Ciúmes

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Paola Kendrick-Jackson
Rancho Neverland, Los Olivos
24 de dezembro de 1995, 19:41

   Respiro fundo, tentando acalmar meu coração. Sento-me no sofá, ainda segurando a carta de Agnes, e olho para a árvore de Natal iluminada. As luzes piscam suavemente. Penso em todas às vezes que Agnes fez com que eu me sentisse péssima, e foram tantas vezes.

   Mas, ao mesmo tempo, uma pequena voz dentro de mim sussurra sobre perdão e a possibilidade de mudança. Será que as pessoas realmente podem mudar? Será que Agnes realmente está sendo sincera? Resisto à tentação de rasgar a carta em pedaços, e ao invés disso, coloco as demais na mesinha perto da parede e cuidadosamente abro a carta dela.

   Levanto-me e vou até a janela. Talvez eu deva abrir meu coração um pouco mais. Tiro a carta do envelope e começo a ler. É uma carta simples e nada ofensiva. Até me surpreendo ao ler. Nessa carta ela pede perdão mais uma vez e mandou um cheque para o Hospital que fundei com Michael. É um cheque de um milhão.

   Perdão não se compra. Rasgo o cheque de Agnes e levo até a lareira. Enquanto isso, silenciosamente Michael me encara. Me aproximo dele e lhe entrego a carta e logo após, caminho até a lareira e jogo o cheque lá.

   — Não devia ter queimado o cheque — ele murmura enquanto encara a carta — Devia ter deixado ele aí para que eu pudesse enfiar naquele lugar dela e fazer ela engolir essa carta! — ele tenta manter um tom respeitoso e calmo.

   — Precisamos encontrar uma maneira de seguir em frente, de verdade. De preferência, em um lugar onde ela não possa ter acesso fácil a nós! — murmuro enquanto Michael me entrega Aly e guarda a carta. Estamos guardando tudo por puro medo de ela tentar de novo, qualquer coisa que seja.

   Michael assente com um olhar preocupado, seus olhos varrendo a sala em busca de possíveis soluções. Enquanto nossa preocupação parece pesar o ar, Aly ri enquanto encara o fogo dançar na lareira. Michael olha para ela e suspira. Se aproxima de nós e nos abraça com carinho.

   — Ela sempre consegue deixar o mundo bem melhor né? — Michael balbucia emocionado — Vamos ficar bem, o mundo e as autoridades já sabem o que Agnes fez aqui em nossa propriedade. Se ela der um passo em falso, voltará para aquela clínica psiquiátrica ou irá direto para a prisão, pois não pouparei esforços.

   — Precisamos acreditar que as pessoas podem mudar, mas também precisamos ser cautelosos — respondo, tentando acalmar as preocupações de Michael, que são as mesmas que as minhas.

   — Sim, meu amor, sem dúvidas — ele murmura ao meu ouvido de maneira gentil e delicada.

   — Vamos fazer o Natal mais especial para ela e para nós — sugiro, tentando mudar o foco para algo mais positivo — Apesar de tudo, temos muito pelo que ser gratos.

   — Concordo — ele respira profundamente e abre um lindo sorriso — Eu sou o homem mais sortudo do mundo, obrigado por tudo, minha rainha. Você faz com que eu me sinta o homem mais lindo desse mundo. Eu sou completamente louco por você!

   — Eu te amo muito, minha vida, sou apaixonada por você — Michael encosta sua testa à minha e, juntos, começamos a dançar com Alister entre nós. Tento expulsar os pensamentos sobre Agnes e aproveitar esse momento com meu amor e minha filha, que é a melhor parte de mim. Espero que Agnes realmente tenha mudado e que ela nos deixe em paz.

Motown Café, Nova York
25 de janeiro de 1996, 20:03

   De mãos dadas, como dois namoradinhos, tomamos um refrigerante, dividindo uma mesa. O lugar está lotado, mas o espacinho em que estamos foi reservado para nós pelo gerente. Daqui, eu e Michael conseguimos observar as pessoas em suas mesas do outro lado do lugar, eles nem fazem ideia que estamos aqui. Por um segundo, é como se a vida fosse um pouquinho normal.

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