Te Pedi para a Estrela Cadente

63_ Droga!

Entrei em casa com o meu interior em conflito. Meu coração implorava para que eu ligasse para Trevor e dissesse para ele esquecer o que eu havia dito a alguns minutos atrás. Para que eu falasse que eu não queria que ele fosse embora, que, na verdade, tudo que eu queria era que ele seguisse com o plano de comprar a CA daqui, para assim poder ficar ao lado dele.

Mas, minha razão me dizia o contrário. Minha razão me deixava em paz e com a consciência tranquila de que eu havia feito a coisa certa. Trevor havia recebido a proposta pela qual ele e o pai sempre sonharam. Assim como ele não quis me arrastar para os Estados Unidos, pensando em mim e nos meus sonhos, não posso arrasta-lo para cá sem pensar nele e nos sonhos dele.

Eu amo ele. Amo mesmo. Consigo sentir dentro de mim um sentimento muito forte sempre que penso nele. Forte o suficiente para conseguir viver um tempo longe dele, mas sabendo que ele está sendo feliz.

O meu celular começou a tocar. A essa altura eu já tinha tomado banho e estava preparando o meu jantar enquanto a televisão estava ligada, dando algum som à casa.

Sequei a minha mão e peguei o meu celular. Atendi quando vi que era a Íris. Deixei a chamada no viva voz e voltei minha atenção para a comida no fogão.

ㅡ Fala, to ouvindo. ㅡ Continuei mexendo o macarrão.

ㅡ Eu não sei o que fazer. To entrando em pânico! Acho que vou me mudar. Vou sair da CA. É isso. ㅡ Fiz uma careta quando ouvi ela dizer todas aquelas palavras de uma vez só.

ㅡ Íris? ㅡ Ela ficou em silêncio. ㅡ Respira. Que surto é esse? O que aconteceu?

ㅡ Eu não sei o que eu faço, Sophia! E isso é tudo culpa sua. ㅡ Ri do desespero dela e coloquei o filé de peixe sobre a tábua para tempera-lo.

ㅡ O que é culpa minha? ㅡ Cortei um limão ao meio e espremi metade dele sobre o peixe.

ㅡ Eu e o Kevin termos nos beijado. ㅡ Arqueei as sobrancelhas quando entendi.

ㅡ Então é disso que se trata? ㅡ Ri novamente. ㅡ Por que esse desespero todo?

ㅡ Eu não vou conseguir chegar na CA amanhã e olhar na cara dele. Tinha que ver agora pouco quando ele me deixou em casa. Estava um clima muito esquisito, nenhum de nós disse nada além de um boa noite muito constrangedor. ㅡ Ela suspirou e bufou logo depois. ㅡ To me sentindo uma idiota.

ㅡ Por que? Eu sei que eu quem empurrou, mas eu não te joguei na boca dele. Vocês se beijaram porque quiseram, e ele pareceu gostar muito. E... Você também.

ㅡ É, eu gostei. Mas... Sei lá. Somos amigos a tanto tempo, Sophia... Não sei o que fazer agora. Parece que tudo ficou estranho entre a gente.

ㅡ Eu acho que vocês só estão confusos. É normal. Mas, se se gostam, não tem porque ficar se sentindo desse jeito. Vai dar tudo certo, mesmo que tudo acabe numa piada idiota do Kevin. ㅡ Ela soltou uma risada.

ㅡ Acha que algo sério pode acontecer entre a gente?

ㅡ Você quer isso? ㅡ Encarei o celular esperando pela resposta. Ela ficou em silêncio por longos segundos, até finalmente responder:

ㅡ Eu acho que sim. Sei que... Que sempre fui totalmente contra quando o assunto era eu e o Kevin. Acho que é porque o Kevin não é exatamente o cara que eu imaginei para mim. Sempre idealizei um moreno alto com olhar sério, mas meio sarcástico. Não um cara de um metro e setenta, de cabelo castanho que tem o humor de uma criança de dez anos. ㅡ Ouvi um barulho na varanda da minha casa e olhei na direção da porta.

