Sozinho nunca mais

769 140 65
                                    

Paola Kendrick
Centro medico Mari'Angel, Los Angeles
Sexta-Feira, 15 de novembro de 1991 • 09:52

 Minha vida é dividida entre dormir por 30 minutos e sala de cirurgia. Quando se é cirurgiã geral, surge diversos casos e não existe descanso. Deve ter mais ou menos três meses que durmo apenas no hospital. Estava com um caso raro de uma mulher que não podia ter filhos e agora, ela simplesmente esta nos últimos meses de gestação e eu a acompanhei de perto durante todo esse tempo, mas era necessário fazer uma cirurgia antes de o bebê nascer. Foi desesperador. Passei horas na sala de cirurgia. No fim deu tudo certo

 Graças a Deus que guia minhas mãos, salvei 99% das vidas que passaram por minhas mãos em todos esses anos. Quando eu me olho no espelho, sinto orgulho por ter salvo tantas vidas. Quando me casei, eu e meu marido falamos em nossos votos que nosso objetivo no mundo seria salvar e mudar vidas

 É isso que estamos fazendo, mas, na minha última cirurgia eu vi tudo o que eu precisava para deixar tudo isso. O útero da minha paciente nunca mais vai gerar outra criança, porém, a que ela estava esperando nasceu hoje e é uma linda menina. Eu não quero ser o tipo que passa anos tentando engravidar. Já estou nos meus 32 anos e não tive meus filhos ainda. Eu sou completamente apaixonada por maternidade e o meu marido sempre quis ser pai

 Ele vai lançar seu álbum e em seguida ira passar um tempo em casa antes de iniciar uma turnê, essa é a oportunidade de nos reconectarmos. É a nossa chance. Eu tenho estado tão distante. Meu marido até tenta se aproximar, mas, não consigo atender suas ligações e quando ligo para ele, bem, ele está em algum compromisso

 Nosso casamento é bem diferente dos demais. Combinamos que em algum momento pararíamos tudo para começar nossa família. Todos esses anos nos dedicando ao trabalho é para construir um império para nossos filhos e claro, para aproveitarmos bem a nossa futura aposentadoria

 Nós não tentamos mandar um no outro e deixamos que cada tenha seu devido espaço. Só uma vez me meti no trabalho de Michael. Em 1984 Michael tinha uma gravação, era um comercial e eu não estava muito confiante. Não havia gostado nada da estrutura e me parecia amadora demais para algo tão gigantesco e claro, o cache que pagaram a Michael. Na época era muito dinheiro, bem, hoje em dia ainda é muito dinheiro enfim, Michael me ouviu e saiu

 Eles chamaram Jermaine para substituir Michael e tentar fazer os passos que Michael havia preparado para o comercial. Jermaine aceitou porque, bem, era bastante dinheiro. Resultado, Jermaine teve queimaduras de terceiro grau no couro cabeludo. Eu estava certa quanto a tudo

 Estou andando pelo longe e espaçoso corredor até a sala de Mariangel, a chefe dos chefes! Preciso lhe comunicar que passarei um bom tempo fora e que talvez eu não volte. Esta na hora de me dedicar a minha vida. Recuperar o meu casamento e fazer coisas bobas que eu não faço há anos.

Rancho Neverland, Los Olivos • 16:52

— Dona Paola — um dos meus seguranças chama por mim. Abro meus olhos lentamente e o encaro. Ele esta sentado no banco do carona. Assim que me endireito no banco ele sai do carro e abre para mim a porta do meu lado direito

— Já chegamos? Eu dormi o caminho todo? — resmungo enquanto saio do carro. O vento forte faz com que meu vestido voe. Há anos eu não vestia nada tão libertador quanto um vestido. Tudo que eu estou fazendo, usar o cabelo solto, até usar saltos é tão maravilhoso e novo de certa forma

 Ando em direção a casa. É enorme, me lembro de quando Michael comprou esse lugar. Ele estava muito empolgado e me mostrou tudo com muita empolgação. Só estive aqui algumas poucas vezes. É um lugar que transmite uma paz enorme

 Os seguranças passam rapidamente por mim, levando minhas malas. Passo pela porta e sou agraciada pelo hall de entrada. É lindo. Tem alguns quadros de pintores famosos e algumas estatuas. Michael sempre teve um bom gosto

— UUUIIIIIIRUUU — ouço um grito familiar. Não me viro, é Michael. Ele esta maravilhoso. Esta usando uma camisa vermelha para dentro de sua calça preta — PAOLAAA! — ele assovia. Com um sorriso bobo nos lábios eu me viro. Michael esta correndo do jardim em direção a casa. Seu chapéu ficou na metade do caminho. Ele corre tão rápido. Seus cachos voam com o vento. Ele pula os pequenos degraus com suas enormes pernas e passa pela porta. Em fração de segundos sou tirada do chão

— Oi meu amor — o abraço de volta — Que saudade meu pãozinho — Michael me coloca de volta no chão e me abraça mais forte — Deixa eu te ver meu pãozinho — digo enquanto o afasto. Ele está com o rostinho molhado e com seus olhinhos vermelhos. Ele está chorando. O puxo de volta para mim. Ele afunda seu nariz em meu pescoço e chora em silêncio — Eu nunca mais vou te deixar sozinho, estou aqui para ficar — balbucio para ele enquanto tento controlar minhas lágrimas — Meu pequenininho, não vou sair do seu lado nunca mais. Te prometo! — digo enquanto acaricio seus cabelos tão lindos.

SimileOnde histórias criam vida. Descubra agora