42_ Sorry

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Estava sol, a rua estava repleta de adultos, políticos e estudantes passando de um lado para o outro. Vendedores de balões gritavam, bandas de escolas passavam tocando, pais orgulhosos filmavam e tiravam fotos de seus filhos desfilando e desmaiando no sol.

Graças a Deus a CA dançaria no palco montado. Palco esse que tinha sombra, se não a minha pressão ia parar no chão também.

ㅡ Ai, eu tô tão animada! ㅡ Íris deu uns pulinhos de alegria. ㅡ Ali os meninos. ㅡ Apontou para trás de mim. A CA era no centro da cidade, então fomos a pé mesmo para o desfile, só que as meninas vieram na frente e os rapazes vieram um pouco depois.

Olhei para trás avistando apenas um monte de pessoas aglomeradas. Contudo, lá estava ele. Trevor. Ele estava tão bonito usando a roupa da dança que minha pressão quase foi mesmo. Achei impressionante como consegui enxerga-lo no meio das pessoas com tanta facilidade. Ele estava rindo junto com Kevin. Nunca fui tão grata por Kevin ser engraçado. Eu amava tanto vê-lo rir.

ㅡ Ai, amiga, você está tão apaixonada... ㅡ Íris tirou a minha atenção antes que ele pudesse chegar a mim.

ㅡ Por que ta falando isso? ㅡ Franzi as sobrancelhas.

ㅡ Dá para ver pelo seu jeito de olhar para ele. ㅡ Ela sorriu para o lado e percebi que eles tinham chegado até nós. Trevor sorriu para mim. ㅡ E dá para ver pelo jeito dele olhar pra você também. ㅡ Sussurrou no meu ouvido. Na verdade, ela nem precisava sussurrar. Aquilo estava uma barulheira tamanha que ela precisaria gritar para eles escutarem.

ㅡ E aí? To bonitão? ㅡ Kevin deu um giro com os braços meio abertos.

ㅡ Não exagera. Está no máximo ajeitadinho. ㅡ Ela falou alto para que ele escutasse. Kevin fez uma careta e ameaçou pega-la, mas ela correu escarrando num monte de gente e ele foi atrás.

" Sozinhos "

ㅡ O que você queria me dizer? ㅡ Perguntei primeiro. Admito que estava bem curiosa.

ㅡ Ah... ㅡ Trevor abaixou a cabeça com um sorriso sem jeito, mas logo voltou a olhar para mim. ㅡ Eu não sei se te falo agora, porque ainda não tenho certeza e... ㅡ Ele foi interrompido novamente, dessa vez por Mônica.

ㅡ Vamos, vamos, vamos. É a nossa vez. ㅡ Mônica empurrou nossos ombros na direção do palco e assim seguimos sem outra escolha.

Paramos ao lado da escada que dava para o palco enquanto o prefeito da cidade dizia algo no microfone. Mônica foi juntando todo mundo da apresentação atrás de nós e eu fechei os meus olhos para fazer o meu pequeno " ritual ".

Contei até cinco bem devagar e estalei os dedos duas vezes. Abri os olhos logo depois e percebi que Trevor estava me olhando.

ㅡ Me deixa menos nervosa. ㅡ Respondi com um sorriso nervoso.

Trevor riu, balançou a cabeça, me puxou para ele me abraçando de lado e me deu um beijo na cabeça. Tudo isso foi tão inesperado para mim que arregalei os olhos.

ㅡ Você sabe que é a melhor daqui. ㅡ Não consegui dizer que era mentira, porque estava extasiada pela alegria que senti. Eu não podia estar mais feliz.

O prefeito anunciou a CA e nós subimos. Paramos nas posições em cima do palco e olhei pelas pessoas. Geralmente eu procuraria por meus pais, mas por conta do feriado, eles não estavam na cidade.

Sorry do Justin Bieber começou a tocar e nós começamos a dançar.

Eu, definitivamente, amava aquilo. Sempre que eu dançava, sentia que era para aquilo que eu tinha nascido. Não consigo me imaginar fazendo nada diferente.

A sensação de estar num palco dançando uma música tão movimentada e que ensaiamos por toda a semana era revigorante. Eu me sentia viva. Sentia que tudo valia a pena. Todos os sorrisos que dei durante a apresentação foram todos tão sinceros...

A música se seguiu, nós dançamos com toda energia que tínhamos, se não a Mônica matava a gente depois, e assim que terminou, senti que o meu pulmão estava completamente sem ar. Mesmo que estivesse sombra no palco, agora suávamos e morríamos de calor como se tivéssemos dançado no sol.

Agradecemos nos curvando e estávamos prestes a sair do palco, mas o prefeito pediu que ficássemos e chamou a Mônica e o diretor da CA em cima do palco para falarem um pouco sobre o estúdio.

Paramos em fila, um ao lado do outro, sobre o palco só se via dançarinos tentando se abanar com suas camisas e mãos. Minha garganta estava completamente seca e tudo que eu queria era roubar a garrafa de água gelada que estava na mão de uma criança no meio das pessoas.

O diretor da CA começou a falar sobre o estúdio, sobre os eventos que participamos e sobre como as crianças, jovens e adultos da cidade que tiverem interesse, podem fazer uma audição para entrar na CA.

Passei os olhos pelas pessoas tentando recuperar o fôlego para meus pulmões. Olhei para o lado,  Trevor não estava ao meu lado na fila, tinha umas duas pessoas entre nós, mas ele se inclinou um pouco para a frente, abriu um sorriso e piscou para mim.

Voltei à minha postura normal sentindo meu rosto quente. Não sei se era por corar ou pelo calor mesmo.

Puxei a gola da minha blusa, abanando-a um pouco. Assoprei por debaixo dela também. Estava  com tanto calor que pensei que poderia mesmo desmaiar.

Continuei olhando para as pessoas na rua. Meu coração pareceu que ia parar quando vi uma pessoa no meio de toda aquela multidão. Ela vestia uma blusa desbotada e um jeans velho, nada a ver com o modo elegante que sempre andou a vida inteira. Seus cabelos não estavam hidratados e muito menos com o corte em dia. Sua postura já não era tão prepotente e seu rosto não estava com a maquiagem marcante que ela usava juntamente de um batom vermelho. Ela parecia outra pessoa, porém, seu olhar ainda parecia o mesmo olhar impiedoso e cruel.

Senti o medo correr por minhas veias. Meus olhos começaram a lacrimejar e meu corpo a dar pequenos passos amedrontados para trás.

Uma lágrima escorreu por meu olho direito e um arrepio me percorreu no instante em que ela sorriu.

Era minha mãe? O que ela estava fazendo ali? Quando saiu da cadeia? O que ela queria?

ㅡ Não... ㅡ Minha voz mal saiu.

Continuei dando passos para trás. As pessoas que estavam ao meu lado na fila olharam para mim confusos, mas não tive tempo de explicar ou sequer parar. Só senti quando pisei errado e tudo ficou escuro.

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora