11_ Não é fácil ser forte o tempo todo

4.1K 710 123
                                    

Tentei ignorar o ocorrido e focar na aula. Mônica já entrou soltando uma música, como sempre fazia, foi ao centro da sala e começou a se aquecer. Seguimos sua deixa, já nos posicionando espalhados pela sala.

Mônica demonstrou uma nova coreografia e eu me empolguei. Amava ver novas coreografias que eu em breve aprenderia. Era como uma dose instantânea de ânimo nas minhas veias.

Ela passou, repassou e passou novamente os passos. Depois de quase duas horas de aula, eu tinha conseguido aprender metade da música. Tinha um sorriso no rosto, mas em compensação, meu cabelo estava todo grudado na minha testa e no meu pescoço. Parecia que eu tinha acabado de sair de uma sessão de cárdio.

ㅡ Eu acho que eu vou morrer. ㅡ Íris se jogou no chão. Eu ainda estava com as mãos na cintura encarando o meu reflexo destroçado no espelho. ㅡ Por que eu faço isso? Não tem necessidade, né?

ㅡ Ai, meu Deus. Vai começar. ㅡ Ri voltando para o canto da sala para pegar minha garrafa de água.

ㅡ Começar o que?

ㅡ Todo fim de aula você começa a citar variados motivos para você não fazer essas aulas. Mas, você sabe tanto quanto eu que não vive sem a dança. ㅡ Assenti levando a garrafa até a boca e dando um gole.

ㅡ Sabe quem eu seria sem a dança? Uma garota sem dores, sem sofrimento e com o cabelo mais bonito. ㅡ Fiz uma careta. ㅡ Que? Eu sempre venho com o cabelo lindo e belo pra cá, mas sempre suo e ele vira um nojo. Sempre me pergunto se ele ficaria mais de um dia limpo se eu não me matasse aqui todo dia.

ㅡ Pessoal, lembrando que vamos ter a aula cultural aberta hoje daqui uns minutos. ㅡ Mônica anunciou antes de sair da sala. Olhei para Íris para ver sua reação e ela já estava sorrindo.

ㅡ O que você estava dizendo sobre odiar essas aulas mesmo? ㅡ Apertei os olhos.

ㅡ Eu? Eu estava dizendo que amo de paixão e não vivo sem. Agora vamos que temos uma aula cultural para participar. ㅡ Ri junto dela e saímos da sala. As aulas abertas culturais costumavam ser aulas para qualquer aluno da CA, seja do Street, do Ballet, do Jazz, etc. As aulas aconteciam numa sala enorme no térreo, e cada aula costumava ter o tema de um país ou algo parecido, como a que mencionei em que aprendemos uma música Twice.

ㅡ Ei... ㅡ Olhei em volta só agora dando falta dele. ㅡ Cadê o Kevin?

ㅡ Nossa, Sophia, você é uma péssima amiga. Se ele estivesse em perigo, você só ia notar quando ele já estivesse morto e enterrado. ㅡ Íris riu. ㅡ O Kevin avisou que não ia vir hoje. Disse que alguma coisa que ele comeu no parque ontem não fez bem pra ele. ㅡ Entramos no elevador. Paramos perto do espelho. Estávamos apenas esperando que as portas se fechassem, porém a bailarina que a Íris odeia entrou junto de uma amiga.

ㅡ Você nunca se interessou por essas aulas abertas. ㅡ A amiga dela comentou. Olhei para a cara de Íris e toquei seu braço para que ela ao menos disfarçasse a expressão de desgosto.

ㅡ E continuou não me interessando. Aula aberta é coisa para aluno que não tem como pagar as modalidades da CA. ㅡ Ela se virou para trás ignorando a nossa presença e se olhou no espelho, ajeitando o cabelo.

ㅡ Então, por que quer ir na de hoje?

ㅡ Por causa do Trevor, óbvio. ㅡ Ela revirou os olhos.

ㅡ Trevor?

ㅡ Trevor Sugg. ㅡ Ela voltou a olhar para a frente. ㅡ O cara gringo que veio do estúdio matriz na Califórnia. Ele vai estar nessa aula, ele é gato e eu quero dar boas vindas, se é que me entende.

Íris fingiu que ia vomitar e logo depois revirou os olhos. O elevador se abriu e as duas garotas saíram.

ㅡ Sei lá, me deu uma pena do gringo agora. ㅡ Íris falou fazendo um bico. Nós duas rimos e saímos do elevador, seguindo na mesma direção das garotas.

[...]

