Simile

Amor

Paola Kendrick Jackson
Hotel Hichello, Melbourne (Austrália)
8 de dezembro de 1993, 05:13

 Abro os olhos lentamente. O que me acordou foram os gritos eufóricos dos fãs de Michael. Suspiro lentamente e olho ao redor. O quarto está em um escuro quase total, tem uma luz fraquinha vindo das cortinas brancas que estão fechadas. Aconchego-me mais em Michael, que dorme profundamente enquanto ainda me abraça. Ele está atrás de mim. Seu braço está ao redor da minha cintura.

 Sinto o calor do seu corpo junto ao meu, a sensação reconfortante que me faz sorrir sonolentamente. Nossa cama é grande e confortável, e é bom sentir o calor que exala dos nossos corpos juntos, mesmo com o ar condicionado ligado.

 Nesse momento estou sentindo um forte desejo de comer morangos. Consigo até sentir o gostinho em minha boca. Não sei explicar de onde vem essa vontade repentina, mas sinto que preciso satisfazê-la. Mas, olha só as horas. Devem ser umas cinco da manhã. Não quero incomodar ninguém com uma vontade boba a essas horas.

 Decido então me virar na cama e tentar voltar a dormir, mas não consigo. Fico pensando em como seria bom ter alguns morangos bem docinhos para matar minha vontade. Será que eu chamo ele para mandar os seguranças comprar alguns para o café da manhã?

 Pare de pensar em morangos. PARE DE PENSAR EM MORANGOS PAOLA! Coloco as duas mãos na cabeça e respiro profundamente tentando afastar os morangos da minha mente.

 Tenho que controlar essa vontade maluca de comer. Hoje mais cedo, Michael comentou que eu tinha engordado um pouco, mas, ele disse em um tom doce e muito meigo, então, não me incomodou no momento. PORÉM, está me incomodando agora.

 Será que estou muito gorda? Morangos são saudáveis, não vai me fazer mal. Por falar em coisas saudáveis. Tenho que voltar a correr, se até ele já percebeu que estou gorda, logo a mídia também vai perceber. Deus. Já consigo ver todas as matérias falando sobre o quão gorda sou.

 Olho fixamente para o teto tentando controlar meus pensamentos. Respiro fundo e tento me acalmar. Não posso deixar que esses pensamentos negativos me dominem. Preciso me cuidar, é verdade, mas não posso me deixar levar pela pressão da mídia ou da sociedade em relação à minha aparência física.

 De repente, sinto algo em minha barriga, uma sensação estranha que ainda não havia experimentado. Espero que essa sensação que me causa uma emoção enorme, seja de alguma forma algo bom e que a resposta para isso esteja naquela pasta de papel com os exames que ainda não abrir.

 Ainda estou sonolenta, mas a sensação em minha barriga me mantém acordada. De repente, sinto um movimento dentro de mim novamente. É como se algo estivesse se mexendo, dando voltas ou chutando.

 Meus olhos se enchem. Eu sei. Agora eu sei exatamente o que é. Eu coloco minha mão sobre minha barriga, tentando sentir o movimento novamente. É como se o mundo tivesse parado nesse momento.

 Eu estou grávida. Agora sinto uma mistura de emoções. Felicidade, medo, ansiedade e empolgação. Como eu não havia percebido antes? Como eu pude estar tão desconectada do meu próprio corpo?

 Agora tudo faz sentido. Por isso os enjoos, por isso o aumento de peso. Por isso a vontade avassaladora de comer e esses desejos repentinos!

 — Michael! — sussurro para Michael o chamando. O chamo mais algumas vezes e então o sinto se mexer lentamente.

 — Oi, meu amor — sussurra contra meu ouvido — O que foi? Está sentindo algo? — balbucia enquanto boceja.

 — Olha isso! — digo toda chorosa e emocionada para ele enquanto pego sua mão e posiciono em minha barriga no mesmo ponto que eu estava com a mão antes.

 — Meu Deus! — ele diz chocado. Eu começo a chorar desenfreadamente e ele também — UAU! NÓS DOIS! — ele diz entre risos e lágrimas — Não posso acreditar! — ele ri — Meu amor, vamos ser pais! — ele chora como uma criança. Afunda seu nariz em meu cabelo e baixinho agradece a Deus. Nunca me esquecerei desse momento e do quanto esse homem é valioso. Eu escolhi o melhor pai do mundo para meu bebê.