67_ Com carinho, Sophia

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Vê-lo partir naquele avião doeu mais do que eu pensei que doeria. Parecia que meu coração estava sendo despedaçado, como se parte dele estivesse lá, planando dentro da aeronave. As lágrimas que banhavam meu rosto ardiam muito. Quase queimavam meu rosto. O meu estômago também estava doendo, eu estava literalmente passando mal.

Tudo começou a ficar escuro. O chão abaixo dos meus pés começou a rachar e eu caí. Caí num buraco imenso que não terminava. Eu só caía, caía e caía.

Foi quando abri os olhos e percebi que estava no meu quarto. Estava tudo meio escuro ainda, o que indicava que o sol não havia nascido.

Levei minhas mãos ao meu rosto e esfreguei os olhos. Odiava ter pesadelos. Ainda mais quando eles vão acontecer mesmo. Tirando a parte do chão do aeroporto desabar. Na verdade, eu nem iria até o aeroporto com ele. Queria poder ir. Se eu pudesse, iria até os Estados Unidos e o deixaria na porta de sua casa, mas eu não podia.

Eu morava no interior do Rio, o que significa que ele precisaria pegar um ônibus aqui para ir até a capital, onde pegaria o vôo. Como eu estou trabalhando de manhã, não posso viajar mais de uma hora de ônibus com ele até a capital.

Abri os olhos novamente e virei o meu corpo, de forma que eu pudesse vê-lo. Ele ainda estava dormindo. Sua respiração estava calma e ele parecia tão tranquilo...

Levei minha mão até seu cabelo e o acariciei devagar. Ele abriu os olhos e eu recolhi minha mão, me sentindo culpada por tê-lo acordado.

ㅡ Tudo bem? ㅡ Sua voz estava rouca e seus olhos um pouco inchados do sono.

ㅡ Uhum. ㅡ Me aconcheguei embaixo da coberta. ㅡ Só tive um pesadelo. ㅡ Trevor abriu um sorriso ainda sonolento e se aproximou. O mesmo me abraçou, como se quisesse me proteger. Como se eu dizer que tive um pesadelo fosse um sinal de que eu estava com medo e ele me abraçou para que eu me sentisse segura.

O pesadelo não me deixou com medo, mas o seu abraço realmente me fez sentir segura. Eu amava tanto os seus abraços... Ele não estava de moletom, mas o aconchego do seu abraço unido ao aconchego da minha cama fez aquele momento se tornar o mais perfeito do mundo.

[...]

Faziam vinte minutos que estávamos sentados na rodoviária esperando o ônibus dele. Ele estava atrasado quinze minutos e eu nunca fiquei tão feliz com um atraso. Por mais que eu fosse me atrasar para o meu trabalho, não estava me importando. Quanto mais minutos eu pudesse passar ao lado dele, mais eu aproveitaria.

Só que... Não estávamos falando nada. Estávamos sentados um ao lado do outro em silêncio durante os últimos vinte minutos. Acho que não tínhamos muito o que dizer. Bem, se eu dissesse alguma coisa, eu choraria. E não quero chorar. Quero que Trevor viaje com o meu semblante feliz na cabeça, sem se sentir mal ou coisa do tipo.

Quando o ônibus finalmente apareceu e parou na nossa frente, foi o momento em que meu coração se partiu. Ele não se partiu no sentido de ser machucado, mas se partiu pois metade dele ia embora com Trevor agora.

ㅡ Eu te amo. ㅡ Foi tudo o que ele me disse antes de me dar um último beijo e um último abraço. E eu não poderia querer ouvir mais nada.

ㅡ Eu te amo. ㅡ Acenei para ele quando ele passou pela porta do ônibus e se sentou em seu lugar.

As pessoas foram entrando no ônibus e eu continuei parada ali, apenas olhando para ele. Depois que eles entraram e o ônibus fechou suas portas, me lembrei da carta que eu tinha escrito para ele.

Abri minha bolsa correndo antes que o motorista saísse com o ônibus e vasculhei tudo dentro dela até achar a carta.

Quando a encontrei, o ônibus começou a andar.

