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Capítulo 21: Presente de aniversário

Wooyoung, honestamente, agradecia por um dia em sua vida poder encontrar um pouco de paz. Seria breve e ele tinha plena convicção disso; de que logo aquele sossego momentâneo se dissiparia e tudo voltaria a ser o inferno que sempre foi, mas, naquele instante, ele decidiu não se importar.

Havia acabado de fugir do próprio aniversário — onde ninguém que ele queria estava presente, os convidados resumiam-se em seus familiares que ele odiava, alguns amigos de infância da vizinhança que seus pais insistiam em dizer que, sim, a amizade prevalece mesmo que Wooyoung não trocasse uma ou duas palavras com a maioria daquelas pessoas há anos. Taehyun deu uma rápida passada para entregar seu presente, dar-lhe um beijo e desejar um "feliz aniversário, cara, não destrua a sua casa antes do fim da festa", pois ele conseguia ver a raiva e o descontentamento no fundo dos olhos opacos do aniversariante do dia. E, olhando bem para Taehyun, era possível ver que ele não estava bem, a ausência de seu sorriso comparável ao sol de tão alegre e cheio de luz, trazia um sentimento horrendo para o peito de Wooyoung. No fim, não conseguiram conversar muito, pois ele precisava ir para o trabalho.

Nem Yeonjun, nem Soobin e nenhuma das pessoas que o coreano poderia cogitar para o salvar da maldita festa indesejada apareceram. Obviamente compreendia o motivo dos dois, mas no fundo achou que tudo poderia se resolver com um passe de mágica e as coisas voltariam para o seu habitual.

Estava chovendo, porém esse pequeno detalhe não foi capaz de impedi-lo de atravessar muitas ruas cheias de poças de água para sentar em um banco coberto, com vista para um pequeno chafariz que havia ali com a intenção de enfeitar a cidade. Confessava que o achava bonito, o anjo com uma das pernas levantada enquanto da boca emergia água o dava uma sensação um tanto nostálgica, remetendo-o à História que tanto odiava no colégio.

Tirou o caderno médio de dentro do casaco — onde escondia para que não molhasse —, uma lapiseira do bolso da calça e um cigarro do buraco fundo que tinha na jaqueta preta que vestia. Colocou um na boca e o outro no papel que o pedia para que começasse a traçar linhas, a ilustrar o que quer que ele quisesse ou... simplesmente continuasse a história em quadrinhos que tanto o representava.

Riu com o quanto aquilo soava infantil. Era uma mania que vinha desde criança, quando passava horas do seu dia desenhando para poder descarregar um pouco da criatividade que vinha como uma dádiva desde que nasceu. Ou quase isso.

O seu personagem o representava em diversos aspectos, e talvez fosse esse o principalmente ponto para não ter desistido de ilustrar o conto. Apesar dos meses anteriores terem sido complicados e houvessem arrancado o último suspiro de seu artista interior — ou autor, o que seja —, às vezes sentia que poderia ressuscitá-lo apenas para si. Precisava descarregar um pouco das emoções em algo, e o cigarro não estava mais sendo capaz de contê-las dentro do corpo, ou aliviar a ansiedade crescente.

Tragou enquanto começava a rabiscar, sorrindo com o resultado mesmo que ainda estivesse de baixo padrão por estar enferrujado. A chuva aumentava e ele agradecia internamente por ter uma cobertura acima de sua cabeça para protegê-lo.

Desejou que aquele dia reiniciasse e com isso pudesse ligar para Yeonjun, ou ir na casa dele, tentar convencê-lo de o perdoar. Yeonjun tinha todos os motivos do mundo para querer distância de Wooyoung, e deveria ter esse direito... se isso não estivesse matando Wooyoung por dentro. Ah, meio que... pensava em sua mente como um castelo de bloquinhos; enorme, complexa, com muros altos onde podia esconder monstros. Cada bloco era importante para sustentar o castelo, e a ausência de um poderia fazê-lo desmoronar, ou entortar para os lados... ou apenas deixar um espaço de algo faltando. Muitas consequências para um só imenso castelo.

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