Doce

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Paola Kendrick
Rancho Neverland, Los Olivos
28 de maio de 1992 • 01:21

 Deitada sobre a cama com cobertores me cobrindo até o queixo, encaro pacientemente a porta do banheiro. Michael acaba de tomar banho e agora está secando seus cabelos. Ele ficou tão preocupado comigo. Me trouxe nos braços até o nosso quarto e me levou direto para o banheiro

 Ele com muita delicadeza tirou a minha roupa e me deu banho. Eu estava, na verdade, estou muito dolorida. Até parece que fui eu que apanhei. No momento em que ele me deu banho, eu estava em um estado estranho. Como se eu estivesse no mundo da lua.

 Fiquei tão cega de raiva que, talvez até teria matado Agnes e isso não teria sido nada bom. Por mais que ela mereça, não posso fazer isso. Não vale a pena passar anos na prisão. Pior ainda seria eu manchar minhas mãos que já salvaram tantas vidas matando uma mulher sem valor algum como Agnes

 Eu não matei Agnes, mas, a minha última visão dela foi tão satisfatória. Seu rosto estava todo ralado e seu pescoço roxo. Não devia, mas, eu estou me sentindo muito orgulhosa de mim mesma. Eu precisava bater nela e nele também

 Por falar no meu surto com ele, Michael está com um machucado no lábio inferior e tem um pequeno arranhado em sua bochecha esquerda causado por minhas unhas longas. Se não fosse pela água, tenho certeza que eu teria o machucado bem mais. Se houvesse acontecido, eu teria me sentido culpada. Muito culpada.

 Após me dar banho ele secou meus cabelos e me vestiu. Ele escolheu um de seus pijamas e me deu para vestir e eu estou o usando. Ele é vermelho com bolinhas brancas. Só após me vestir ele foi tomar banho

 Aperto as bordas do meu cobertor vermelho com às duas mãos que estão próximas do meu queixo. Ainda estou me sentindo boba pela maneira que ele falou com ela. Ele se preocupa comigo. Ele chorou tanto enquanto me dava banho. Será que é errado eu querer o abraçar e não soltar mais?

 Toda essa situação me fez ficar um pouco carente, como se ele tivesse apagado toda a merda que fez. Sinto-me um pouco idiota por pensar assim, mas, nossa como eu quero dar uma chance maior a nós. Quero dar mais passos e quero meu homem mais pertinho

 Estou olhando para a porta do banheiro ansiando por sua saída. Por mais que eu esteja com muito sono eu só vou dormir quando ele sair e vier dormir ao meu lado. Quero o abraçar e dormir em seus braços. Há anos isso não acontece, sinto que agora eu posso

 Antes eu sentia que ele não era meu. Era como se eu fosse a intrusa e não ela. O secador se cala. Em seguida a porta e abre bem lentamente. A luz do banheiro se apaga. Ele sai do banheiro usando apenas uma cueca azul, como nos velhos tempos. Ele sempre dormiu de cueca comigo. Seus cabelos estão ondulados e ele anda rapidamente até o closet, ele sai de lá com uma pomada, vem até a cama e se enfia em baixo das cobertas

— Você pode passar nos machucados? — ele pergunta enquanto se inclina até o abajur. Acende o abajur do lado esquerdo e estende a pomada para mim. Sento-me na cama, pero a pomada. Michael se vira e em seguida se deita em meu colo

— Está doendo muito? — murmuro enquanto abro a pomada e coloco um pouco no dedo, passo delicadamente pelo arranhão e logo após desço até o canto de sua boca que esta roxo, faço uma massagem com o indicador, quando termino passo um pouco de pomada em uma das feridas causadas pelo lúpus em seu queixo

— Não, não dói tanto. Só doeu na hora, mas agora não dói tanto — ele balbucia com sua voz mansa e tão calma — E você está se sentindo melhor? — faz um biquinho

— Estou muito feliz por você ter falado daquele jeito com ela — fecho a pomada e a coloco sobre a mesinha lateral do lado direito. Limpo os dedos em um lencinho que está perto do abajur e volto a me deitar. Ele se endireita na cama e se deita ao meu lado. Chega bem pertinho e me dá um abraço

— Deus, eu estava tão cego meu amor — balbucia — Eu te juro que a abracei por educação, havia muitas pessoas na sala e eles não podem descobrir que eu sou um gangster! — ele brinca — Quando eu a vi chegar, meu amor, naquele momento eu notei que não sentia mais nada por ela. Não sei se percebeu, mas, eu até me emocionei! — ele ri — Eu estou me sentindo livre, ainda não consigo dormir assim que me deito na cama, mas, eu estou conseguindo dormir sem remédios. Graças a você. Obrigado por não desistir de mim — sussurra enquanto beija carinhosamente a minha bochecha esquerda

— Não vou mentir, esperei muito para ouvir isso. Eu pensei que nunca fosse ouvir isso porque você estava agindo feito criança, bem, estava agindo feito uma criança malcriada, me esqueço que você ainda é uma criança! — ironizo e ele ri mais alto

— Por isso me casei com você, eu sabia que você seria a única que jamais desistiria de mim — levo minha mão até seus cabelos e lhe faço uma massagem em seu couro cabeludo. Fecho meus olhos e aproveito os braços do meu amor

— Espero que você me valorize mais, passei por cima dos meus princípios por você. Por te amar tanto. Nenhuma mulher devia passar por tudo o que eu passei, fui humilhada da maneira mais cruel — cochicho

— Não meu amor. Juro-te que jamais vai voltar a acontecer. Eu te amo, te amo tanto — ele se vira de lado e me abraça mais forte — Não quero passar por essa sensação de quase te perder nunca mais, serei o homem que você merece. Eu juro! — sinto sua respiração pertinho da minha boca, ele traz seus lábios até os meus. Um beijo amável é depositado em meus lábios. Eu te amo mais do que você pode imaginar ou medir Michael.

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