23_ A menina e o porquinho

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Fazia cerca de duas horas que eu estava na casa do Trevor e a luz ainda não tinha voltado. Sem contar que a chuva não dava trégua e isso só colaborou para alagar as ruas da cidade.

Assim que percebemos que eu não poderia sair de sua casa tão cedo, ele me emprestou umas roupas suas para que eu não ficasse de roupão. Uma calça de moletom que consegui regular a cintura com a cordinha e uma blusa que quase bateu no meu joelho.

Não vou mentir, eu estava amando usar uma roupa que tinha o cheiro dele.

Durante essas duas horas ficamos brincando com seus cachorros. Eles eram tão espertos! Nós brincamos de esconde-esconde e fiquei admirada como todos eles se escondiam mesmo e faziam o maior alarde quando eram encontrados. A hora passou tão rápido durante as brincadeiras que só percebemos quando nos jogamos no sofá cansados.

ㅡ Eu queria tanto ter um cachorro... ㅡ Acariciei o dálmata que se deitou ao meu lado e apoiou a cabeça no meu colo. Nesse momento eu estava sentada no tapete felpudo que tinha na frente do sofá.

ㅡ Por que não pode? ㅡ Trevor perguntou. Ele estava sentado no sofá, mas desceu e se sentou no tapete quando fez a pergunta. Tinha tanto cachorro deitado ali que mal se via o tapete.

ㅡ Minha casa é pequena e alugada, meu locatário não permite animais e eu não paro muito em casa. Não é um bom momento e nem um bom lugar para criar um bichinho. ㅡ Continuei acariciando o cachorro.

ㅡ Bom... Quando quiser a companhia de algum cachorro, é bem vinda aqui. ㅡ Ele sorriu. ㅡ Tem de sobra.

ㅡ Por que você tem tantos? ㅡ Olhei para ele curiosa.

ㅡ Eu não sei. ㅡ Deu com os ombros e olhou para os bichos. ㅡ Costumo visitar canis por onde passo e não consigo sair sem um. Alguns eu achei na rua ainda pequenos... ㅡ Passou a mão em um vira-lata. ㅡ Outros são de pessoas que a fêmea deu cria e não tinham como ficar. Como essa... ㅡ Indicou um salsicha que ainda era bem novinho. ㅡ Fui buscar ela assim que cheguei na cidade, uns três ou quatro dias depois de ter me mudado. Foi quando... ㅡ Ele me olhou e franziu as sobrancelhas. ㅡ Foi quando encontrei com você.

ㅡ Comigo? Quando?

ㅡ O dia que você estava chorando. ㅡ Encarei o cachorro que ainda tinha a cabeça apoiada no meu colo e me senti patética por aquela noite. ㅡ Eu estava indo buscar a So... ㅡ Ele parou de falar e mordeu o lábio inferior. Riu antes de continuar sua frase: ㅡ Acreditaria se eu dissesse que o rapaz que era dono dela a batizou de Sophia?

ㅡ É sério? ㅡ Arregalei os olhos. Trevor riu enquanto assentia. ㅡ Acreditaria se eu dissesse que o cachorro da minha mãe se chama Trevor?

ㅡ Ta falando sério? ㅡ Ele voltou a rir.

ㅡ Seríssimo. ㅡ Ri também.

Não sei ao certo quantos segundos ficamos rindo juntos, mas quando me dei conta, estávamos apenas sorrindo um para o outro. O momento foi cortado pela energia que voltou de repente.

Algumas luzes da casa de acenderam, alguns cachorros se levantaram e o alarme ao lado da porta ligou. Porém, a chuva continuava lá fora e certamente ainda haviam ruas alagadas. O que significa que eu ainda não poderia sair dali.

O mais estranho de tudo aquilo era que eu não estava incomodada. Em geral, não gosto de perder tempo. Meu dia é bem calculado e planejado, tudo para que seja o mais produtivo possível. Quando fico atoa, me sinto péssima. Parece que estou sendo preguiçosa ou que estou procrastinando. Mas... Não me sentia assim naquele momento. De alguma forma, ficar horas na casa de um cara apenas brincando com os cachorros dele e conversando com ele não me pareceu uma enorme perda de tempo.

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora