27_ Droga de insegurança!

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A tarde foi chegando e eu decidi sair da piscina e ir tomar um banho. Por que fiz isso se estava me divertindo na piscina? Me lembrei que eu tinha uma coreografia para fazer e um vídeo para gravar, e eu não era lá muito rápida em coreografar.

Coloquei água do chuveiro no morno e deixei que ela molhasse o meu cabelo. Fechei os olhos sentindo a água escorrer por meu corpo e ouvi risadas. O banheiro que eu estava, que era o do andar de cima, ficava bem perto da piscina, assim eu conseguia ouvir quando o pessoal falava algo alto lá embaixo.

Ouvi perfeitamente quando começaram a rir. O que me impressionou foi como consegui diferenciar a risada do Trevor entre as demais. E também como a risada dele abriu um sorriso no meu rosto sem eu nem perceber.

Parei de sorrir quando me dei conta de que estava igual uma boba rindo sozinha e voltei a tomar o meu banho. Lavei o cabelo, saí do chuveiro, me sequei, me vesti e saí do banheiro. Fui direto para o quarto e peguei o celular. Eu ainda não sabia onde iria ensaiar, mas decidi dar uma escutada na música antes de procurar um canto da casa.

Notificações em excesso chamaram minha atenção até o Instagram. Abri o aplicativo já estranhando o tanto de publicações que me mencionava e entrei no perfil.

Eu estava sentada na beirada na cama, mas me levantei quando vi o perfil e as postagens.

" Sophia, a aspirante a dançarina que tem duas caras "

Pensei estar lendo ou enxergando errado. Era isso mesmo?? Criaram um perfil para falar mal de mim?? Sério??

As postagens variavam de vídeos meus errando em apresentações até prints de tweets de pessoas falando mal de mim.

" Fiz uma aula experimental com ela uma vez e ela me tratou super mal. Na frente dos amigos ela é super gente boa, mas quando ficou sozinha comigo disse que eu jamais seria como ela e que eu dançava super mal. Fiquei super magoada. "

" Eu disse que gostava dela e ela disse que jamais ficaria com alguém como eu, porque ela está muito a cima de mim. Achei super metida e prepotente. "

" Sempre que passa por mim no estúdio ela esbarra como se não estivesse me vendo e manda eu olhar por onde ando. Ela é ridícula! Se acha a tal! "

" Vi ela dançando uma vez e não foi tudo isso não. Se acha demais para quem dança desse jeito. Já vi tiktoks com dança melhor que a dela. "

" Aposto que ela pagou para entrar na CA, porque talento não tem. "

" Estudamos juntas e ela passou na mão de todos os caras da sala. Todas as meninas odiavam ela. "

" Fiquei com ela uma vez e tomei gaia. "

" Ela fica postando nos storys como a rotina dela é produtiva mas é tudo mentira. Ela é uma falsa! "

Eu não sabia exatamente como reagir ou o que sentir. A verdade é que eu estava começando a ter uma crise, porque as emoções não eram o meu forte e eu estava sentindo várias de uma vez. Eu estava com raiva por terem criado um perfil só para falar de mim, estava desacreditada por terem tirado um tempo da vida deles só para isso e estava triste por saber que existiam tantas pessoas que me odiavam daquele jeito.

Li os tweets e cheguei até a me perguntar se eu realmente era grossa assim com as pessoas e nunca percebi.

Meus olhos começaram a arder e eu senti vontade de chorar. Sempre fui uma pessoa que tenta estar de bem com a vida, por isso acordo cedo, por isso cuido do meu corpo, por isso tento ser saudável, por isso tento ser gentil, por isso tento ser paciente. Ver uma situação daquela ser jogada na minha cara foi uma tremenda injustiça, eu nunca esbarrei em ninguém e mandei olhar por onde anda.

Eu só tive um namorado em toda minha vida, nunca passei pela mão de ninguém! Por que estavam inventando aquilo?

Porém, os que mais me machucavam eram os que falavam da minha dança. Os que falavam que eu era péssima, que não servia para aquilo.

Droga de insegurança!

Uma lágrima escorreu queimando a minha bochecha e eu joguei o celular na cama. Tapei o rosto com as duas mãos e tentei não chorar mais, mas não consegui. O choro já estava entalado na minha garganta quando eu deixei sair.

Me sentei no chão e encostei as costas na cama. Encolhi as pernas e as abracei. Tentei puxar o ar para meus pulmões, mas estava difícil, parecia arder quando o oxigênio entrava pelas minhas narinas.

ㅡ Sophia? ㅡ Ouvi alguém chamar pelo meu nome na porta e olhei na direção. Era um dos gêmeos, acho que o Vitor. Ele arregalou os olhos quando percebeu que eu estava chorando e veio até mim. ㅡ O que foi? O que aconteceu? Você se machucou? Ta morrendo? É coisa de mulher? ㅡ Ele começou a olhar de um lado para o outro sem saber o que fazer e eu estava ocupada demais chorando para responder. ㅡ Ai, o que eu faço? ㅡ Ele colocou as duas mãos na cabeça, mas olhou para a porta quando ouvimos passos. Não demorou nem um segundo e ele correu na direção da porta. ㅡ Trevor! Vem cá! A Sophia ta passando mal!

Eu não sei a que distância da porta Trevor estava, mas ele chegou rápido como se tivesse corrido assim que escutou o que Vitor disse.

Trevor apareceu na porta do quarto com os olhos alarmados e correu até mim já se abaixando na minha frente.

ㅡ Eu... Eu vou chamar a Íris. ㅡ Vitor correu para fora do quarto nos deixando sozinhos.

ㅡ O que foi? O que você está sentindo? ㅡ Ele me checou como se procurasse machucados. Me sentia patética por estar me sentindo daquela forma por conta da insegurança. Mas era verdade. No momento, me sentia um lixo. Um lixo porque pessoas disseram que sou péssima numa das únicas coisas que me considero boa. 

Trevor olhou pelo quarto e parou os olhos em cima da cama. Ele franziu as sobrancelhas e se levantou. Olhei para trás e o vi olhando para a tela do meu celular.

Me levantei na hora e fui até ele. Segurei o celular em suas mãos, o que atraiu o olhar dele para mim. Não sei dizer ao certo o que seus olhos mostravam, mas tenho quase certeza de que era raiva. Ele estava com raiva. Do que ele estava com raiva? Será que estava com raiva de mim? Será que acreditou no que estava naqueles posts? E se ele acreditou e agora pensa que sou uma cretina? E se...

Meus pensamentos foram interrompidos quando Trevor abaixou o celular e me puxou com seu outro braço. Ele me envolveu em seu abraço quente e só naquele momento notei que ele já havia trocado a roupa molhada da piscina, por isso já estava no corredor quando Vitor o chamou.

Meu rosto tocou o peito dele e ele apoiou o queixo em cima da minha cabeça. Sua outra mão apertava com força o meu celular enquanto a outra me abraçava com cuidado.

Era isso. Eu me sentia segura ali.

Eu ainda estava com lágrimas nos olhos, mas senti meu coração se acalmar a medida que escutava o dele bater.

ㅡ Não chora, Sophia. Nenhuma dessas pessoas merece o seu choro. ㅡ Ele deixou o celular sobre a cama e me abraçou com os dois braços. Retribui o abraço e fechei os olhos. Puxei o ar com força e soltei como um alívio.

Senti que o sentimento que eu estava alimentando por ele apenas aumentou naquele momento. Era estranho... Trevor parecia até o meu lar. O meu lar que estava andando por aí e eu finalmente tinha encontrado.

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora