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Capítulo 10: Propagação do caos

Finalmente deixou de evitar o colégio. Havia passado dois dias longe, e se possível ficaria mais três, quatro, quem sabe um mês, porque ele realmente não sentia vontade de voltar a frequentar o lugar. Talvez houvesse deixado seus amigos preocupados, talvez não fosse reprovar mais uma vez, porém eram apenas detalhes que ele não se importava.

Wooyoung não estava bem.

E ninguém enxergava isso.

Arrastou o corpo até a parte de trás da construção antiga, se permitindo sentar sob a calçada e suspirar pesadamente, esvaziando o peito que não parecia ter nada há muito tempo. Olhou aos arredores, para as poucas árvores, as pichações que estampavam frases sem sentido, e por um minuto desejou fechar os olhos e se tornar invisível.

O som do motor não foi o suficiente para tirá-lo de seus devaneios longínquos. Não notou o carro importado estacionado bem em sua frente, e somente se deu conta de que alguém se aproximava quando a respiração pesada ecoou próximo, mas tão próximo que ele poderia jurar que era para existir alguém sentado bem ao seu lado.

Crispou os lábios, fechou os olhos e repensou mais uma vez em qual decisão deveria tomar.

— Achei que não fosse vir aqui hoje. — apontou para o céu nebuloso, denunciando que logo cairia um "pé d'água". — Vai chover.

— Eu estou de carro. — San sorriu. — Isso não faz diferença para mim.

— Ah, entendi.

San esperava ouvir algo como um deboche, o cinismo que exalava daquele garoto que hoje não estava com sua habitual jaqueta, e sim com um moletom cinza. Não estava tão frio, porém para ele parecia cair gelo. Contudo, não era mesmo de sua conta saber o que havia acontecido para Wooyoung estar tão desanimado.

— Pensou no que eu te disse? — San perguntou, Wooyoung assentiu. — E...?

Não que estivesse ansioso para saber a resposta; esperava que Wooyoung continuaria o enrolando até quando pudesse, então se preparou psicologicamente para ser resistente. Imaginou que ele fosse pedir mais tempo, mais dinheiro ou o encher de perguntas que, muito provavelmente, não gostaria de responder.

Pois eram os seus assuntos.

Em contrapartida, a cabeça de Wooyoung não estava funcionando muito bem naquela semana em específico. Ele sentia seu peito cheio de um vazio enorme, como se ali houvesse uma lacuna. Os seus sentimentos pareciam dar-se por ausentes ou haviam se tornado tão minúsculos perante a pressão de sua própria mente, que já não notava-os mais. Estava com dor de cabeça, incomodado com algo alfinetando seu âmago dizendo-o que era um péssimo dia para sair da cama.

O frio que sentia sequer existia.

— Eu aceito. — não estava em condições de tomar decisões, mas estava tomando aquela sem demonstrar hesitação. — Não tenho nada a perder de qualquer forma.

San se viu surpreso. Ergueu as duas sobrancelhas, abriu e fechou a boca, se perguntando o que deveria dizer já que nunca tinha chegado naquela parte em seus planos. Se mexeu, enfiando uma das mãos no bolso das calças e tirando dali uma carteira de cigarros de marca cara, arremessando-a para Wooyoung que a pegou por reflexo.

— Eu peguei esses do meu pai. Ele sempre deixa uma cartela junto de um isqueiro antigo na sala de estar do andar de cima da minha casa. — falou após ver o outro analisando a embalagem. — Eu não fumo, mas ele sim, então acho que... Ah, enfim, é só um agrado.

— Valeu. — permaneceu com a face séria. — Eu posso te fazer uma pergunta?

— Talvez você possa. — cruzou os braços, esperando para que fosse ser mais um daqueles inquéritos para saber dos seus motivos ou algo mais íntimo.

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