boa vida, elas abandonam seus filhos como se fossem objetos descartáveis. Enquanto tantas outras lutam para ter um! — lágrimas silenciosas descem por meu rosto enquanto falo.

 — Eu sei como você se sente, meu amor. Mas não se preocupe, juntos vamos encontrar uma maneira de construir nossa família. Talvez não seja do jeito convencional, mas com amor e dedicação, podemos ser pais maravilhosos! — ele abre aquele sorriso perfeito — Até lá, podemos treinar bastante! — ele morde o lábio inferior com uma carinha de sapeca.

 Eu não consigo evitar um sorriso tímido diante da proposta de Michael. Mesmo nos momentos mais difíceis, ele sempre consegue me fazer rir e me animar.

 — Você é incrível, Michael. Obrigada por estar sempre ao meu lado e me apoiar. Eu te amo tanto! — digo, me inclino em sua direção e dou um beijo em seu rosto.

 — Eu te amo, Paola. E vou estar aqui para sempre, não importa o que aconteça. Juntos, podemos superar qualquer obstáculo — ele acaricia meu rosto, secando minhas lágrimas com o polegar. Ele me passa a sensação de que, mesmo que nunca possamos ter filhos biológicos, sei que sempre teremos um ao outro, e isso é o que realmente importa.

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