ㅡ Espera aí, Íris... ㅡ Fui até a janela, subi ajoelhada no sofá e olhei para a varanda. ㅡ Kevin? ㅡ Arregalei os olhos quando o vi pegando um vasinho de planta que tinha um cacto do chão.

ㅡ Oi, Sophia. Eu... Eu derrubei sem querer. ㅡ Fiz uma careta estranhando tudo aquilo, mas fui até a porta e acendi a luz da varanda antes de abrir a porta.

ㅡ Sophia? Ta tudo bem aí? ㅡ Ouvi a Íris no celular e Kevin ergueu o olhar para dentro da minha casa.

Deixei-o terminando de colocar a terra de volta dentro do vaso que ele derrubou e fui até o celular novamente.

ㅡ Íris, eu preciso desligar agora. ㅡ Peguei o celular. ㅡ Daqui a pouco te mando uma mensagem, ou conversamos amanhã na CA.

ㅡ Ta tudo bem?

ㅡ Ta, eu só preciso arrumar uma bagunça aqui. Um bicho entrou na minha varanda e derrubou um dos meus cactos. ㅡ Kevin fez uma careta para mim.

ㅡ Ta bom, depois nos falamos. ㅡ Ela desligou a camada e eu joguei o celular no sofá.

ㅡ Ta bom assim, eu varro o resto da terra amanhã. ㅡ Disse a ele. Kevin colocou o vaso de volta no lugar e eu dei espaço para que ele entrasse. Quando ele entrou, apontei para a porta do banheiro para ele lavar as mãos sujas de terra. ㅡ O que você está fazendo aqui? São quase onze horas da noite.

ㅡ Eu não sabia o que fazer. ㅡ Ele disse do banheiro. Me escorei na mesa e cruzei os braços. Tudo ficou em silêncio até ele sair do banheiro e olhar para mim com o olhar mais triste que eu já tinha visto nele. ㅡ Mas... Acho que agora eu sei.

ㅡ Do que tá falando, Kevin? ㅡ Me aproximei dele preocupada.

ㅡ Eu... ㅡ Ele colocou as mãos nos bolsos da frente da calça e encarou o chão. ㅡ Eu não soube reagir bem depois que a Íris e eu nos beijamos. Eu gosto dela a bastante tempo e... Esperei por esse momento a muito tempo, mas agora que aconteceu, eu agi feito um otário e deixei tudo estranho.

ㅡ Não fala assim... ㅡ Ele me interrompeu.

ㅡ Mas é a verdade. Que cara idiota beija a garota que gosta e depois não tem coragem de dizer uma palavra? Eu deixei ela em casa e só consegui dizer boa noite. Boa noite! Ela olhou para mim parecendo decepcionada, disse boa noite e entrou na casa dela. Eu sabia que tinha estragado tudo. Por isso vim pra cá. Eu não sabia mais com quem falar e só pensei em você, porque você é a que melhor conhece nós dois e... Sei lá, poderia me ajudar a ajeitar as coisas. ㅡ Ele esfregou o pescoço parecendo nervoso. ㅡ Mas... Você estava conversando com ela quando eu cheguei e eu ia bater na porta quando ela começou a falar que... Eu não sou o que ela imaginou para ela. Na verdade eu não sou nada a ver com o cara que ela descreveu ser o tipo dela.

ㅡ Kevin, não é isso, ela só...

ㅡ Ela disse com todas as palavras. ㅡ O vi fungar e percebi seus olhos já um pouco marejados. ㅡ Eu não quem ela quer. Eu vim aqui para tentar descobrir um jeito de consertar tudo e conseguir uma chance de verdade com ela, mas descobri que isso nunca vai acontecer. E... Foi bom. ㅡ Forçou um sorriso fraco. ㅡ Assim não me iludo e não importuno ela com um relacionamento que ela não quer.

Kevin foi para a porta e, em passos decididos, saiu andando pelo jardim até o portão.

ㅡ Kevin, espera! Você não entendeu, ela não... ㅡ Ele não me ouviu. Na verdade, acho que ouviu, só ignorou mesmo. Ele parecia triste e nervoso ao mesmo tempo, não o nervoso de bravo, mas o inquieto. ㅡ Droga!

•••
Continua...