Alguns minutos da aula tinha se passado e eu resolvi ir encher minha garrafa d'água. Admito que eu não estava com sede por ter dançado muito, até porque eu nem tinha dançado nada ainda. Esse professor que estava dirigindo a aula estava usando dois alunos de exemplo, então o resto estava só observando desde o começo da aula.

Eu estava com sede de tanto rir com Íris. Acontece que a tal bailarina chegou na aula procurando o Trevor, mas ele não estava presente. Íris fez tantas piadas com isso que eu tive que me segurar para não ser chamada atenção.

Estava passando pelo corredor com a garrafa d'água na mão quando ouvi uma música vindo de uma das salas que tinha ali. Confusa e curiosa, segui a música que consegui identificar quando estava perto suficiente.

Under the influence do Chris Brown vinha de uma das portas que estava aberta. Cheguei um pouco mais perto, mas parei antes que chegasse a um ponto que ele pudesse me ver.

Trevor estava ali dentro. Ele estava dançando virado para o espelho que confia a parede da direita.

Parei na porta, me certificando de que ele não podia me ver, e apenas o observei. Ele dançava tão bem... Seus movimentos eram limpos, tinha tanta técnica e talento misturado que eu me senti hipnotizada. Suas expressões eram perfeitas; sua postura coincidia com seus passos perfeitamente pensados. Ele nem parecia real.

E o melhor é que ele fazia aquilo parecer tão fácil! Ele fazia sem esforço algum!

Quando a música terminou, ele apenas puxou o ar com força algumas vezes e caminhou para o outro lado da sala, se sentando no chão e apoiando as costas na parede.

ㅡ Não vai entrar? ㅡ Engoli em seco quando ouvi sua voz. Arregalei os olhos pensando se ele estava falando comigo, mas era óbvio que ele estava falando comigo.

Apertei os olhos sentindo a vergonha e entrei na sala. Ele ergueu os olhos na minha direção sem mudar a posição. Era possível ver o suor escorrendo por sua testa e chegando até o pescoço.

ㅡ Me desculpa, eu... ㅡ Tentei pensar em algo que não fosse " eu estava te espiando " . ㅡ Só ia beber água. ㅡ Eu sabia que isso não iria convencê-lo, e tive ainda mais certeza quando ele não disse nada, apenas continuou me encarando. Me encarou por longos segundos enquanto parecia pensar em algo. ㅡ Eu não... Queria te atrapalhar.

ㅡ Você está bem? ㅡ Fiquei confusa e surpresa com sua pergunta. Talvez porque eu estivesse esperando um xingamento ou sei lá.

ㅡ Se eu... ㅡ Minha careta o fez explicar sua pergunta repentina.

ㅡ Tirando aqui no estúdio, a última vez que te vi você não parecia bem. ㅡ Contraí os lábios quando entendi do que se tratava. Suspirei e me sentei no chão, apoiando as costas na parede. Parei praticamente de frente para ele, só que com vários metros de distância.

ㅡ Foi só um dia ruim. ㅡ Passei a mão na testa e puxei os fios do meu cabelo para trás. ㅡ Er... Meio que... Mexeram com minha autoconfiança e isso aflorou uma insegurança que eu já tinha. ㅡ Tentei não ser tão específica e dizer que eu tinha levado um fora.

ㅡ As vezes não é fácil ser forte o tempo todo. ㅡ Ele falou depois de uns segundos em silêncio. ㅡ Assim como o nosso corpo. A gente que o movimenta e exige muito dele, tende a achar que ele é indestrutível. Mas... Ele também precisa de descanso. As vezes ele nos faz sentir alguma dor para nos mostrar que precisamos ir com calma. ㅡ Prestei atenção e cada palavra sua. ㅡ É importante sermos confiantes e seguros de nós mesmos, mas um momento desses é como um descanso para que voltemos mais fortes. ㅡ Ele esticou as pernas, tocou a cabeça na parede e fechou os olhos. ㅡ Sempre que passar por um situação assim, veja como uma oportunidade de cuidar de si mesma e ficar mais forte.

Confesso que na hora eu não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas foi só comparar o Nicolas com uma dor no joelho que compreendi facilmente.

Acabei rindo sozinha da minha comparação, deixando Trevor confuso.

ㅡ Eu acho que faz todo sentido. ㅡ Falei ainda rindo. Trevor olhou para mim sem expressão, como se eu fosse uma completa maluca.

Eu continuei rindo e, segundos depois, ele começou a rir também. Provavelmente, de mim.

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora