A | Que comece o jogo

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Paola Kendrick
Rancho Fundo, Goiânia
16 de novembro de 1991 • 22:13

— A Patrice vai ficar tão decepcionada quando descobrir que ele usou o nome dela para falar com a piranha! — Marjorie diz desaforada enquanto leva um pouco de seu chá a boca. Estamos na varanda observando os vaga-lumes embaixo dos pés de manga

 Aqui é uma paz. Gostaria de ficar aqui para sempre escondida de tudo. Fecho os olhos, deixando a sensação de paz me dominar, me satisfazer da cabeça aos pés. Estou precisando disso mais que qualquer pessoa nesse mundo

 A correria do hospital. A sensação ruim de ver pacientes morrendo. Deixo meus pensamentos se esgueirar pelas lembranças doces do meu namoro que parecia ser tão doce. O casamento que devia ser a única certeza que eu tinha na vida

  É nosso dia. Em todos os dias 21, fazíamos algo especial. Enquanto eu estava no hospital, ele me ligava e conversávamos a noite toda. Isso mudou há um ano. Eu nunca, de maneira nenhuma desconfiaria que ele tivesse uma amante. Eu nunca de maneira nenhuma desconfiaria que ele tivesse uma amante

 — Você tem que pegar ele de volta! — ela diz em um tom tão alto que me tira da minha concentração. Abro os olhos e olho diretamente para ela — E se você seduzisse ele? E toda vez que ele fosse atacar você fugisse? Vai fazer com que aquele instinto de caça ridículo seja ativado! Certeza que a Agnes dá para ele com uma facilidade incrível! Ele manda e ela abre as pernas, confesso que comigo seria assim! Caramba ele é o Michael Jackson, se ele estalasse os dedos para mim eu me deitava no chão na hora e abria as perna! — ela diz exageradamente me fazendo rir

— Eu estou fora de forma, há muitos anos eu não brinco com sentimentos de pobres homenzinhos! — digo entre risos. Eu era muito boa nisso no passado. Eu adorava seduzir e deixar quem quer que fosse louco ou louca por mim. Sempre gostei da sensação! 

— Olha só para você! Tira essas roupas enormes e use aquelas roupas mais curtas que você usava antes de começar a trabalhar no hospital. Traga a mulher fatal que você sempre foi e que está escondida aí! E se você não quiser ele babando por você, é só ir embora! Deixe ele todo apaixonadinho por você e vaza! Ele que se vire para superar o mulherão que ele deixou escapar! Seria incrível se você pudesse fazer isso só para esfregar na cara dele o quão deusa você é! — ela diz muito, muito empolgada mesmo

— Não, eu, não preciso disso. Só preciso sair desse relacionamento. Ele só me ama como amiga. Não temos mais nada! Eu disse para você! Ele quase foi! Juro! Até beijou o gramado, mas não fez gol! — cruzo meus braços. Ela ri como nunca antes. Eu amo e odeio a Marjo

— É POR ISSO QUE VOCÊ PRECISA TANTO MOSTRAR PRA ELE QUE VOCÊ NÃO É AMIGUINHA DELE! — ela berra — Vocês ficaram tanto tempo longe que ele te vê como a amiguinha! Seja a porra da amante! A gostosa que faz ele suspirar só de sentir o perfume! Aliás, quando você usou perfume pela última vez? Só desodorante e olhe lá né? Você precisa se arrumar mais, claro, para você! Se arrume até se sentir gostosa! Quando você se sente gostosa, o mundo te enxerga assim! Você sabe, é mais sobre se sentir do que ser de fato, se é que você me entende! — ela faz aquela carinha de confusa, ela sempre faz essa cara quando ela nem tem a menor ideia do que disse

— Talvez você tenha razão. Pode até ser divertido. Quem sabe eu faça isso na semana que vem, eu adoraria fazer amanhã mesmo, mas, ele vai estar tão cansado das apresentações do leilão Pritchett que deve estar sendo agora! Aliás, por que você não foi? Atrapalhei você? 

— Paola, o leilão Pritchett é amanhã a noite! — ela diz baixinho com uma carinha de pena. Por que eu ainda acredito nele depois de toda essa merda? — Olha, se eu fosse você, iria dormir agora para amanhã acordar super disposta porque nós vamos para Los Angeles e vamos para o leilão! Prepare sua roupa de mulherão porque vamos juntas! — ela se levanta da cadeira

— Que roupa de mulherão o que, vou é de chinela e vestidinho. Não vou me forçar a entrar em vestido que não cabem em mim — me levanto e a sigo até dentro de casa. Mas, talvez Marjorie tenha razão.  

Leilão Anual Pritchett, Manhattan
17 de novembro de 1991 • 20:51

— Eu quero sair correndo daqui, péssima ideia! Sabe há quantos anos eu não passo por um tapete vermelho? Já tem 10 anos! — digo a Marjorie que está sentada ao meu lado. Ela está usando um vestido preto que fica lindo nela. Eu estou usando um vestidinho branco bem discreto. Meus cabelos estão lisos e eu fiz uma maquiagem leve. Até que não estou tão ruim

— OLHA ALI! — Marjorie diz alto e abre a porta do carro. O que ela viu? Olho para fora. Ai não. Michael e uma loira estão no tapete. Deve ser ela porque não é nenhuma das nossas amigas. Arrasto-me até a porta e saio graciosamente. Marjorie segura minha mão forte e quase me arrasta até perto de Michael e quem parece ser Agnes. Ela é loira e esta usando um vestido preto com um decote gigantesco — Olha quem esta aqui Mike! — Marjorie diz em um tom alto fazendo com que Michael se assuste assim que olha para mim. Ele solta a mão da garota e abre um sorriso disfarçado

— Paola, oi! — ele diz um pouco fora do ar — Que bom que encontrou tempo — ele balbucia. Pisca um par de vezes e avança para um abraço repentino. O abraço de volta. Deus, se nota que ele me ama, que sente a minha falta. Mas, em simultâneo, parece que me ama apenas como amiga. Mas que droga.

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