ㅡ Trevor!! ㅡ Gritei por ele e ele me olhou pela janela. Andei um pouco mais rápido e estiquei o meu braço o máximo que pude com a carta na mão.

Trevor abriu a janela e esticou seu braço para fora. Com muito custo ele conseguiu pegar e eu senti o alívio tomar o meu peito. Ele acenou pela janela e eu acenei de volta.

ㅡ Seja feliz, Trevor. ㅡ Pedi encarando o ônibus que já se afastava o suficiente para eu já não conseguisse mais vê-lo.

( Narrado por Trevor )

Encarei aquela carta em mãos sem entender o que era. Estava curioso, mas estava com medo também. E se fosse algo ruim? E se ela estivesse, sei lá, terminando comigo? Vai ver ela não teve coragem pessoalmente e deixou para me dizer agora.

Apertei a carta em minhas mãos e fechei os olhos.

Eu não tinha porquê pensar essas coisas. A Sophia não faria isso comigo. Não tem motivo, pelo menos eu acho. Eu a amo e fiz tudo para demonstrar isso, né? Ou será que vacilei em algo?

Balancei a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos paranóicos e abri a carta de uma vez. Porém, antes de lê-la, encarei a janela. Eu sabia que era meio dependente dela. Eu me apaixonei pela Sophia de tal forma que as vezes sinto que a amo mais do que amo a mim mesmo.

Não vejo problema algum em ama-la demais, só que... Acho que preciso aprender a me amar também. Ao menos me respeitar e parar de me sentir um lixo por conta das minhas atitudes passadas. Sei que fui um tremendo babaca, que não fui o filho que o meu pai merecia e me arrependo disso amargamente, mas talvez seja hora de superar de verdade.

A Sophia foi a minha cura. Ela conseguiu me fazer parar de pensar tanto nisso e ocupou o buraco que se abriu no meu peito quando meu pai se foi. Mas... Eu ainda preciso me perdoar. Preciso conseguir ser feliz com ou sem a Sophia.

O que não significa que quero viver sem ela, pois não quero.

É só que eu estava vendo essa distância dela como a pior coisa do mundo, quando pode me fazer bem. Quando a Sophia e eu ficarmos juntos de novo, serei uma pessoa melhor. Serei um homem melhor. Serei alguém feliz de verdade e só aí poderei fazê-la feliz também.

Voltei meus olhos para a carta na minha mão e comecei a lê-la.

" Querido Trevor, se você está lendo isso, significa que você realmente foi embora. Nós dois sabíamos que isso iria acontecer um dia e foi exatamente por isso que você não quis se relacionar comigo, para começo de conversa. Você sabia que me machucaria. Sabia que eu me apaixonaria por você e que ficaria com o coração em pedaços quando você fosse embora. Só que... Não é bem isso que vai acontecer. É claro que vou ficar triste, talvez um pouco arrasada ao ponto de chorar vendo algum romance bobo enquanto devoro um pote de sorvete, mas nada tão absurdo.
Sabe por que? Porque eu não só me apaixonei por você, como aprendi a amar com você. Trevor, não tem como eu me sentir despedaçada sabendo que você está partindo para seguir os seus sonhos e ser feliz.
Eu sempre tive uma visão meio distorcida do amor, afinal, minha mãe dizia que me amava. Na verdade, chegou um ponto da minha vida que eu até me questionava se eu realmente tinha coração e se seria capaz de criar sentimentos por alguém.
Você me mostrou que sim. Você entrou na minha vida do nada, pedindo um café um inglês, e mostrou que eu poderia criar em mim sentimento tão puro e tão real que as vezes eu choro por lembrar que hoje sei amar.
Sei que ficarmos longe um do outro será difícil, mas vamos tentar ver como formas de crescermos como pessoa e evoluirmos. Nós dois somos machucados por nossos passados e nós dois merecemos superar isso e poder viver em paz.
Te acompanharei nas redes sociais, responderei cada mensagem sua, te escreverei sempre que eu puder e estarei torcendo pelo seu sucesso... Até que eu possa acompanhar tudo de perto, do seu lado.
Eu te amo, Trevor.
E amo amar você.

Com carinho, Sophia. "

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora